sábado, 24 de maio de 2014

OS FALSOS DEVOTOS DE NOSSA SENHORA



    São Luís nos fala dos falsos devotos da Virgem Maria. No terceiro capítulo do “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, São Luís Maria Grignion de Montfort nos fala da importância de escolher a verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria. Pois, cada vez mais surgem falsas devoções a Nossa Senhora e é fácil tomá-las por verdadeiras. Por meio dessas falsas devoções, o Demônio leva muitas almas para o inferno (cf. TVD 90). Tendo em vista este perigo, é preciso conhecer as falsas devoções, para evitá-las e a verdadeira, para abraçá-la (cf. TVD 91). Para nos dar a conhecer essas falsas devoções, São Luís nos fala dos tipos de devotos.
   Segundo São Luís, “os devotos críticos são, ordinariamente, sábios orgulhosos, espíritos fortes e que se bastam a si mesmos” (TVD 93). Estes tem alguma devoção a Maria, mas criticam a devoção dos mais simples e põem em dúvidas os milagres e os testemunhos em relação a Nossa Senhora. Chegam a acusá-los de idólatras e acabam afastando a muitos da Virgem Maria.
   Os devotos escrupulosos são aqueles que tem medo de desonrar Jesus honrando Maria. Estes não suportam que pessoas estejam ajoelhadas diante de uma imagem da Virgem Maria, como se não rezassem a Cristo por meio dela. Os escrupulosos são contrários à oração do terço, às confrarias e as devoções externas. Dizem que é preciso pregar Jesus Cristo. Isto é uma verdade, mas esconde uma “cilada do inimigo” (TVD 94). Pois, se honra mais a Jesus Cristo quando se honra muito a Santíssima Virgem.
   Os devotos exteriores são pessoas que tem como devoção a Nossa Senhora somente práticas externas. Estes rezam muitos terços às pressas, participam de muitas Missas sem atenção, vão sem devoção às procissões, entram “em todas as confrarias de Nossa Senhora sem mudar de vida, sem fazer violência às suas paixões, nem imitar as virtudes desta Virgem Perfeitíssima” (TVD 96).
   “Os devotos presunçosos são pecadores entregues às suas más paixões, ou amigos do mundo” (TVD 97). Sob o nome de cristãos e devotos de Maria escondem o orgulho, a avareza, a impureza, a embriaguez, a cólera, a blasfêmia, a maledicência, a injustiça e outros. Estes dormem em paz nos seus maus hábitos, sem se esforçar muito para os corrigir, pois dizem que são devotos de Nossa Senhora. Dizem ainda que Deus os perdoará, não morrerão sem confissão e não serão condenados porque rezam o Terço e jejuam, ou porque pertencem às confrarias ou às congregações, ou ainda porque trazem o hábito ou a cadeia da Santíssima Virgem. “Nada é tão prejudicial no Cristianismo como esta presunção diabólica” (TVD 98).
   Os devotos inconstantes são aqueles que são fervorosos no início, mas logos esfriam. “A princípio abraçarão todas as devoções à Santíssima Virgem, entrarão em suas confrarias, mas logo depois já não praticarão as regras com fidelidade” (TVD 101). Os servos de Maria “têm a fidelidade e a constância por herança” (TVD 101). São Luís diz que é melhor “não se sobrecarregar com tantas orações e práticas de devoção, e fazer pouco com amor e fidelidade, a despeito do mundo, do demônio e da carne” (TVD 101).
    São Luís nos fala também dos devotos hipócritas. Estes “cobrem os seus pecados e maus hábitos com a capa desta Virgem Fiel, a fim de passar pelo que não são aos olhos dos homens” TVD 102).
    Os devotos interesseiros só recorrem à Nossa Senhora para alcançar algum processo, evitar algum perigo, obter a cura de alguma doença, ou por qualquer outra necessidade, sem as quais a esqueceriam (cf. TVD 103).
    São Luís afirma que todos esses são falsos devotos da Virgem Maria. Por isso, não devemos fazer parte “dos devotos críticos, que não acreditam em nada e criticam tudo; dos devotos escrupulosos, que temem ser demasiado devotos da Santíssima Virgem, por respeito para com Jesus Cristo; dos devotos exteriores, que fazem consistir toda a sua devoção em práticas externas; dos devotos presunçosos, que, ao abrigo da sua falsa devoção à Santíssima Virgem, apodrecem nos seus pecados; dos devotos inconstantes que, por leviandade, variam as suas práticas de devoção, ou as deixam completamente à menor tentação; dos devotos hipócritas, que entram em confrarias e usam as insígnias da Virgem a fim de se passar por bons, e finalmente, dos devotos interesseiros, que só recorrem à Santíssima Virgem para serem livres dos males do corpo, ou obter bens temporais” (TVD 104).



sábado, 17 de maio de 2014

A EFICÁCIA DO ROSÁRIO EM NOSSA VIDA ESPIRITUAL


PAPA LEÃO XIII - CARTA ENCÍCLICA AUGUSTISSIMAE VIRGINIS MARIAE - SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA
AUGUSTISSIMAE VIRGINIS MARIA E DE SUA SANTIDADE PAPA LEÃO XIII A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS DO ORBE CATÓLICO, EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA.

Veneráveis Irmãos, Saúde e Bênção Apostólica.

