Em Nossa
Senhora do Sagrado Coração (1884 p4 e 1895 p.3) o Padre Chevalier escreve: esta
obra a congregação dos MSC – cresceu no meio de obstáculos sempre
remanescentes, e sempre felizmente derrubados por sua poderosa protetora que
parecia a justo titulo reclamar o cumprimento da promessa. Mas lá se encontrava
a dificuldade. Como fazer honrar Maria de Maneira especial? Que novo título lhe
dar? Que homenagem prestar-lhe já que não tivesse recebido nos séculos
precedentes? Mas quando Deus quer uma obra, os próprios obstáculos tornam-se
meios!
Em 1885, no
domingo 9 de setembro, festa do Santo nome de Maria, os missionários eram
instalados pelo Padre Caillaud, vigário delegado do Cardeal Dupond, arcebispo
de Bourges, impedido pela doença. Recebiam oficialmente naquele dia o título de
Missionários do Sagrado Coração de
Jesus.
Naquele dia,
desejosos de testemunhar a Maria seu amor e gratidão, deram-lhe, em pensamento,
o nome de Nossa Senhora do Sagrado oração de Jesus. Foi então que conceberam o
projeto de dedicar o altar da Virgem a Nossa Senhora do Sagrado Coração, e de
fazer representar Maria invocada sob esse título num vitral. Em 1860 esse altar
e esse vitral foram colocados na inauguração da primeira parte do novo
santuário. Portanto, segundo essa versão, a origem remota do título se encontra
na novena de 1854. O nome mesmo ou pelo menos a promessa veio ao Padre
Chevalier em setembro de 1855, mas somente em pensamento.
Em o Poder
de Nossa Senhora, Padre Chevalier, 1921, p. 16: de repente, o Padre Chevalier,
silencioso e sonhador, após alguns instantes, interrogam seus confrades: “sob
que vocábulo colocaremos o altar da Virgem em nosso santuário? E cada um,
tomado de improviso, respondeu um pouco ao acaso e conforme seu gosto
particular... Não! Não! Os senhores não acertaram, responde sorrindo o R Padre.
Em nossa futura Igreja, o altar de Maria será dedicado a Nossa Senhora do
Sagrado Coração, exclama alguns, mas é uma novidade!... Em matéria de devoção,
nos convém inovação! Novidade! Talvez! Retoma o Padre Chevalier, contudo, não
tanto e nem como pensais...
É preciso
dizer que a paternidade mesma do título foi disputada ao Padre Chevalier, Roma,
sobretudo a propósito da extensão do
sentido dado ao título de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Qual era
exatamente o poder de Maria sobre o Coração de seu Filho Jesus? Todo poderosa é
o poder materno. Isso com disputa de interesses vão
provocar uma série de litígios com Roma. Nenhuma duvida de que todas essas
dificuldades moderaram fortemente a extensão da devoção a Nossa Senhora do
Sagrado Coração no mundo.
Sentido do
titulo: largo ou estrito?
Pela historia
religiosa de Issoudun do Padre Chevalier, sabe-se que Maria foi invocada em
Issoudun, sob o titulo de Nossa Senhora
do Grande Poder, e sob o titulo de Nossa Senhora de Todas as Graças!
1.
Maria
considerada em suas relações com o coração de Jesus (cf. os vitrais originais
da capela de NSSC).
2.
Maria
considerada em suas relações com o Coração de seu Filho, mas, sobretudo como
TAESOUREIRA de seu coração e MEDIADORA toda poderosa junto a esse divino
Coração.
3.
Maria
considerada ANTES DE TUDO COMO TESOUREIRA, permanecendo todo o resto
verdadeiramente em segundo plano.
De fato a pratica atual de Issoudun nunca olha Maria
sem olhar ao mesmo tempo o menino. Rezamos certamente a Maria, mas rezamos,
sobretudo COM MARIA. A primeira idéia do Padre Chevalier a respeito da devoção
a Nossa Senhora do Sagrado Coração era muito larga: ele diz no livro “O poder
de Nossa Senhora do Sagrado coração”, de 1921, p.16: deixe-me primeiro
expor-lhes minhas idéias ao pronunciar este nome.
- Agradecemos, glorificamos a Deus por ter escolhido
Maria entre todas as criaturas, a fim de formar, em seu seio virginal e com sua
mais pura substancia, o coração adorável de Jesus. (Maria, causa efficiens
Cordis Jesu) Ele te escolheu por mãe!
- Honramos especialmente os sentimentos de amor, de
humilde submissão, de respeito filial que Jesus nutriu em seu coração para com
sua mãe Santíssima. (Maria, objectus amoris e pietatis Jesu).
- reconhecemos, por titulo especial que resume, de
algum modo, todos os seu demais títulos, o inefável poder que o doce Salvador lhe deu sobre seu
adorável Coração. (Maria, Thesauraria Ssmi Cordis). Notemos que a expressão do
LEMBRAI-VOS não é portanto, do Padre Jouet!
