domingo, 14 de outubro de 2012

NOSSA SENHORA DO SAGRADO CORAÇÃO




 

Origem: nos anos de 1780, havia em Senlis, na França, dois colégios, um chamava-se Colégio Nossa Senhora, e o outro Colégio do Sagrado coração. A historia quis que os dois se fundissem e isso deu origem ao Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração. O título, embora sendo o mesmo que em Issoudun, era fato de puro acaso!

   Em Nossa Senhora do Sagrado Coração (1884 p4 e 1895 p.3) o Padre Chevalier escreve: esta obra a congregação dos MSC – cresceu no meio de obstáculos sempre remanescentes, e sempre felizmente derrubados por sua poderosa protetora que parecia a justo titulo reclamar o cumprimento da promessa. Mas lá se encontrava a dificuldade. Como fazer honrar Maria de Maneira especial? Que novo título lhe dar? Que homenagem prestar-lhe já que não tivesse recebido nos séculos precedentes? Mas quando Deus quer uma obra, os próprios obstáculos tornam-se meios!

   Em 1885, no domingo 9 de setembro, festa do Santo nome de Maria, os missionários eram instalados pelo Padre Caillaud, vigário delegado do Cardeal Dupond, arcebispo de Bourges, impedido pela doença. Recebiam oficialmente naquele dia o título de Missionários do Sagrado Coração de Jesus.

   Naquele dia, desejosos de testemunhar a Maria seu amor e gratidão, deram-lhe, em pensamento, o nome de Nossa Senhora do Sagrado oração de Jesus. Foi então que conceberam o projeto de dedicar o altar da Virgem a Nossa Senhora do Sagrado Coração, e de fazer representar Maria invocada sob esse título num vitral. Em 1860 esse altar e esse vitral foram colocados na inauguração da primeira parte do novo santuário. Portanto, segundo essa versão, a origem remota do título se encontra na novena de 1854. O nome mesmo ou pelo menos a promessa veio ao Padre Chevalier em setembro de 1855, mas somente em pensamento.

    Em o Poder de Nossa Senhora, Padre Chevalier, 1921, p. 16: de repente, o Padre Chevalier, silencioso e sonhador, após alguns instantes, interrogam seus confrades: “sob que vocábulo colocaremos o altar da Virgem em nosso santuário? E cada um, tomado de improviso, respondeu um pouco ao acaso e conforme seu gosto particular... Não! Não! Os senhores não acertaram, responde sorrindo o R Padre. Em nossa futura Igreja, o altar de Maria será dedicado a Nossa Senhora do Sagrado Coração, exclama alguns, mas é uma novidade!... Em matéria de devoção, nos convém inovação! Novidade! Talvez! Retoma o Padre Chevalier, contudo, não tanto e nem como pensais...

   É preciso dizer que a paternidade mesma do título foi disputada ao Padre Chevalier, Roma, sobretudo a propósito da extensão do sentido dado ao título de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Qual era exatamente o poder de Maria sobre o Coração de seu Filho Jesus? Todo poderosa é o poder materno. Isso com disputa de interesses vão provocar uma série de litígios com Roma. Nenhuma duvida de que todas essas dificuldades moderaram fortemente a extensão da devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração no mundo.

Sentido do titulo: largo ou estrito?

   Pela historia religiosa de Issoudun do Padre Chevalier, sabe-se que Maria foi invocada em Issoudun, sob o titulo de Nossa Senhora do Grande Poder, e sob o titulo de Nossa Senhora de Todas as Graças!

1.      Maria considerada em suas relações com o coração de Jesus (cf. os vitrais originais da capela de NSSC).

2.      Maria considerada em suas relações com o Coração de seu Filho, mas, sobretudo como TAESOUREIRA de seu coração e MEDIADORA toda poderosa junto a esse divino Coração.

3.      Maria considerada ANTES DE TUDO COMO TESOUREIRA, permanecendo todo o resto verdadeiramente em segundo plano. 

De fato a pratica atual de Issoudun nunca olha Maria sem olhar ao mesmo tempo o menino. Rezamos certamente a Maria, mas rezamos, sobretudo COM MARIA. A primeira idéia do Padre Chevalier a respeito da devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração era muito larga: ele diz no livro “O poder de Nossa Senhora do Sagrado coração”, de 1921, p.16: deixe-me primeiro expor-lhes minhas idéias ao pronunciar este nome.

- Agradecemos, glorificamos a Deus por ter escolhido Maria entre todas as criaturas, a fim de formar, em seu seio virginal e com sua mais pura substancia, o coração adorável de Jesus. (Maria, causa efficiens Cordis Jesu) Ele te escolheu por mãe!

- Honramos especialmente os sentimentos de amor, de humilde submissão, de respeito filial que Jesus nutriu em seu coração para com sua mãe Santíssima. (Maria, objectus amoris e pietatis Jesu).