Exortação à devoção para com Maria
   1. Quem quer que considere o grau sublime de dignidade e de glória a que Deus elevou a augustíssima Virgem Maria, facilmente pode compreender que vantagem traz à vida pública e privada o contínuo desenvolvimento e a sempre mais ardente difusão do seu culto. De fato, Deus escolheu-a desde a eternidade para vir a ser Mãe do Verbo, que se encarnaria; e, por este motivo, entre todas as criaturas mais belas na ordem da natureza, da graça e da glória, Ele a distinguiu com privilégios tais, que a Igreja com razão aplica a ela aquelas palavras: "Saí da boca do Altíssimo, primogênita antes de toda criatura" (Ecli. 24, 5). Quando, pois, se iniciou o curso dos séculos, aos progenitores do gênero humano, caídos na culpa, e aos seus descendentes, contaminados pela mesma mancha, ela foi dada como penhor da futura reconciliação e da salvação.
   2. Depois, o Filho de Deus, por sua vez, fez sua santíssima Mãe objeto de evidentes demonstrações de honra. De feito, durante a sua vida privada, Ele escolheu-a como sua cooperadora nos dois primeiros milagres por Ele operados. O primeiro foi um milagre de graça, e teve lugar quando, à saudação de Maria, a criança exultou no seio de Isabel; o segundo foi um milagre na ordem da natureza; e teve lugar quando, nas bodas de Caná, Cristo transformou a água em vinho. Chegado, depois, ao termo da sua vida pública, quando estava em via de estabelecer e selar com o seu sangue divino o Novo Testamento, Ele confiou-a ao seu Apóstolo predileto, com aquelas suavíssimas palavras: "Eis aí tua mãe!" (Jo. 19, 27).
   Portanto, Nós, que, embora indignamente, representamos na terra Jesus Cristo, Filho de Deus, enquanto tivermos vida nunca cessaremos de promover a glória dela. E, como sentimos que, pelo peso grande dos anos, a Nossa vida não poderá durar ainda muito, não podemos deixar de repetir a todos os Nossos filhos e a cada um deles em particular as últimas palavras que Cristo nos deixou como testamento, enquanto pendia da cruz: "Eis aí tua Mãe!". Oh! Como nos consideraríamos felizes se as Nossas recomendações chegassem a fazer com que cada fiel não tivesse na terra nada mais importante ou mais caro do que a devoção a Nossa Senhora, e pudesse aplicar a si mesmo as palavras que João escreveu de si: "O discípulo tomou-a consigo" (Jo. 19, 27).
   3. Ora, ao aproximar-se o mês de Outubro, não queremos que, nem também este ano, Veneráveis Irmãos, vos falte uma Nossa Carta, para, com o ardor de que somos capazes, recomendar de novo a todos os católicos quererem ganhar para si mesmos e para Igreja, tão trabalhada, a proteção da Virgem, com a recitação do Rosário. Prática esta que, no descambar deste século, por divina disposição se tem maravilhosamente afirmado, para despertar a esmorecida piedade dos fiéis; como claramente atestam notáveis templos e célebres santuários dedicados à Mãe de Deus.
   4. Depois de havermos dedicado a esta divina Mãe o mês de Maio com o dom das nossas flores, consagremos-lhe também, com afeto de singular piedade, o mês de Outubro, que é mês dos frutos. De feito, parece justo dedicar estes dois meses do ano àquela que disse de si: "As minhas flores tornaram-se frutos de glória e de riqueza" (Ecli. 24, 23).

A Confraria do Rosário
   5. O espírito de associação, fundado na própria índole da natureza humana, talvez nunca tenha sido tão vivo e universal como agora. E certamente ninguém condenaria isto; se muitas vezes essa naturabilíssima tendência natural não fosse orientada para o mal: isto é, se os ímpios, movidos por um mesmo intento, não se reunissem em sociedades de vário gênero, "contra o Senhor e o seu Messias" (Salmo 2, 2).
   Por outro lado, entretanto, pode-se discernir, e certamente com grandíssima alegria, que, também entre os católicos cresce o amor às associações pias: associações bem compactas, que se tornam como que famílias, nas quais os membros estão de tal forma ligados entre si pelo vínculo da caridade cristã, a ponto de parecerem, antes, de serem verdadeiramente irmãos.
   E, de feito, se se elimina a caridade de Cristo, não pode haver fraternidade, como já energicamente demonstrava Tertuliano, dizendo: "Somos vossos irmãos por direito de natureza, natureza que é mãe comum, se bem que sejais muito pouco homens, por serdes maus irmãos. Mas quão melhor convém o nome e a dignidade de irmãos àqueles que reconhecem por seu pai comum Deus, àqueles que se imbuíram do mesmo espírito de santidade, e que, embora nascidos do mesmo seio da comum ignorância, depois se nutriram da mesma luz de verdade!" (Tertuliano, Apolog. c. 39).
   A forma destas utilíssimas sociedades, constituídas entre os católicos, é a mais variada: círculos, caixas rurais, recreatórios festivos, patronatos para a proteção da juventude, irmandades, e muitíssimos outros, todos instituídos com nobilíssimos intentos. Certamente, todas estas associações têm nomes, formas e fins próprios e imediatos modernos, mas são antiquíssimas na substância, pois se lhes podem distinguir os vestígios desde os inícios do cristianismo. Mais tarde foram reforçadas com leis, distinguidas com divisas próprias, enriquecidas de privilégios, ordenadas ao culto divino nas igrejas, ou então destinadas ao bem das almas e ao alívio dos corpos, e designadas com nomes diversos, segundo os tempos. E, com o correr do tempo, o seu número aumentou tanto, que, sobretudo na Itália, não há cidade, aldeia ou paróquia que não as tenhas muitas, ou ao menos uma.
   6. Ora, entre essas associações não hesitamos em dar um lugar eminente à confraria que toma o nome do santo Rosário. Com efeito, se se considerar a sua origem, ela figura entre as mais antigas; porquanto é fama que a haja fundado o próprio Patriarca S. Domingos; depois, se se lhe considerarem os privilégios, ela é riquíssima deles pela munificência dos Nossos Predecessores. Por último, forma e como que alma dessa instituição é o Rosário mariano, cuja eficácia já havemos, em outras circunstâncias, longamente tratado.

Eficácia do Rosário recitado em comum
   7. Mas a eficácia e o valor do Rosário aparecem ainda maiores se o considerarmos como um dever imposto à confraria que dele tira o nome. Na verdade, ninguém ignora o quanto é necessária para todos a oração, não porque com ela se possam modificar os divinos decretos, mas porque, como diz S. Gregório: "Os homens, com a oração, merecem receber aquilo que Deus onipotente desde a eternidade decidiu dar-lhes" (Diálogorum Libros 1, c. 8). E S. Agostinho acrescenta: "Quem sabe bem rezar, sabe também viver bem" (In Psalmos 118).
   E a oração justamente alcança a sua eficácia máxima em impetrar o auxílio do Céu, quando é elevada publicamente, com perseverança e concórdia, por muitos fiéis que formem um só coro de suplicantes. Isto resulta evidente dos Atos dos Apóstolos, onde se diz que os discípulos de Cristo, à espera do Espírito Santo prometido, "perseveravam unânimes na oração" (At. 1,14).
   Os que oram deste modo certissimamente obterão sempre o fruto da sua oração. E isto justamente se verifica entre os confrades do santo Rosário. Com efeito, assim como a oração do Ofício divino feita pelos sacerdotes é uma oração pública e contínua, e por isto eficacíssima; assim também, em certo sentido, é pública, contínua e comum a oração dos confrades do Rosário: definido este, em razão disto, por alguns Pontífices Romanos, "O Breviário da Virgem".
   8. Depois, conforme já dissemos, como as orações públicas têm uma excelência e uma eficácia maiores do que as privadas, por isto a Confraria do Rosário também foi chamada pelos escritores eclesiásticos "milícia orante, alistada pelo Patriarca Domingos, sob as insígnias da divina Mãe"; isto é, daquela que a Sagrada Escritura e os fastos da Igreja saúdam como vencedora do demônio e de todas as heresias. E isto porque o Rosário mariano liga com um vínculo comum todos aqueles que podem associar-se a ela, fazendo-os, como que irmãos e co-milicianos.
   E assim eles formam uma fortíssima falange, inteiramente armada e pronta a repelir os assaltos dos inimigos, quer internos, quer externos. Por isto, os membros desta pia associação podem com razão aplicar a si mesmos aquelas palavras de S. Cipriano: "Nós temos uma oração pública e comum, e, quando oramos, não oramos por um simples indivíduo, mas pelo povo todo, porque, quantos somos, formamos uma coisa só" (S. Cipriano, De Oratione Dominica).
   9. Aliás, a história da Igreja atesta a força e a eficácia destas orações, recordando-nos a derrota das forças turcas na batalha naval de Lepanto, e as esplêndidas vitórias alcançadas no século passado sobre os mesmos Turcos em Temesvar, na Hungria, e perto da ilha de Corfu. Do primeiro fato permanece como monumento perene a festa de Nossa Senhora das Vitórias, instituída por Gregório XIII, e depois consagrada e estendida à Igreja universal por Clemente XI, sob o nome de festa do Rosário.