- Suplicamos a esta Virgem compassiva, que ela mesma
nos conduza ao Coração de Jesus: que nos revele os mistérios (tesouros) de
misericórdia e de amor que ele encerra: que nos abra os tesouros de graças das
quais é a fonte inesgotável, e ela própria espalhe co suas mãos maternais,
sobre todos os que a invocarem, ou que forem recomendados à sua poderosa
intercessão (Maria, via ad Ssmi Cordis, magistra et adjutrix). Além disto, nós
nos uniremos a Nossa Mãe para glorificar o Coração de Jesus e reparar, com ela,
os ultrajes dos quais este divino coração é objeto da parte dos pecadores.
(Maria, laudatrix, et reparatrix Ssmi Cordis Jesu).
Enfim como o
poder de Maria ultrapasse tudo aquilo que nossa frágil razão pode conceber e
como Jesus ouve sempre as humildes suplicas e os desejos de sua Mãe, nós lhe
confiaremos o sucesso das causas difíceis e extremas ou desesperadas, tanto na
ordem espiritual como na temporal. (Maria, omnipotentis supplex, spes
desperantium).
Tudo isso,
acreditem sem duvida alguma, está contido nesta suave e graciosa invocação:
Nossa Senhora do Sagrado Coração, rogai por nós! Alias, estou convencido disto,
nossa boa mãe quer ser invocada e honrada sob esse novo titulo, e em nosso
Santuário! Assim, ela e com ela, glorificaremos o Coração de Jesus, cujo culto
e cujo amor propagaremos, conforme nossa divisa. Iremos ao Coração de Jesus por
Maria, sua Mãe. Ad Jesus per Mariam.
Está claro
aqui o objeto da devoção está estabelecido sobre a base mais larga possível.
Creio expressá-lo o mais fielmente possível esquematizando-o como segue:
·
O objeto material da devoção: Maria.
·
O objeto formal da devoção: todas as relações de Maria
com o Coração de Jesus.
Entre todas essas RELAÇÕES, algumas existem somente
entre Maria e o Coração de Jesus, e outras nos dizem respeito e podem-se
reduzir essencialmente a duas:
a) Cor Jesu ad
nos per Mariam (Maria Tesoureira).
b) Nos ad
Jesum per Mariam (seja na união ao Coração de Jesus, seja pela reparação).
Em tudo o que precede, a função de TESOUREIRA não
parece dominar as outras, mas é, em todos os casos, posta em evidencia
particular.
É claro que
no carisma do Pe. Chevalier, o coração de Cristo é o centro. Ele é a encarnação
do amor e da compaixão do Pai que cuida de todos, especialmente dos mais
necessitados. Desde o começo ele teve uma profunda relação com Maria. Para
saber se Deus queria realmente esta fundação, os padres Chevalier e Magenest
fizeram sua primeira novena a Nossa senhora. Essa novena terminou em 8 de
dezembro de 1854. Para superar as primeiras dificuldades, eles fizeram uma segunda novena Nossa Senhora, durante a
qual eles formularam a seguinte promessa: em reconhecimento a Maria, eles a
considerarão como sua fundadora e sua Rainha, a associarão a todas as suas
obras e a farão amada de uma maneira especial.
A ajuda
recebida de Nossa Senhora após cada uma dessas novenas foi uma profunda experiência
para o Pe. Fundador. Nossa Senhora lhe mostrava o caminho e o ajudava a
realizar seu projeto. E, quando mais
tarde, “em sua meditação, ele descobriu o titulo de Nossa Senhora do Sagrado
Coração”, ele experimenta isso também como grande graça de Deus, e ele canta os
louvores de Maria durante toda sua vida. O amor para com Nossa Senhora do
Sagrado Coração, parece ter sido bem cedo o coração mesmo da espiritualidade
pessoal do Pe. Chevalier. Em 1988, a administração geral MSC publicou uma carta
para fazer os confrades lembrarem do lugar importante de Maria na Igreja e em nossa própria
historia. Após o Vaticano II, a carta diz: eu desejaria sugerir em relação à
necessidade que temos de nos perguntar se em tudo temos dado suficiente atenção
ao aspecto Marial de nossa vida e de nossa missão na Igreja. Nós sabemos que há
exceções notáveis, mas podemos dizer honestamente que temos dado um lugar
especial a Maria nos desenvolvimentos
importantes que aconteceram desde o
Vaticano II? A fidelidade criativa em relação a nossas tradições, não pode
deixar de lado Nossa Senhora do Sagrado Coração e a promessa que lhe fez o
Fundador.
