sábado, 10 de maio de 2014

A IMPORTÂNCIA DO ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA


PAPA LEÃO XIII - CARTA ENCÍCLICA ADIUTRICEM POPULI - SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA CARTA ENCÍCLICA - ADIUTRICEM POPULI DE SUA SANTIDADE PAPA LEÃO XIII A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS DO ORBE CATÓLICO, EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA Veneráveis Irmãos, Saúde e Bênção Apostólica.

Consolador despertar da piedade mariana
   1. É coisa boa celebrar com louvores sempre maiores e implorar com sempre mais viva confiança a Virgem Mãe de Deus, poderosa e misericordiosíssima auxiliadora do povo cristão. Com efeito, os motivos desta confiança e destes louvores são multiplicados por esse rico e variado tesouro de benefícios sempre mais abundantes derramados em toda parte por Maria para o bem-estar comum.
   E, em troca de tal munificência, os católicos certamente não têm faltado ao seu dever de profundo reconhecimento. Visto como hoje, mais do que nunca, não obstante a presente luta contra a religião, podemos ver aumentados e sempre mais afervorados, em todas as classes da sociedade, o amor e o culto para com a beata Virgem.
   E a reconstituição e a multiplicação das confrarias sob o seu patrocínio; a construção de suntuosos monumentos dedicados ao seu augusto nome; as peregrinações de multidões devotíssimas aos santuários mais venerados; os congressos que têm como finalidade uma sempre maior difusão da sua glória; e inúmeras outras manifestações deste gênero, excelentes por si mesmas e de feliz augúrio para o futuro, são luminosa prova deste fato.
   Mas a Nós apraz recordar aqui de modo especial que, entre as múltiplas formas de piedade para com Maria, a mais estimada e praticada é a, tão excelente, do santo Rosário. Isto, dizíamos, é de grande alegria para nós; porquanto, se temos dedicado parte notável das Nossas solicitudes a propagar a devoção do Rosário, tocamos com a mão a realidade de com que benevolência a Rainha do Céu, assim invocada, tem correspondido aos Nossos votos; como esperamos que Ela quererá também amenizar as dores e as amarguras que os próximos dias nos preparam.

Orar pelo retorno dos dissidentes
   2. Mas é sobretudo para a difusão do Reino de Cristo que Nós esperamos do poder do santo Rosário um socorro mais eficaz. O intento que Nós agora com mais vivo desejo nos prefixamos, como muitas vezes temos dito, é a reconciliação dos povos separados da Igreja; declarando, ao mesmo tempo, que o êxito devemos esperá-lo sobretudo das fervorosas preces dirigidas à onipotência divina. Isto Nós também recentemente afirmamos, por ocasião da solenidade de Pentecostes, recomendando fossem dirigidas, nesta intenção, preces especiais ao Espírito Santo. E sabemos que o nosso convite foi correspondido em toda parte com grande solicitude.
    Mas, dada a importância da difícil empresa, e a necessidade de perseverar em toda santa ousadia, vem aqui muito a propósito o conselho do Apóstolo: "Perseverai na oração" (Col. 4, 2); tanto mais quanto os felizes inícios da obra são de incitamento a esta perseverança na oração. Portanto, ó Veneráveis Irmãos, fareis a coisa mais útil para este fim, e para Nós mais grata, se, durante todo o próximo Outubro, vós e os vossos fiéis invocardes conosco devotissimamente a Virgem Mãe, com a recitação do santo Rosário nas formas prescritas. Poderosos motivos impelem-nos a, com absoluta confiança, confiar à sua proteção os Nossos projetos e os Nossos votos.