Justificação do Rosário
   10. Pelo fato, pois, de estar esta milícia orante "alistada sob a bandeira da divina Mãe", ela adquire uma nova força e se ilustra de nova alegria, como sobretudo demonstra, na recitação do Rosário, a freqüente repetição da saudação angélica depois da oração dominical. Esta prática, longe de ser incompatível com a dignidade de Deus - como se insinuasse que nós devemos confiar mais em Maria Santíssima do que no próprio Deus - tem, ao contrário, uma particularíssima eficácia para O comover e no-lo tornar propício. De feito, a fé católica nos ensina que nós devemos orar não só a Deus, mas também aos Santos (Concilum Tridentinum Sessio 25), embora de maneira diferente: a Deus, como fonte de todos os bens; aos Santos, como intercessores.
   "De dois modos pode-se dirigir a alguém um pedido, diz S. Tomás: com a convicção de que ele possa atendê-lo ou com a persuasão de que ele possa impetrar aquilo que se pede. Do primeiro modo só oramos a Deus, porque todas as nossas preces devem ser dirigidas à consecução da graça e da glória, que só Deus pode dar, como é dito no Salmo 83, 12: "A graça e a glória dá-a o Senhor". Da segunda maneira apresentamos o mesmo pedido aos santos Anjos e aos homens; não para que, por meio deles, Deus venha a conhecer os nossos pedidos, mas para que, pela intercessão deles e pelos seus méritos, as nossas preces sejam atendidas.
   E por isto, no capítulo VIII, 4 do Apocalipse se diz que o fumo dos aromas, pelas orações dos Santos, subiu da mão do Anjo à presença de Deus" (S. Thomas de Aquino, II-II q. 83, a. 4). Ora, entre todos os Santos que habitam as mansões bem-aventuradas, quem poderá competir com a augusta Mãe de Deus em impetrar a graça? Quem poderá com maior clareza ver no Verbo eterno de Deus as nossas angústias e as nossas necessidades? A quem foi concedido maior poder em comover a Deus? Quem como ela tem entranhas de maternal piedade? É este precisamente o motivo pelo qual nós não oramos aos Santos do Céu do mesmo modo como oramos a Deus; "porquanto à SS. Trindade pedimos que tenha piedade de nós, ao passo que a todos os outros Santos pedimos que roguem por nós" (S. Th., II-II q. 83, a. 4).
   Em vez disto, a oração que dirigimos a Maria tem algo de comum com o culto que se presta a Deus; tanto que a Igreja a invoca com esta expressão, que se costuma endereçar a Deus: "Tem piedade dos pecadores". Portanto, os confrades do santo Rosário fazem muito bem em entrelaçar tantas saudações e tantas preces a Maria, como outras tantas coroas de rosas. De feito, diante de Deus Maria é "tão grande e vale tanto que, a quem quer graças e a ela não recorre, o seu desejo quer voar sem asas".

Os confrades do Rosário imitam os anjos
   11. À confraria de que estamos falando cabe, depois, outro título de louvor, que não queremos passar em silêncio. Cada vez que na recitação do Rosário mariano consideramos os mistérios da nossa salvação, de certo modo imitamos e emulamos os ofícios outrora confiados à milícia angélica. Foram eles, os anjos, que nos tempos estabelecidos revelaram estes mistérios, nos quais tiveram grande parte e intervieram infatigavelmente, compondo o seu semblante ora segundo a alegria, ora segundo a dor, ora segundo a exaltação da glória triunfal.
   Gabriel é enviado à Virgem para lhe anunciar a Encarnação do Verbo eterno. Na gruta de Belém os Anjos acompanham com os seus cantos a glória do Salvador, há pouco vindo à luz. Um Anjo adverte José a fugir e a dirigir-se para o Egito com o Menino. Enquanto Jesus no Horto sua sangue por causa da sua tristeza, um Anjo com a sua palavra compassiva, conforta-o.
   Quando Jesus, triunfando sobre a morte, se levanta do sepulcro, Anjos noticiam isso às piedosas mulheres. Anjos anunciam que Ele subiu ao Céu, e prenunciam que de lá Ele voltará entre as falanges angélicas, para unir a elas as almas dos eleitos, e conduzi-las consigo para entre os coros celestes, acima dos quais "foi exaltada a santa Mãe de Deus".
   Por isto, de modo especial aos associados que praticam a devoção do Rosário se adaptam às palavras que S. Paulo dirigia aos novos discípulos de Cristo: "Chegastes ao monte de Sião e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celeste e às miríades de Anjos" (Heb 12, 22). Que pode haver de mais excelente e de mais suave do que contemplar a Deus e rogá-lo juntamente com os Anjos? Como devem nutrir uma grande esperança e uma grande confiança de gozarem um dia no Céu a beatíssima companhia dos Anjos aqueles que na terra, de certo modo, compartilharam o ministério deles!

Auspícios par a difusão da confraria
   12. Por tais motivos, os Pontífices Romanos sempre exaltaram com grandíssimos louvores esta confraria dedicada a Maria. Entre outros, Inocêncio VIII define-a uma "devotíssima confraria" (Inocêncio VIII, Constitutio "Splendor Paternae Gloriae", 26 de fev. 1491). Pio V atribui à influência dela os seguintes resultados: "Os fiéis transformaram-se rapidamente em outros homens; as trevas da heresia se dissipam; e a luz da fé católica manifesta-se" (S. Pio V, Constitutio"Consueverunt RR. PP.", 17 set. 1569).
   Sisto V, observando o quanto esta instituição tem sido fecunda de frutos para a religião, professa-se devotíssimo dela; muitos outros, enfim, enriqueceram-na de preciosas e abundantíssimas indulgências, ou colocaram-na sob a sua particular proteção, inscrevendo-se nesta, e manifestando-lhe por diversos modos a sua benevolência.
   13. Movidos por estes exemplos dos Nossos Predecessores, Nós também, ó Veneráveis Irmãos, vivamente vos exortamos e vos conjuramos - como já muitas vezes temos feito - a quererdes dedicar um cuidado todo particular a esta sagrada milícia; de modo que, graças ao vosso zelo, cada dia se organize em toda parte novas falanges. Que, pela vossa obra e da parte de clero a vós subordinado, que tem cura de almas, venha o resto do povo a conhecer e a avaliar na justa medida a grande eficácia desta confraria, e a sua vantagem em ordem à eterna salvação dos homens.