O que se tem
considerado no passado como uma devoção deve agora fazer parte integrante de
nossa espiritualidade do Coração. No seu artigo “Da devoção à espiritualidade”,
o Pe. Frank Fletcher escreve: no centro da experiência espiritual, dos desejos,
do estilo de vida e da missão do Pe. Chevalier havia a união de Maria com o
Coração de Jesus. Na linguagem atual, diríamos que Maria é um elemento
essencial na espiritualidade do coração do Pe. Chevalier. Entretanto, Julio
Chevalier não viveu num período onde se preocupava com o conjunto experiência
espiritual – estilo de vida – missão como espiritualidade. Insistia-se (no seu
tempo) acima de tudo sobre as formulas e as praticas fixas, por exemplo,
ajoelhar-se diante de uma imagem de um santo, acender uma vela, dizer-lhe uma
oração... Mas uma espiritualidade que brota do interior decorre de uma visão
central, engendra um estilo de vida e se adapta à situação. O Pe. Fletcher
continua: eu não penso que se possa exagerar a importante mudança operada pela
administração no fim dos anos 60, quando ela recomendava aos Missionários do
sagrado Coração privilegiar a espiritualidade do Coração acima das devoções ao
Sagrado Coração e a Nossa Senhora do Sagrado Coração. Ainda que Pe. Chevalier
tenha falado de devoções, ressalta claramente de sua vida e de seus escritos
que se trata de fato do centro vital de sua espiritualidade, de uma visão que
inspira uma missão sem fronteira. Um coração novo para um mundo novo. É verdade
que a linguagem do Pe. Chevalier pertencia à outra idade, mas sua visão é
sempre atual e deve ser expressa em um vocabulário adaptado a época atual e a
partir de uma perspectiva contemporânea.
Uma
apresentação renovada de Nossa senhora do Sagrado coração
Nos anos que se seguiram o Vaticano
II, o Pe. André Tostain, capelão da Basílica de Issoudun, e diretor dos Anais
Franceses, renovava a apresentação de Nossa Senhora do sagrado Coração. Ele
estava preparado para essa tarefa, tendo feito estudos especiais de Mariologia,
para tanto podia falar sobre o que se dizia de Nossa Senhora: durante o
Concilio ecumênico de 1962-1965, o Pe. A. Tostain seguiu atentamente o que o
Concilio ia dizer sobre Maria. Ele publicou nos anais o capitulo de Lumen
Gentium sobre Nossa Senhora e explicou o titulo “Mãe da Igreja” dado a Maria
pelo Papa Paulo VI, em 21 de novembro de 1964. Ele concluiu que a devoção a
Nossa Senhora do Sagrado Coração permanecia valida. Ele conseguiu aprofundar e
renovar a apresentação teológica dessa devoção graças ao seu conhecimento de
Teologia Bíblica.
Em 1966, os
Anais de Issoudun festejam 100 anos de existência e o Pe. A. Tostain aproveitou
a ocasião para oferecer uma meditação sobre Nossa Senhora do Sagrado Coração.
Ele fez um estudo da cena bíblica de (João 19, 25) – Maria ao pé da cruz –
servindo-se judiciosamente das descobertas bíblicas contemporâneas. O que lhe permitiria tratar a fundo do
mistério que viria a ser tema central: MARIA LEVANTA OS OLHOS PARA “AQUELE QUE
TRANSPASSARAM”. Para o Pe. A. Tostain, Nossa Senhora do Sagrado Coração é
primeiramente Maria elevando os olhos para o lado transpassado de seu Filho. A
partir deste ponto de vista, ele passa a examinar o mistério de Maria na sua
relação com o Coração de Jesus. Ele diz: aprofundando a devoção, poder-se-ia
mesmo dizer que uma excelente imagem de Nossa Senhora ao pé da cruz, mostrando
com uma mão a chaga do peito de Jesus Cristo e com outra nos atraindo para Ele
e nos plenificando com suas graças.
No ano
seguinte, o Pe. A. Tostain apresenta o que poderia se chamar sua síntese
amadurecida dessa nova imagem, partindo do ponto de vista central: para
compreender a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração, a significação deste
título, é necessário procurar o ponto culminante de uma reflexão na união de
Maria-Mãe (enquanto Mãe de Cristo e dos Homens) à morte – e – glorificação do
Cristo Salvador e sua contemplação da fonte que jorra do Coração de Jesus
glorificado, de onde vem para ela primeiramente e nela para nós, o Espírito e a
salvação, dons do amor de Deus.
Em Pe. com
Maria ao PE da cruz, o Pe. A. Tostain medita sobre Jesus, o Cordeiro pascal,
sobre o peito transpassado (Jo 7, 37) fonte de água viva, e a participação de
Maria no sacrifício de Cristo, sobre as palavras de Jesus: “Mulher, eis aí o
teu filho”. A palavra MULHER lhe traz a lembrança as núpcias de Caná (Jo 2,
1-11) e, em forma de conclusão, ele faz alusão à oração de Maria no cenáculo,
seguida de rica efusão do Espírito Santo, dom pascal do Coração de Jesus. Maria
torna-se nossa Mãe e obtém para nós esse dom. Tudo isso se resume no título
NOSSA SENHORA DO SAGRADO CORAÇÃO.
Fontes: Congregação Missionários de
Nossa Senhora do Sagrado Coração e a imagem é de arquivo pessoal.
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