Maria no Cenáculo mestra dos apóstolos
  3. O mistério do imenso amor de Cristo a nós teve, "entre outras, uma luminosa manifestação quando Ele, perto de morrer, quis confiar ao seu discípulo João aquela mãe, sua própria Mãe, com aquele solene testamento: "Eis aí teu filho!" Ora, na pessoa de João, segundo o pensamento constante da Igreja, Cristo quis indicar o gênero humano, e, particularmente, todos aqueles que a Ele adeririam pela fé. E é justamente neste sentido que S. Anselmo de Cantuária exclama: "O' Virgem, que privilégio pode ser tido em maior consideração do que esse pelo qual és a mãe daqueles para os quais Cristo se digna de ser pai e irmão?" (S. Anselmo de Cantuária., Oratio 47).
   Por sua parte, Maria generosamente aceitou e tem cumprido essa singular e pesada missão, cujo inícios foram consagrados no Cenáculo. Desde então ela ajudou admiravelmente os primeiros fiéis com a santidade do seu exemplo, com a autoridade dos seus conselhos, com a doçura dos seus incentivos, com a eficácia das Suas orações, tornando-se assim verdadeiramente mãe da Igreja e mestra e rainha dos Apóstolos, aos quais comunicou também aqueles divinos oráculos que ela "conservava ciosamente no seu coração".

Do Céu, Maria vela sobre a Igreja
   4. Impossível seria, pois, dizer que amplitude e que eficácia hajam adquirido os seus socorros, quando ela foi levada para junto de seu divino Filho, àquele fastígio de glória que convinha à sua dignidade e ao esplendor dos méritos. Com efeito, de lá do alto, consoante os desígnios de Deus, ela começou a velar sobre a Igreja, a assistir-nos e a proteger-nos como uma mãe; de modo que, depois de ter sido a cooperadora da redenção humana, tornou-se também, pelo poder quase ilimitado que lhe foi conferido, a dispensadora da graça que em todos os tempos jorra dessa redenção.
   Por isto, com bem razão as almas cristãs, obedecendo como que a um instinto natural, sentem-se arrastadas para Maria, para lhe comunicarem com toda confiança os seus projetos e as suas obras, as suas angústias e as suas alegrias; para recomendarem com filial abandono suas pessoas e suas coisas à bondade e solicitude d'Ela. Por este justíssimo motivo, todos os povos e todos os ritos têm-lhe tributado louvores, que têm vindo sempre crescendo com o sufrágio dos séculos. Donde os títulos a ela dados de "Mãe nossa, nossa Mediadora" (S. Bernardo, Sermo II in Advento Domini, n. 5), "Reparadora do mundo inteiro" (S. Tharasius, Oratio in Praesentatione Deiparae), "Dispensadora dos dons celestes" (In Off. Graec., 8 dec., post oden 9).

Maria e a difusão do Evangelho
   5. Ora, já que a fé é o fundamento e princípio dos dons divinos pelos quais o homem é elevado, acima da ordem da natureza, aos bens eternos, com toda a razão se celebra a mística influência de Maria para fazer adquirir e frutificar a fé. Maria, com efeito, é aquela que gerou o "autor da fé", e que, em razão da sua fé, foi saudada "Bem-aventurada" "Ninguém, ó Virgem, tem pleno conhecimento de Deus senão por ti; ninguém se salva senão por ti, ó Mãe de Deus; ninguém, senão por ti, recebe dons da misericórdia divina" (S. Germano Constantinopolitano, Oratio II in Dormitione B. M. V.). E, certamente, não poderá parecer exagerada a afirmação de que especialmente pela sua guia e pelo seu auxílio foi que, mesmo entre enormes obstáculos e adversidades, a sabedoria e as ordenações evangélicas se difundiram tão rapidamente em todo o mundo, instaurando por toda parte uma nova ordem de justiça e de paz.
   Consideração esta que sem dúvida devia estar presente ao ânimo de S. Cirilo de Alexandria quando, dirigindo-se à Virgem, lhe dizia: "Por ti os Apóstolos pregaram aos povos a doutrina da salvação; por ti a santa Cruz é louvada e adorada no mundo inteiro; por ti os demônios são afugentados e o homem chamado de novo ao céu; por ti toda criatura, detida pelos erros da idolatria, é reconduzida ao conhecimento da verdade; por ti os fiéis chegaram ao batismo, e em toda parte do mundo foram fundadas as Igrejas" (S. Cirilo de Alexandria, Homilia contra Nestorium).