O Rosário perpétuo
   14. E tanto mais insistimos em tal recomendação quanto recentemente refloriu uma belíssima manifestação de piedade mariana: o Rosário "perpétuo". De bom grado abençoamos esta iniciativa, e vivamente desejamos que vos apliqueis com solicitude e zelo ao seu incremento. De feito, nutrimos viva esperança de que não poderão deixar de ser bastante eficazes os louvores e as preces que saem incessantemente da boca e do coração de uma imensa multidão, e que, alternando-se dia e noite pelas várias regiões do mundo, unem a harmonia das vozes à meditação das divinas verdades.
   E certamente a continuidade destes louvores e destas preces foi prefigurada pelas palavras com que Ozias cantava a Judit: "Bendita és tu, filha, ante o Senhor Deus altíssimo, sobre todas as mulheres da terra... porque Ele hoje tornou tão grande o teu nome, que o teu louvor nunca faltará nos lábios dos homens". E a este augúrio todo o povo de Israel respondia em voz alta: "Assim é, assim seja..." (Judit. 18, 23; 25, 26).
  Entrementes, como auspício dos benefícios celestes, em testemunho da Nossa benevolência, de grande coração concedemos, no Senhor, a Bênção Apostólica a vós, Veneráveis Irmãos, ao clero e a todo o povo confiado à vossa fiel vigilância.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 12 de Setembro de 1897, vigésimo ano do Nosso Pontificado.

                                                                                                                                                                                         LEÃO PP. XIII.




sábado, 10 de maio de 2014

A IMPORTÂNCIA DO ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA


PAPA LEÃO XIII - CARTA ENCÍCLICA ADIUTRICEM POPULI - SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA CARTA ENCÍCLICA - ADIUTRICEM POPULI DE SUA SANTIDADE PAPA LEÃO XIII A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS DO ORBE CATÓLICO, EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA Veneráveis Irmãos, Saúde e Bênção Apostólica.

Consolador despertar da piedade mariana
   1. É coisa boa celebrar com louvores sempre maiores e implorar com sempre mais viva confiança a Virgem Mãe de Deus, poderosa e misericordiosíssima auxiliadora do povo cristão. Com efeito, os motivos desta confiança e destes louvores são multiplicados por esse rico e variado tesouro de benefícios sempre mais abundantes derramados em toda parte por Maria para o bem-estar comum.
   E, em troca de tal munificência, os católicos certamente não têm faltado ao seu dever de profundo reconhecimento. Visto como hoje, mais do que nunca, não obstante a presente luta contra a religião, podemos ver aumentados e sempre mais afervorados, em todas as classes da sociedade, o amor e o culto para com a beata Virgem.
   E a reconstituição e a multiplicação das confrarias sob o seu patrocínio; a construção de suntuosos monumentos dedicados ao seu augusto nome; as peregrinações de multidões devotíssimas aos santuários mais venerados; os congressos que têm como finalidade uma sempre maior difusão da sua glória; e inúmeras outras manifestações deste gênero, excelentes por si mesmas e de feliz augúrio para o futuro, são luminosa prova deste fato.
   Mas a Nós apraz recordar aqui de modo especial que, entre as múltiplas formas de piedade para com Maria, a mais estimada e praticada é a, tão excelente, do santo Rosário. Isto, dizíamos, é de grande alegria para nós; porquanto, se temos dedicado parte notável das Nossas solicitudes a propagar a devoção do Rosário, tocamos com a mão a realidade de com que benevolência a Rainha do Céu, assim invocada, tem correspondido aos Nossos votos; como esperamos que Ela quererá também amenizar as dores e as amarguras que os próximos dias nos preparam.

Orar pelo retorno dos dissidentes
   2. Mas é sobretudo para a difusão do Reino de Cristo que Nós esperamos do poder do santo Rosário um socorro mais eficaz. O intento que Nós agora com mais vivo desejo nos prefixamos, como muitas vezes temos dito, é a reconciliação dos povos separados da Igreja; declarando, ao mesmo tempo, que o êxito devemos esperá-lo sobretudo das fervorosas preces dirigidas à onipotência divina. Isto Nós também recentemente afirmamos, por ocasião da solenidade de Pentecostes, recomendando fossem dirigidas, nesta intenção, preces especiais ao Espírito Santo. E sabemos que o nosso convite foi correspondido em toda parte com grande solicitude.
    Mas, dada a importância da difícil empresa, e a necessidade de perseverar em toda santa ousadia, vem aqui muito a propósito o conselho do Apóstolo: "Perseverai na oração" (Col. 4, 2); tanto mais quanto os felizes inícios da obra são de incitamento a esta perseverança na oração. Portanto, ó Veneráveis Irmãos, fareis a coisa mais útil para este fim, e para Nós mais grata, se, durante todo o próximo Outubro, vós e os vossos fiéis invocardes conosco devotissimamente a Virgem Mãe, com a recitação do santo Rosário nas formas prescritas. Poderosos motivos impelem-nos a, com absoluta confiança, confiar à sua proteção os Nossos projetos e os Nossos votos.

Maria no Cenáculo mestra dos apóstolos
  3. O mistério do imenso amor de Cristo a nós teve, "entre outras, uma luminosa manifestação quando Ele, perto de morrer, quis confiar ao seu discípulo João aquela mãe, sua própria Mãe, com aquele solene testamento: "Eis aí teu filho!" Ora, na pessoa de João, segundo o pensamento constante da Igreja, Cristo quis indicar o gênero humano, e, particularmente, todos aqueles que a Ele adeririam pela fé. E é justamente neste sentido que S. Anselmo de Cantuária exclama: "O' Virgem, que privilégio pode ser tido em maior consideração do que esse pelo qual és a mãe daqueles para os quais Cristo se digna de ser pai e irmão?" (S. Anselmo de Cantuária., Oratio 47).
   Por sua parte, Maria generosamente aceitou e tem cumprido essa singular e pesada missão, cujo inícios foram consagrados no Cenáculo. Desde então ela ajudou admiravelmente os primeiros fiéis com a santidade do seu exemplo, com a autoridade dos seus conselhos, com a doçura dos seus incentivos, com a eficácia das Suas orações, tornando-se assim verdadeiramente mãe da Igreja e mestra e rainha dos Apóstolos, aos quais comunicou também aqueles divinos oráculos que ela "conservava ciosamente no seu coração".