- reconhecemos, por titulo especial que resume, de algum modo, todos os seu demais títulos, o inefável poder  que o doce Salvador lhe deu sobre seu adorável Coração. (Maria, Thesauraria Ssmi Cordis). Notemos que a expressão do LEMBRAI-VOS não é portanto, do Padre Jouet!

- Suplicamos a esta Virgem compassiva, que ela mesma nos conduza ao Coração de Jesus: que nos revele os mistérios (tesouros) de misericórdia e de amor que ele encerra: que nos abra os tesouros de graças das quais é a fonte inesgotável, e ela própria espalhe co suas mãos maternais, sobre todos os que a invocarem, ou que forem recomendados à sua poderosa intercessão (Maria, via ad Ssmi Cordis, magistra et adjutrix). Além disto, nós nos uniremos a Nossa Mãe para glorificar o Coração de Jesus e reparar, com ela, os ultrajes dos quais este divino coração é objeto da parte dos pecadores. (Maria, laudatrix, et reparatrix Ssmi Cordis Jesu).

   Enfim como o poder de Maria ultrapasse tudo aquilo que nossa frágil razão pode conceber e como Jesus ouve sempre as humildes suplicas e os desejos de sua Mãe, nós lhe confiaremos o sucesso das causas difíceis e extremas ou desesperadas, tanto na ordem espiritual como na temporal. (Maria, omnipotentis supplex, spes desperantium).

   Tudo isso, acreditem sem duvida alguma, está contido nesta suave e graciosa invocação: Nossa Senhora do Sagrado Coração, rogai por nós! Alias, estou convencido disto, nossa boa mãe quer ser invocada e honrada sob esse novo titulo, e em nosso Santuário! Assim, ela e com ela, glorificaremos o Coração de Jesus, cujo culto e cujo amor propagaremos, conforme nossa divisa. Iremos ao Coração de Jesus por Maria, sua Mãe. Ad Jesus per Mariam.

   Está claro aqui o objeto da devoção está estabelecido sobre a base mais larga possível. Creio expressá-lo o mais fielmente possível esquematizando-o como segue:

·         O objeto material da devoção: Maria.

·         O objeto formal da devoção: todas as relações de Maria com o Coração de Jesus.

Entre todas essas RELAÇÕES, algumas existem somente entre Maria e o Coração de Jesus, e outras nos dizem respeito e podem-se reduzir essencialmente a duas:

a)      Cor Jesu ad nos per Mariam (Maria Tesoureira).

b)      Nos ad Jesum per Mariam (seja na união ao Coração de Jesus, seja pela reparação).

Em tudo o que precede, a função de TESOUREIRA não parece dominar as outras, mas é, em todos os casos, posta em evidencia particular.

   É claro que no carisma do Pe. Chevalier, o coração de Cristo é o centro. Ele é a encarnação do amor e da compaixão do Pai que cuida de todos, especialmente dos mais necessitados. Desde o começo ele teve uma profunda relação com Maria. Para saber se Deus queria realmente esta fundação, os padres Chevalier e Magenest fizeram sua primeira novena a Nossa senhora. Essa novena terminou em 8 de dezembro de 1854. Para superar as primeiras dificuldades, eles fizeram  uma segunda novena Nossa Senhora, durante a qual eles formularam a seguinte promessa: em reconhecimento a Maria, eles a considerarão como sua fundadora e sua Rainha, a associarão a todas as suas obras e a farão amada de uma maneira especial.

   A ajuda recebida de Nossa Senhora após cada uma dessas novenas foi uma profunda experiência para o Pe. Fundador. Nossa Senhora lhe mostrava o caminho e o ajudava a realizar  seu projeto. E, quando mais tarde, “em sua meditação, ele descobriu o titulo de Nossa Senhora do Sagrado Coração”, ele experimenta isso também como grande graça de Deus, e ele canta os louvores de Maria durante toda sua vida. O amor para com Nossa Senhora do Sagrado Coração, parece ter sido bem cedo o coração mesmo da espiritualidade pessoal do Pe. Chevalier. Em 1988, a administração geral MSC publicou uma carta para fazer os confrades lembrarem do lugar importante  de Maria na Igreja e em nossa própria historia. Após o Vaticano II, a carta diz: eu desejaria sugerir em relação à necessidade que temos de nos perguntar se em tudo temos dado suficiente atenção ao aspecto Marial de nossa vida e de nossa missão na Igreja. Nós sabemos que há exceções notáveis, mas podemos dizer honestamente que temos dado um lugar especial  a Maria nos desenvolvimentos importantes que aconteceram  desde o Vaticano II? A fidelidade criativa em relação a nossas tradições, não pode deixar de lado Nossa Senhora do Sagrado Coração e a promessa que lhe fez o Fundador.

