sábado, 30 de março de 2013

NOSSA SENHORA DAS DORES


     O martírio da Virgem é mencionado tanto na profecia de Simeão quanto no relato da paixão do Senhor. Este foi posto, diz o santo ancião sobre o menino, como um sinal de contradição, e a Maria: uma espada transpassará a tua alma (cf. Lucas 2, 34-35).
   Verdadeiramente, ó santa mãe, uma espada transpassou tua alma. Alias, somente transpassando-a, penetraria na carne do filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a sua alma, mas traspassou a tua alma. A alma dele já ali não estava a tua, porem, não podia ser arrancada dali. Por isso a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mas do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal.
   E pior que a espada, transpassando a alma, não foi àquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito: Mulher, eis aí teu filho? (João 19, 26).  O h! Que troca incrível! João, mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus verdadeiro. Como ouvir isso deixaria de traspassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?
   Não vos admirem, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderiam espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos.
   Talvez haja quem pergunte: “Mas não sabia ela de antemão que iria Ele morrer?” Sem Dúvida alguma. “E não esperava que logo ressuscitasse?” Com toda a confiança. “E mesmo assim sofreu com o Crucificado?” Com toda a veemência. Alias, tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer? Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração? É obra da caridade: ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: depois dela nunca houve igual.

      Dos sermões de São Bernardo, abade. Extraído da Liturgia das Horas, p.1.281.


Fonte: Revista Ave-Maria p.13 – setembro 2008.