Do Céu, Maria vela sobre a Igreja
   4. Impossível seria, pois, dizer que amplitude e que eficácia hajam adquirido os seus socorros, quando ela foi levada para junto de seu divino Filho, àquele fastígio de glória que convinha à sua dignidade e ao esplendor dos méritos. Com efeito, de lá do alto, consoante os desígnios de Deus, ela começou a velar sobre a Igreja, a assistir-nos e a proteger-nos como uma mãe; de modo que, depois de ter sido a cooperadora da redenção humana, tornou-se também, pelo poder quase ilimitado que lhe foi conferido, a dispensadora da graça que em todos os tempos jorra dessa redenção.
   Por isto, com bem razão as almas cristãs, obedecendo como que a um instinto natural, sentem-se arrastadas para Maria, para lhe comunicarem com toda confiança os seus projetos e as suas obras, as suas angústias e as suas alegrias; para recomendarem com filial abandono suas pessoas e suas coisas à bondade e solicitude d'Ela. Por este justíssimo motivo, todos os povos e todos os ritos têm-lhe tributado louvores, que têm vindo sempre crescendo com o sufrágio dos séculos. Donde os títulos a ela dados de "Mãe nossa, nossa Mediadora" (S. Bernardo, Sermo II in Advento Domini, n. 5), "Reparadora do mundo inteiro" (S. Tharasius, Oratio in Praesentatione Deiparae), "Dispensadora dos dons celestes" (In Off. Graec., 8 dec., post oden 9).

Maria e a difusão do Evangelho
   5. Ora, já que a fé é o fundamento e princípio dos dons divinos pelos quais o homem é elevado, acima da ordem da natureza, aos bens eternos, com toda a razão se celebra a mística influência de Maria para fazer adquirir e frutificar a fé. Maria, com efeito, é aquela que gerou o "autor da fé", e que, em razão da sua fé, foi saudada "Bem-aventurada" "Ninguém, ó Virgem, tem pleno conhecimento de Deus senão por ti; ninguém se salva senão por ti, ó Mãe de Deus; ninguém, senão por ti, recebe dons da misericórdia divina" (S. Germano Constantinopolitano, Oratio II in Dormitione B. M. V.). E, certamente, não poderá parecer exagerada a afirmação de que especialmente pela sua guia e pelo seu auxílio foi que, mesmo entre enormes obstáculos e adversidades, a sabedoria e as ordenações evangélicas se difundiram tão rapidamente em todo o mundo, instaurando por toda parte uma nova ordem de justiça e de paz.
   Consideração esta que sem dúvida devia estar presente ao ânimo de S. Cirilo de Alexandria quando, dirigindo-se à Virgem, lhe dizia: "Por ti os Apóstolos pregaram aos povos a doutrina da salvação; por ti a santa Cruz é louvada e adorada no mundo inteiro; por ti os demônios são afugentados e o homem chamado de novo ao céu; por ti toda criatura, detida pelos erros da idolatria, é reconduzida ao conhecimento da verdade; por ti os fiéis chegaram ao batismo, e em toda parte do mundo foram fundadas as Igrejas" (S. Cirilo de Alexandria, Homilia contra Nestorium).

Maria, cetro da verdadeira fé
   6. Além disto, consoante o louvor do mesmo Doutor, ela foi vigorosíssimo "cetro da verdadeira fé" (S. Cirilo de Alexandria, Homilia contra Nestorium), pelo contínuo cuidado que teve de manter firme, intacta e fecunda, entre os povos, a fé católica. E disto existem provas numerosíssimas e assaz conhecidas, confirmadas às vezes por acontecimentos prodigiosos. Sobretudo nas épocas e nas regiões em que se houve de deplorar a fé esmorecida por causa da indiferença, ou atacada pelo pernicioso contágio dos erros, foi que o clemente socorro da Virgem se fez particularmente sentir.
   Foi então que, graças ao seu impulso e ao seu apoio, surgiram homens, eminentes por santidade e por zelo apostólico, prontos a repelir os ataques dos perversos, a reconduzir as almas à prática e ao fervor da vida cristã. Sozinho, mas poderoso como muitos juntos, Domingos de Gusmão consagrou-se a esta dupla tarefa, tendo posto com êxito a sua confiança no Rosário de Maria.
   E ninguém poderá pôr em dúvida que grande parte tenha a Mãe de Deus nos serviços prestados pelos veneráveis Padres e Doutores da Igreja, que tão notavelmente trabalharam em defender e ilustrar a doutrina católica. De fato, é a ela, sede da divina sabedoria, que eles atribuem com gratidão a fecunda inspiração dos seus escritos; foi por obra da Virgem Santíssima, e não pelo mérito deles, conforme eles mesmos atestam, que a malícia dos erros foi debelada.
   Enfim, príncipes e Pontífices Romanos, guardas e defensores da fé tiveram o costume de recorrer sempre ao nome da divina Mãe: uns na direção das suas guerras sagradas, outros na promulgação dos seus solenes decretos; e sempre lhe experimentaram o poder e a proteção.
   7. Por isto a Igreja e os Padres dirigem a Maria estas expressões não menos verdadeiras do que esplêndidas: "Ave, ó boca sempre eloqüente dos Apóstolos; ó sólido fundamento da fé; ó rocha inabalável da Igreja" (Do hino dos Gregos Theotokion). "Ave: por ti nós fomos computados entre os cidadãos da Igreja, una, santa, católica e apostólica" (S. João Damasceno, Oratio in Annunciatione Dei Genitricis, n. 9). "Ave, ó divina fonte da qual os rios da eterna sabedoria, correndo com as puríssimas e limpidíssimas águas da ortodoxia, prostram a multidão dos erros" (S. Germano Constantinopolitano, Oratione in Dei Praesentatione, n. 4). "Alegra-te, já que só tu conseguiste destruir todas as heresias no mundo inteiro!" (no Ofício da B. V. M.).