   O que se tem considerado no passado como uma devoção deve agora fazer parte integrante de nossa espiritualidade do Coração. No seu artigo “Da devoção à espiritualidade”, o Pe. Frank Fletcher escreve: no centro da experiência espiritual, dos desejos, do estilo de vida e da missão do Pe. Chevalier havia a união de Maria com o Coração de Jesus. Na linguagem atual, diríamos que Maria é um elemento essencial na espiritualidade do coração do Pe. Chevalier. Entretanto, Julio Chevalier não viveu num período onde se preocupava com o conjunto experiência espiritual – estilo de vida – missão como espiritualidade. Insistia-se (no seu tempo) acima de tudo sobre as formulas e as praticas fixas, por exemplo, ajoelhar-se diante de uma imagem de um santo, acender uma vela, dizer-lhe uma oração... Mas uma espiritualidade que brota do interior decorre de uma visão central, engendra um estilo de vida e se adapta à situação. O Pe. Fletcher continua: eu não penso que se possa exagerar a importante mudança operada pela administração no fim dos anos 60, quando ela recomendava aos Missionários do sagrado Coração privilegiar a espiritualidade do Coração acima das devoções ao Sagrado Coração e a Nossa Senhora do Sagrado Coração. Ainda que Pe. Chevalier tenha falado de devoções, ressalta claramente de sua vida e de seus escritos que se trata de fato do centro vital de sua espiritualidade, de uma visão que inspira uma missão sem fronteira. Um coração novo para um mundo novo. É verdade que a linguagem do Pe. Chevalier pertencia à outra idade, mas sua visão é sempre atual e deve ser expressa em um vocabulário adaptado a época atual e a partir de uma perspectiva contemporânea.

Uma apresentação renovada de Nossa senhora do Sagrado coração

   Nos anos que se seguiram o Vaticano II, o Pe. André Tostain, capelão da Basílica de Issoudun, e diretor dos Anais Franceses, renovava a apresentação de Nossa Senhora do sagrado Coração. Ele estava preparado para essa tarefa, tendo feito estudos especiais de Mariologia, para tanto podia falar sobre o que se dizia de Nossa Senhora: durante o Concilio ecumênico de 1962-1965, o Pe. A. Tostain seguiu atentamente o que o Concilio ia dizer sobre Maria. Ele publicou nos anais o capitulo de Lumen Gentium sobre Nossa Senhora e explicou o titulo “Mãe da Igreja” dado a Maria pelo Papa Paulo VI, em 21 de novembro de 1964. Ele concluiu que a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração permanecia valida. Ele conseguiu aprofundar e renovar a apresentação teológica dessa devoção graças ao seu conhecimento de Teologia Bíblica.

   Em 1966, os Anais de Issoudun festejam 100 anos de existência e o Pe. A. Tostain aproveitou a ocasião para oferecer uma meditação sobre Nossa Senhora do Sagrado Coração. Ele fez um estudo da cena bíblica de (João 19, 25) – Maria ao pé da cruz – servindo-se judiciosamente das descobertas bíblicas contemporâneas.  O que lhe permitiria tratar a fundo do mistério que viria a ser tema central: MARIA LEVANTA OS OLHOS PARA “AQUELE QUE TRANSPASSARAM”. Para o Pe. A. Tostain, Nossa Senhora do Sagrado Coração é primeiramente Maria elevando os olhos para o lado transpassado de seu Filho. A partir deste ponto de vista, ele passa a examinar o mistério de Maria na sua relação com o Coração de Jesus. Ele diz: aprofundando a devoção, poder-se-ia mesmo dizer que uma excelente imagem de Nossa Senhora ao pé da cruz, mostrando com uma mão a chaga do peito de Jesus Cristo e com outra nos atraindo para Ele e nos plenificando com suas graças.

   No ano seguinte, o Pe. A. Tostain apresenta o que poderia se chamar sua síntese amadurecida dessa nova imagem, partindo do ponto de vista central: para compreender a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração, a significação deste título, é necessário procurar o ponto culminante de uma reflexão na união de Maria-Mãe (enquanto Mãe de Cristo e dos Homens) à morte – e – glorificação do Cristo Salvador e sua contemplação da fonte que jorra do Coração de Jesus glorificado, de onde vem para ela primeiramente e nela para nós, o Espírito e a salvação, dons do amor de Deus.

   Em Pe. com Maria ao PE da cruz, o Pe. A. Tostain medita sobre Jesus, o Cordeiro pascal, sobre o peito transpassado (Jo 7, 37) fonte de água viva, e a participação de Maria no sacrifício de Cristo, sobre as palavras de Jesus: “Mulher, eis aí o teu filho”. A palavra MULHER lhe traz a lembrança as núpcias de Caná (Jo 2, 1-11) e, em forma de conclusão, ele faz alusão à oração de Maria no cenáculo, seguida de rica efusão do Espírito Santo, dom pascal do Coração de Jesus. Maria torna-se nossa Mãe e obtém para nós esse dom. Tudo isso se resume no título NOSSA SENHORA DO SAGRADO CORAÇÃO.

 

 Fontes: Congregação Missionários de Nossa Senhora do Sagrado Coração e a imagem é de arquivo pessoal.

 

 

 

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