Maria, cetro da verdadeira fé
   6. Além disto, consoante o louvor do mesmo Doutor, ela foi vigorosíssimo "cetro da verdadeira fé" (S. Cirilo de Alexandria, Homilia contra Nestorium), pelo contínuo cuidado que teve de manter firme, intacta e fecunda, entre os povos, a fé católica. E disto existem provas numerosíssimas e assaz conhecidas, confirmadas às vezes por acontecimentos prodigiosos. Sobretudo nas épocas e nas regiões em que se houve de deplorar a fé esmorecida por causa da indiferença, ou atacada pelo pernicioso contágio dos erros, foi que o clemente socorro da Virgem se fez particularmente sentir.
   Foi então que, graças ao seu impulso e ao seu apoio, surgiram homens, eminentes por santidade e por zelo apostólico, prontos a repelir os ataques dos perversos, a reconduzir as almas à prática e ao fervor da vida cristã. Sozinho, mas poderoso como muitos juntos, Domingos de Gusmão consagrou-se a esta dupla tarefa, tendo posto com êxito a sua confiança no Rosário de Maria.
   E ninguém poderá pôr em dúvida que grande parte tenha a Mãe de Deus nos serviços prestados pelos veneráveis Padres e Doutores da Igreja, que tão notavelmente trabalharam em defender e ilustrar a doutrina católica. De fato, é a ela, sede da divina sabedoria, que eles atribuem com gratidão a fecunda inspiração dos seus escritos; foi por obra da Virgem Santíssima, e não pelo mérito deles, conforme eles mesmos atestam, que a malícia dos erros foi debelada.
   Enfim, príncipes e Pontífices Romanos, guardas e defensores da fé tiveram o costume de recorrer sempre ao nome da divina Mãe: uns na direção das suas guerras sagradas, outros na promulgação dos seus solenes decretos; e sempre lhe experimentaram o poder e a proteção.
   7. Por isto a Igreja e os Padres dirigem a Maria estas expressões não menos verdadeiras do que esplêndidas: "Ave, ó boca sempre eloqüente dos Apóstolos; ó sólido fundamento da fé; ó rocha inabalável da Igreja" (Do hino dos Gregos Theotokion). "Ave: por ti nós fomos computados entre os cidadãos da Igreja, una, santa, católica e apostólica" (S. João Damasceno, Oratio in Annunciatione Dei Genitricis, n. 9). "Ave, ó divina fonte da qual os rios da eterna sabedoria, correndo com as puríssimas e limpidíssimas águas da ortodoxia, prostram a multidão dos erros" (S. Germano Constantinopolitano, Oratione in Dei Praesentatione, n. 4). "Alegra-te, já que só tu conseguiste destruir todas as heresias no mundo inteiro!" (no Ofício da B. V. M.).

Maria e a unidade da fé
   8. Esta parte tão importante que a Santíssima Virgem teve e tem no curso de expansão, nos combates, nos triunfos da fé católica, torna mais luminoso o plano divino a seu respeito, e deve despertar em todos os bons uma grande esperança para a consecução de todas as finalidades que estão hoje nos anseios de cada um.
   9. É preciso confiar em Maria; é preciso invocar Maria! Oh! quão eficaz será o seu poder para a solícita realização do novo e tão desejado triunfo da religião, isto é, que no meio dos povos cristãos uma única profissão de fé deva manter unidas as mentes, e um único vínculo de perfeita caridade estreite os corações! Que não estará ela disposta a fazer para que todas as nações caminhem unidas "na maravilhosa luz de Deus", quando com tanta insistência o seu Unigênito pediu ao Pai a união delas, e, por meio do batismo, as chamou a participar "da herança da salvação", adquirida com imenso preço? Poderá ela deixar de demonstrar a sua amorosa providência, quer para aliviar os longos trabalhos que para tal fim a Igreja, Esposa de Cristo, enfrenta, quer para realizar na família cristã esse dom da união que é o fruto precioso da sua maternidade?