Maria e a unidade da fé
   8. Esta parte tão importante que a Santíssima Virgem teve e tem no curso de expansão, nos combates, nos triunfos da fé católica, torna mais luminoso o plano divino a seu respeito, e deve despertar em todos os bons uma grande esperança para a consecução de todas as finalidades que estão hoje nos anseios de cada um.
   9. É preciso confiar em Maria; é preciso invocar Maria! Oh! quão eficaz será o seu poder para a solícita realização do novo e tão desejado triunfo da religião, isto é, que no meio dos povos cristãos uma única profissão de fé deva manter unidas as mentes, e um único vínculo de perfeita caridade estreite os corações! Que não estará ela disposta a fazer para que todas as nações caminhem unidas "na maravilhosa luz de Deus", quando com tanta insistência o seu Unigênito pediu ao Pai a união delas, e, por meio do batismo, as chamou a participar "da herança da salvação", adquirida com imenso preço? Poderá ela deixar de demonstrar a sua amorosa providência, quer para aliviar os longos trabalhos que para tal fim a Igreja, Esposa de Cristo, enfrenta, quer para realizar na família cristã esse dom da união que é o fruto precioso da sua maternidade?

A antiga unidade e o culto de Maria
   10. E um sinal de que o augúrio não está tão longe de verificar-se está na opinião e na confiança, tão ardentes nas almas piedosas, de que Maria será o feliz laço que, com a sua força, unirá todos aqueles que amam a Cristo, onde quer que estejam, formando deles um só povo de irmãos, prontos a obedecer, como a um pai comum, ao Vigário de Cristo na terra, o Pontífice Romano.
  Aqui o pensamento reporta-se espontaneamente, através dos fastos da Igreja, aos magníficos exemplos da primitiva unidade, e com mais gosto se detém na recordação do grande Concílio de Éfeso. Porquanto a plena concórdia da fé, a participação nos mesmos sacramentos, que então unia o Oriente e o Ocidente, aqui parece realmente afirmar-se com singular firmeza e brilhar de nova glória, quando os padres do Concílio anunciaram autorizadamente o dogma da divina Maternidade de Maria: a notícia de tal acontecimento, promanando daquela religiosíssima cidade exultante, encheu o mundo católico da mesma incontida alegria.

A oração pelos dissidentes, agradável a Maria
    11. Todas estas razões, que sustentam e aumentam a confiança de ser ouvido pelo poder e pela bondade da Virgem, devem ser, para os católicos, outros tantos incitamentos para a rogarem - como Nós vivamente recomendamos -com fervoroso empenho. Reflitam os fiéis em quanto é para eles decoroso e útil, e ao mesmo tempo quão aceito e grato para a Virgem Santíssima, este empenho.
   De feito, possuindo eles a unidade da fé, dessarte manifestam que justamente têm grandíssimo apreço o valor deste benefício, e que querem guardá-lo com todo escrúpulo. Nem podem eles manifestar de melhor forma o seu amor fraterno para com os separados, do que ajudando-os eficazmente de modo que possam reencontrar o maior de todos os bens. Tal afeto fraterno, verdadeiramente cristão, sempre operoso em toda a história da Igreja, achou sempre a sua força principal na Mãe de Deus, excelente fautora de paz e de unidade. S. Germano de Constantinopla assim a invocava: "Lembra-te dos cristãos, que são teus servos; ah! recomenda as orações de todos; conforta as esperanças de todos; reforça a fé; estreita as igrejas na unidade!" (S. Germano Constantinopolitano, Oratio Hist. in Dormitione Deiparae).

O culto de Maria entre os Orientais
   12. E ainda hoje os Gregos lhe dirigem esta oração: "Ó Virgem toda pura, que podes sem temor aproximar-te de teu Filho, roga-o, ó toda santa, para que Ele dê a paz ao mundo e inspire um mesmo sentimento a todas as igrejas; e todos nós te aclamaremos!" (Men., 5 maii, post oden 9 de S. Ireneu V. M). E aqui se junta aos outros um motivo especial pelo qual é lícito esperar que a Santíssima Virgem escutará com maior benignidade as nossas preces em favor dos povos dissidentes, e esse motivo é o dos insignes méritos que eles - mas especialmente os orientais adquiriram para com ela. Porque é a eles que muito se deve se a sua devoção tanto se difundiu e cresceu.
   Entre eles surgiram grandes apologistas e defensores da sua dignidade; panegiristas célebres pelo fogo e pela delicadeza da sua eloquência; "imperatrizes diletíssimas a Deus" (S. Cirilo de Alexandria, De Fide ad Pulcheriam et Sorores Reginas) que imitaram os exemplos da puríssima Virgem e lhe tributaram homenagens com a sua munificência; e, por último, igrejas e basílicas erguidas em sua honra com esplendor régio.

As imagens de Maria do Oriente ao Ocidente
   13. A esta altura apraz-nos aditar uma consideração que, enquanto não é estranha ao assunto, ao mesmo tempo redunda em glória da santíssima Mãe de Deus. É esta: todos sabem que muitíssimas das suas augustas imagens, em diversas épocas, foram trazidas do Oriente para o Ocidente, e, especialmente na Itália e em Roma, foram acolhidas com suma piedade e honradas com magnificência pelos nossos avós, e veneradas depois pelos seus descendentes com não menor transporte.
   Ora, Nós gostamos de verificar neste fato unia disposição e um benefício da amorosíssima Mãe, já que isso parece querer significar que essas imagens são, junto a nós, como que, palpitantes monumentos de outros tempos, em que a família cristã vivia unida em toda parte do mundo; e como que preciosos penhores de uma comum herança. Por isto, ao contemplá-las, como que por inspiração da própria Virgem devem as almas piedosamente lembrar-se daqueles que a Igreja Católica chama com amorosa solicitude à antiga concórdia e à alegria que já provaram no seu seio.

