Verdadeiramente,
ó santa mãe, uma espada transpassou tua alma. Alias, somente transpassando-a,
penetraria na carne do filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos
certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem
poupar um morto, não atingiu a sua alma, mas traspassou a tua alma. A alma dele
já ali não estava a tua, porem, não podia ser arrancada dali. Por isso a
violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mas do
que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal.
E pior que a espada, transpassando a alma,
não foi àquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito: Mulher, eis aí teu filho? (João 19,
26). O h! Que troca incrível! João, mãe,
te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo
mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus
verdadeiro. Como ouvir isso deixaria de traspassar tua alma tão afetuosa, se
até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?
Não vos admirem, irmãos, que se diga ter
Maria sido mártir na alma. Poderiam espantar-se quem não se recordasse do que
Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus
servos.
Talvez haja quem pergunte: “Mas não sabia
ela de antemão que iria Ele morrer?” Sem Dúvida alguma. “E não esperava que
logo ressuscitasse?” Com toda a confiança. “E mesmo assim sofreu com o
Crucificado?” Com toda a veemência. Alias, tu quem és ou donde tua sabedoria,
para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a
padecer? Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração?
É obra da caridade: ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: depois
dela nunca houve igual.
Dos
sermões de São Bernardo, abade. Extraído da Liturgia das Horas, p.1.281.
Fonte: Revista Ave-Maria p.13 –
setembro 2008.
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