A antiga unidade e o culto de Maria
   10. E um sinal de que o augúrio não está tão longe de verificar-se está na opinião e na confiança, tão ardentes nas almas piedosas, de que Maria será o feliz laço que, com a sua força, unirá todos aqueles que amam a Cristo, onde quer que estejam, formando deles um só povo de irmãos, prontos a obedecer, como a um pai comum, ao Vigário de Cristo na terra, o Pontífice Romano.
  Aqui o pensamento reporta-se espontaneamente, através dos fastos da Igreja, aos magníficos exemplos da primitiva unidade, e com mais gosto se detém na recordação do grande Concílio de Éfeso. Porquanto a plena concórdia da fé, a participação nos mesmos sacramentos, que então unia o Oriente e o Ocidente, aqui parece realmente afirmar-se com singular firmeza e brilhar de nova glória, quando os padres do Concílio anunciaram autorizadamente o dogma da divina Maternidade de Maria: a notícia de tal acontecimento, promanando daquela religiosíssima cidade exultante, encheu o mundo católico da mesma incontida alegria.

A oração pelos dissidentes, agradável a Maria
    11. Todas estas razões, que sustentam e aumentam a confiança de ser ouvido pelo poder e pela bondade da Virgem, devem ser, para os católicos, outros tantos incitamentos para a rogarem - como Nós vivamente recomendamos -com fervoroso empenho. Reflitam os fiéis em quanto é para eles decoroso e útil, e ao mesmo tempo quão aceito e grato para a Virgem Santíssima, este empenho.
   De feito, possuindo eles a unidade da fé, dessarte manifestam que justamente têm grandíssimo apreço o valor deste benefício, e que querem guardá-lo com todo escrúpulo. Nem podem eles manifestar de melhor forma o seu amor fraterno para com os separados, do que ajudando-os eficazmente de modo que possam reencontrar o maior de todos os bens. Tal afeto fraterno, verdadeiramente cristão, sempre operoso em toda a história da Igreja, achou sempre a sua força principal na Mãe de Deus, excelente fautora de paz e de unidade. S. Germano de Constantinopla assim a invocava: "Lembra-te dos cristãos, que são teus servos; ah! recomenda as orações de todos; conforta as esperanças de todos; reforça a fé; estreita as igrejas na unidade!" (S. Germano Constantinopolitano, Oratio Hist. in Dormitione Deiparae).

O culto de Maria entre os Orientais
   12. E ainda hoje os Gregos lhe dirigem esta oração: "Ó Virgem toda pura, que podes sem temor aproximar-te de teu Filho, roga-o, ó toda santa, para que Ele dê a paz ao mundo e inspire um mesmo sentimento a todas as igrejas; e todos nós te aclamaremos!" (Men., 5 maii, post oden 9 de S. Ireneu V. M). E aqui se junta aos outros um motivo especial pelo qual é lícito esperar que a Santíssima Virgem escutará com maior benignidade as nossas preces em favor dos povos dissidentes, e esse motivo é o dos insignes méritos que eles - mas especialmente os orientais adquiriram para com ela. Porque é a eles que muito se deve se a sua devoção tanto se difundiu e cresceu.
   Entre eles surgiram grandes apologistas e defensores da sua dignidade; panegiristas célebres pelo fogo e pela delicadeza da sua eloquência; "imperatrizes diletíssimas a Deus" (S. Cirilo de Alexandria, De Fide ad Pulcheriam et Sorores Reginas) que imitaram os exemplos da puríssima Virgem e lhe tributaram homenagens com a sua munificência; e, por último, igrejas e basílicas erguidas em sua honra com esplendor régio.