O Rosário, oração eficaz para os dissidentes
   14. Assim, um grande auxílio em vantagem da unidade da Igreja é-nos por Deus oferecido em Maria. E, conquanto este auxílio de muitos modos, possa ser merecido, Nós cremos que o melhor e o mais eficaz é o do Rosário já de outras vezes fizemos observar que não última entre as vantagens do santo Rosário é fornecer ao cristão um meio prático e fácil para alimentar a sua fé e preservá-la da ignorância e do perigo do erro; como manifestamente nos demonstram as suas próprias origens.
   Ora, não é mero claro o quanto toca de perto a Maria esta fé, que se exercita quer com a repetida oração vocal, quer com a meditação dos mistérios. Porquanto, toda vez que nos pomos em oração diante dela e recitamos com devoção a santa Coroa segundo o rito prescrito, nós recordamos a obra maravilhosa da nossa redenção, de modo a contemplarmos, como se se desenrolassem agora todos aqueles fatos que sucessivamente concorrem para torná-la ao mesmo tempo Mãe de Deus e Mãe nossa.
   A excelência desta dupla dignidade e o fruto deste duplo ministério mostram-se nos sob uma vivíssima luz, se piedosamente considerarmos a Virgem Maria ao lado de seu divino Filho nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos. Daí resulta sentir-se a alma inflamada de um vivo sentimento de gratidão para com ela; e, desdenhando todas as coisas deste mundo, esforçar-se com firme propósito por se tornar digna de tal Mãe e dos seus benefícios.
   Aliás, já que Maria, a mais amorosa de todas as mães, não pode deixar de se enternecer e de se mover à compaixão para com os homens por esta frequente e piedosa recordação de tais mistérios, o santo Rosário será., como temos dito, a oração mais oportuna para advogar junto a ela a causa de nossos irmãos dissidentes. Isto entra em cheio na missão da sua maternidade espiritual.
    De fato, aqueles que pertencem a Cristo, não os gerou Nossa Senhora, nem podia gerá-los, senão na unidade da fé e do amor a Ele. "Acaso Cristo foi feito em pedaços?" (1 Cor. 1, 13). Por isto, todos nós devemos viver juntos a vida de Cristo, de modo a podermos "colher frutos para Deus" (Rom. 7, 4), num só e idêntico corpo. Necessário é, pois, que todos aqueles que a maldade dos acontecimentos separou desta unidade sejam de novo, por assim dizer, gerados para Cristo, desta mesma Mãe que Deus tornou perenemente fecunda de santa prole.
   Ela, por sua parte, nenhuma outra coisa deseja mais ardentemente; e, se nós lhe oferecermos coroas tecidas desta oração a ela tão cara, Alaria lhes obterá em abundância os auxílios do "Espírito vivificados". Praza a Deus que eles não recusem secundar os desejos desta sua misericordiosíssima Mãe; e que, lembrados da sua eterna salvação, escutem este amoroso convite: "Ó filhos, por quem de novo sinto as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós" (Gal. 4, 19).

O Rosário difundido na Igreja do Oriente
   15. Havendo observado o grande poder do santo Rosário em tal terreno, alguns dos Nossos Predecessores procuraram por todos os meios difundi-lo nos países orientais. Primeiro entre todos, Eugênio IV com a sua Constituição Apostólica "Advesperascente", de 1139; depois Inocêncio XII e Clemente XI, que com a sua autoridade concederam, para este fim, largos privilégios à Ordem dos Frades Pregadores.
   E os frutos não se fizeram esperar longamente, graças ao zelo e à atividade dos religiosos dessa Ordem, como está provado por inúmeros e claros documentos; se bem que aos progressos de tal obra fizesse não pouco dano a prolongada contrariedade dos tempos. Mas, nos nossos. dias, naquelas regiões tem voltado a reflorir em muitos corações o mesmo entusiasmo pela devoção ao santo Rosário, que louvamos no principio desta Carta. E esperamos que este fato, tão condizente com os Nossos desígnios, seja utilíssimo à realização dos Nossos votos.

Novo templo à Virgem do Rosário em Patras
   16. A esta esperança se junta um fato consolados, que diz respeito tanto ao Oriente quanto ao Ocidente, e que é plenamente conforme aos Nossos desejos. Queremos referir-nos ao propósito, expresso no célebre Congresso Eucarístico de Jerusalém, de erigir-se um templo em honra da Rainha do Santíssimo Rosário em Patras, na Acácia, não longe daqueles lugares nos quais a proteção de Maria fez brilhar as glórias do nome cristão.
  Já muitos de vós, exortados pela Comissão, surgida com a Nossa aprovação, pressurosamente contribuístes para essa obra com subscrições, juntando-lhes também a promessa de um constante interesse até que a coisa esteja realizada. E, com isto, já se proveu a quanto basta para iniciar, sem mais, os trabalhos com a grandiosidade que convém a esta obra; e Nós já autorizamos lançar-se solenemente, o mais breve possível, a primeira pedra desse edifício. O templo surgirá em nome do povo cristão, qual monumento de perene gratidão à nossa Auxiliadora e Mãe celeste. Lá ela será invocada incessantemente em rito latino e grego, a fim de que, com sempre mais benévola assistência, se digne de ajuntar aos antigos novos favores.

Mostra-te Mãe!
   17. E agora, ó Veneráveis Irmãos, a Nossa exortação volta ao ponto do qual partiu. Eia, pois! que todos, pastores e rebanhos, especialmente no próximo mês, se coloquem, cheios de confiança, sob a proteção da augusta Virgem. Em público e em particular não cessem, com cantos, orações e votos, de invocar e suplicar concorde mente a Mãe de Deus e Mãe nossa: "Ah! mostra-te Mãe!". Que a sua clemência maternal queira preservar de todo perigo sua família inteira: que a conduza a uma verdadeira prosperidade, e, sobretudo, a estabeleça na santa unidade. Guarde ela com benevolência os católicos de todas as nações, e, unindo-os pelos vínculos da caridade, torne-os mais ativos e mais constantes em sustentar a honra da religião, da qual promanam, mesmo para os povos, os bens mais preciosos.
   Guarde, depois, com suma benevolência também os dissidentes: essas grandes e ilustres nações, essas almas eleitas, que sentem a dignidade cristã. Suscite nelas salutares desejos, e depois os alimente e os leve a cumprimento. Redundem em vantagem dos dissidentes orientais a ardente devoção que eles professam para com Nossa Senhora, e os numerosos feitos realizados pelos seus antepassados para a glória dela. Depois, em vantagem dos dissidentes ocidentais redunde a lembrança do salutar patrocínio com que ela teve como cara e recompensou a extraordinária piedade que todas as classes sociais lhe professaram por muitas gerações.
   Para estes dissidentes e para todos os outros, onde quer que se achem valha a voz unânime e suplicante de todos os povos católicos, e valha a Nossa voz, que até o último alento invocará: "Mostra-te Mãe!".
Entrementes, como auspício dos dons celestes e em atestado da Nossa benevolência, de todo coração concedemos a cada um de vós, ao vosso clero e ao vosso povo a Nossa Bênção Apostólica.

   Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 5 de Setembro de 1895, no décimo oitavo ano do Nosso Pontificado.
                                                                                                                                                                                                     LEÃO XIII PAPA.