As imagens de Maria do Oriente ao Ocidente
   13. A esta altura apraz-nos aditar uma consideração que, enquanto não é estranha ao assunto, ao mesmo tempo redunda em glória da santíssima Mãe de Deus. É esta: todos sabem que muitíssimas das suas augustas imagens, em diversas épocas, foram trazidas do Oriente para o Ocidente, e, especialmente na Itália e em Roma, foram acolhidas com suma piedade e honradas com magnificência pelos nossos avós, e veneradas depois pelos seus descendentes com não menor transporte.
   Ora, Nós gostamos de verificar neste fato unia disposição e um benefício da amorosíssima Mãe, já que isso parece querer significar que essas imagens são, junto a nós, como que, palpitantes monumentos de outros tempos, em que a família cristã vivia unida em toda parte do mundo; e como que preciosos penhores de uma comum herança. Por isto, ao contemplá-las, como que por inspiração da própria Virgem devem as almas piedosamente lembrar-se daqueles que a Igreja Católica chama com amorosa solicitude à antiga concórdia e à alegria que já provaram no seu seio.

O Rosário, oração eficaz para os dissidentes
   14. Assim, um grande auxílio em vantagem da unidade da Igreja é-nos por Deus oferecido em Maria. E, conquanto este auxílio de muitos modos, possa ser merecido, Nós cremos que o melhor e o mais eficaz é o do Rosário já de outras vezes fizemos observar que não última entre as vantagens do santo Rosário é fornecer ao cristão um meio prático e fácil para alimentar a sua fé e preservá-la da ignorância e do perigo do erro; como manifestamente nos demonstram as suas próprias origens.
   Ora, não é mero claro o quanto toca de perto a Maria esta fé, que se exercita quer com a repetida oração vocal, quer com a meditação dos mistérios. Porquanto, toda vez que nos pomos em oração diante dela e recitamos com devoção a santa Coroa segundo o rito prescrito, nós recordamos a obra maravilhosa da nossa redenção, de modo a contemplarmos, como se se desenrolassem agora todos aqueles fatos que sucessivamente concorrem para torná-la ao mesmo tempo Mãe de Deus e Mãe nossa.
   A excelência desta dupla dignidade e o fruto deste duplo ministério mostram-se nos sob uma vivíssima luz, se piedosamente considerarmos a Virgem Maria ao lado de seu divino Filho nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos. Daí resulta sentir-se a alma inflamada de um vivo sentimento de gratidão para com ela; e, desdenhando todas as coisas deste mundo, esforçar-se com firme propósito por se tornar digna de tal Mãe e dos seus benefícios.
   Aliás, já que Maria, a mais amorosa de todas as mães, não pode deixar de se enternecer e de se mover à compaixão para com os homens por esta frequente e piedosa recordação de tais mistérios, o santo Rosário será., como temos dito, a oração mais oportuna para advogar junto a ela a causa de nossos irmãos dissidentes. Isto entra em cheio na missão da sua maternidade espiritual.
    De fato, aqueles que pertencem a Cristo, não os gerou Nossa Senhora, nem podia gerá-los, senão na unidade da fé e do amor a Ele. "Acaso Cristo foi feito em pedaços?" (1 Cor. 1, 13). Por isto, todos nós devemos viver juntos a vida de Cristo, de modo a podermos "colher frutos para Deus" (Rom. 7, 4), num só e idêntico corpo. Necessário é, pois, que todos aqueles que a maldade dos acontecimentos separou desta unidade sejam de novo, por assim dizer, gerados para Cristo, desta mesma Mãe que Deus tornou perenemente fecunda de santa prole.
   Ela, por sua parte, nenhuma outra coisa deseja mais ardentemente; e, se nós lhe oferecermos coroas tecidas desta oração a ela tão cara, Alaria lhes obterá em abundância os auxílios do "Espírito vivificados". Praza a Deus que eles não recusem secundar os desejos desta sua misericordiosíssima Mãe; e que, lembrados da sua eterna salvação, escutem este amoroso convite: "Ó filhos, por quem de novo sinto as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós" (Gal. 4, 19).