sábado, 3 de maio de 2014

AS SETE ALEGRIAS DE NOSSA SENHORA


"Alegra-te Maria, Imaculada e Santa, amada de Deus, nova Eva eleita, cooperadora da reconciliação. Mãe de Jesus e nossa; incansável auxílio dos pecadores, maternal intercessora, lembra-te sempre deste filho teu. Amém." Oração Mariana.
O mês de maio, para os cristãos católicos, é o mês de muitas alegrias, pois é dedicado aquela que muito amamos: Maria, por isso, é oportuno meditarmos as suas alegrias,  que são os momentos felizes que Nossa Senhora experimentou em sua vida terrena. A maior delas, sem dúvida, foi o fato de ter sido escolhida para ser a Mãe de Deus. Poderia haver maior felicidade do que esta?
Dentre as alegrias que Maria viveu, podemos destacar sete:
Primeira Alegria - É o anúncio do anjo Gabriel a Maria, dizendo-lhe que ela seria a Mãe do Filho de Deus - Lucas 1: 26-33, 38.
Segunda Alegria – É a visitação de Maria levando em seu ventre Jesus a Sua prima Santa Isabel  - Lucas 1: 39-45
Terceira Alegria - Nasce seu filho, o Menino Jesus - Lucas 2: 6-7
Quarta Alegria – Maria vê os três reis magos prestarem adoração ao Menino Jesus - Mateus 2: 1-2, 10-11.
Quinta Alegria - Maria encontra o menino Jesus, que pensava está perdido, mas estava no templo - Lucas 2: 41-50
Sexta Alegria – É a jubilosa Ressurreição de Jesus nosso salvador - Marcos 16: 1-7.
Sétima Alegria – É a Sua Assunção e Coroação como Rainha do Céu e da Terra - "Fidei dogma definitur deiparam virginem Mariam corpore et anima fuisse ad caelestem gloriam assumptam" - Papa Pio XII, 1 de novembro de 1950; Acta Apostolicae Sedis, An et Vol XXXXII - Ser II, V. XVII - nº 15 - *Ver também Lucas 1: 46-55
    A alegria é um sentimento profundo que nasce da mescla de vários fatores: sentir confiança, ter a satisfação do dever cumprido, estar em harmonia consigo mesmo, com Deus e com os demais irmãos. A alegria constante é uma atitude própria do católico, que tem a segurança de sentir-se amado por Deus, no caminho certo e na verdade. Maria, nossa Mãe, é exemplo e fonte dessa mesma alegria, para todos nós.
    No início do século XV na Itália, na época de São Bernardino de Sena (1380-1444), surge entre os franciscanos uma devoção, que recorda esses episódios felizes. É a chamada "Coroa Franciscana" ou as "Sete Alegrias da Santíssima Virgem Maria". Em cada uma das "Sete Alegrias" roga-se à Maria que se alegre, porque Deus a favoreceu de várias maneiras.
Existe um colar de contas apropriado para a devoção. Ele é composto de 76 contas fixadas em um círculo, que está conectado a uma medalha, e mais um prolongamento com cinco contas que termina com um crucifixo e uma medalha de São Francisco de Assis. O círculo contém sete dezenas de contas que representam as "Ave Maria." Uma conta do "Pai Nosso" separa cada dezena com uma única exceção: a conta do "Pai Nosso" para a Primeira Alegria, que se encontra no prolongamento, junto à medalha conectora. O colar da Coroa Franciscana facilita a contagem na hora das orações, mas não é indispensável, podendo-se realiza-la usando qualquer outra forma de contagem.
    O Modo de se fazer as orações é o seguinte: reza-se um "Pai Nosso" e dez "Ave Maria" por cada uma das Sete Alegrias. Nas orações finais mais duas "Ave Maria", para totalizar 72; e para terminar mais um "Pai Nosso" e uma "Ave Maria" pelas intenções do Papa. O número "72" tem um significado especial. Faz referência à tradição pela qual Nossa Senhora teria vivido 72 anos aqui na Terra.
   Muito já se falou e se falará ainda de Maria Santíssima. Seu Amor incondicional a Deus e à sua Obra, fez dela um exemplo a ser seguido por homens e mulheres de todas as gerações. O saudoso Papa João Paulo II escolheu para Lema de seu Pontificado, "Totus Tuus Maria”. Tendo se consagrado a Ela, o Papa viveu mergulhado em Ação de Graças à sua Senhora.
   A Virgem Maria é a amiga mais querida, mais íntima, mais amorosa que podemos pensar em ter. Se o próprio Deus a escolheu para ser mãe de seu filho, imagine os tesouros espirituais que podemos alcançar, ao meditarmos em Suas Alegrias.
Que tal começarmos agora?
* "E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre." Lucas 1:46:55.
Outra formas de rezar a Coroa Franciscana – é fazer a introdução e conclusão  como na oração do Terço.
I - Forma comum
1. No primeiro mistério consideramos a alegria de Nossa Senhora ao ouvir do Arcanjo São Gabriel que fora escolhida por Deus para ser Mãe do Salvador. (1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória ao Pai)
2. No segundo mistério consideramos a alegria da Santíssima Virgem em casa de sua prima Santa Isabel, quando foi pela primeira vez saudada como Mãe de Deus.
3. No terceiro mistério consideramos o inefável gozo de Nossa Senhora no estábulo de Belém, quando seu Filho divino nasceu milagrosamente.
4. No quarto mistério consideramos a alegria de Nossa Senhora quando os três magos vieram de longe adorar o Menino Jesus e oferecer-lhe ouro, incenso e mirra
5. No quinto mistério consideramos a alegria de Nossa Senhora quando achou o Divino Menino no Templo entre os doutores.
6. No sexto mistério consideramos a alegria e o júbilo da Santa Mãe de Deus, quando, na manhã de Páscoa, viu seu Filho divino ressuscitado e glorioso.
7. No sétimo mistério consideramos a maior de todas as alegrias de Nossa Senhora, quando morreu santamente e foi levada aos céus, com corpo e alma, acima dos coros angélicos, à direita de seu Filho divino, que a coroou Rainha dos anjos e dos santos.
II - Forma especial
Após cada Ave-Maria, acrescenta-se, depois das palavras: “...e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus:
1. ... que com grande alegria concebestes do Espírito Santo. (E segue:) Santa Maria...
2. ... que com grande alegria levastes em visita à Isabel.
3. ... que com grande alegria destes à luz em Belém.
4. ... que com grande alegria apresentastes à adoração dos Magos.
5. ... que com grande alegria encontrastes no Templo.
6. ... que com grande alegria vistes ressuscitado e glorioso.
7. ... que vos elevou aos céus, ó Virgem Maria.

Histórico: Em 1442, na época de São Bernardino de Sena, divulgou-se a notícia de Nossa Senhora ter aparecido a um noviço franciscano, que desde criança tinha o costume de oferecer à Virgem Maria uma coroa de rosas. Mas quando entrou na Ordem dos Frades Menores, sentia-se muito triste por não lhe ser permitido continuara a oferecer a Virgem os ramos de flores. Chegou mesmo a pensar em desistir da Ordem seráfica. Apareceu-lhe então, a Virgem a consolá-lo e indicar-lhe outra oferta diária que seria para ela ainda mais agradável. Sugeriu-lhe que, todos os dias, rezasse sete dezenas de ave-marias intercaladas com a meditação de sete misteriosos acontecimentos da sua vida que a tinham enchido de alegria. Assim teria nascido à coroa franciscana, o rosário das sete alegrias. São Bernardino foi um dos primeiros a praticar e divulgar esta piedosa devoção.