O Rosário difundido na Igreja do Oriente
   15. Havendo observado o grande poder do santo Rosário em tal terreno, alguns dos Nossos Predecessores procuraram por todos os meios difundi-lo nos países orientais. Primeiro entre todos, Eugênio IV com a sua Constituição Apostólica "Advesperascente", de 1139; depois Inocêncio XII e Clemente XI, que com a sua autoridade concederam, para este fim, largos privilégios à Ordem dos Frades Pregadores.
   E os frutos não se fizeram esperar longamente, graças ao zelo e à atividade dos religiosos dessa Ordem, como está provado por inúmeros e claros documentos; se bem que aos progressos de tal obra fizesse não pouco dano a prolongada contrariedade dos tempos. Mas, nos nossos. dias, naquelas regiões tem voltado a reflorir em muitos corações o mesmo entusiasmo pela devoção ao santo Rosário, que louvamos no principio desta Carta. E esperamos que este fato, tão condizente com os Nossos desígnios, seja utilíssimo à realização dos Nossos votos.

Novo templo à Virgem do Rosário em Patras
   16. A esta esperança se junta um fato consolados, que diz respeito tanto ao Oriente quanto ao Ocidente, e que é plenamente conforme aos Nossos desejos. Queremos referir-nos ao propósito, expresso no célebre Congresso Eucarístico de Jerusalém, de erigir-se um templo em honra da Rainha do Santíssimo Rosário em Patras, na Acácia, não longe daqueles lugares nos quais a proteção de Maria fez brilhar as glórias do nome cristão.
  Já muitos de vós, exortados pela Comissão, surgida com a Nossa aprovação, pressurosamente contribuístes para essa obra com subscrições, juntando-lhes também a promessa de um constante interesse até que a coisa esteja realizada. E, com isto, já se proveu a quanto basta para iniciar, sem mais, os trabalhos com a grandiosidade que convém a esta obra; e Nós já autorizamos lançar-se solenemente, o mais breve possível, a primeira pedra desse edifício. O templo surgirá em nome do povo cristão, qual monumento de perene gratidão à nossa Auxiliadora e Mãe celeste. Lá ela será invocada incessantemente em rito latino e grego, a fim de que, com sempre mais benévola assistência, se digne de ajuntar aos antigos novos favores.

Mostra-te Mãe!
   17. E agora, ó Veneráveis Irmãos, a Nossa exortação volta ao ponto do qual partiu. Eia, pois! que todos, pastores e rebanhos, especialmente no próximo mês, se coloquem, cheios de confiança, sob a proteção da augusta Virgem. Em público e em particular não cessem, com cantos, orações e votos, de invocar e suplicar concorde mente a Mãe de Deus e Mãe nossa: "Ah! mostra-te Mãe!". Que a sua clemência maternal queira preservar de todo perigo sua família inteira: que a conduza a uma verdadeira prosperidade, e, sobretudo, a estabeleça na santa unidade. Guarde ela com benevolência os católicos de todas as nações, e, unindo-os pelos vínculos da caridade, torne-os mais ativos e mais constantes em sustentar a honra da religião, da qual promanam, mesmo para os povos, os bens mais preciosos.
   Guarde, depois, com suma benevolência também os dissidentes: essas grandes e ilustres nações, essas almas eleitas, que sentem a dignidade cristã. Suscite nelas salutares desejos, e depois os alimente e os leve a cumprimento. Redundem em vantagem dos dissidentes orientais a ardente devoção que eles professam para com Nossa Senhora, e os numerosos feitos realizados pelos seus antepassados para a glória dela. Depois, em vantagem dos dissidentes ocidentais redunde a lembrança do salutar patrocínio com que ela teve como cara e recompensou a extraordinária piedade que todas as classes sociais lhe professaram por muitas gerações.
   Para estes dissidentes e para todos os outros, onde quer que se achem valha a voz unânime e suplicante de todos os povos católicos, e valha a Nossa voz, que até o último alento invocará: "Mostra-te Mãe!".
Entrementes, como auspício dos dons celestes e em atestado da Nossa benevolência, de todo coração concedemos a cada um de vós, ao vosso clero e ao vosso povo a Nossa Bênção Apostólica.

   Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 5 de Setembro de 1895, no décimo oitavo ano do Nosso Pontificado.
                                                                                                                                                                                                     LEÃO XIII PAPA.



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