Lourdes é
uma pequena cidade localizada no sudoeste da França, nos montes Pireneus,
pertencente à diocese de Tarbes; um dos santuários marianos mais
freqüentados.
No local
das aparições passa o rio Gave; ao lado está o rochedo Massabielle. Esta rocha
forma uma reentrância oval, que é a chamada gruta Massabielle, onde Nossa
Senhora apareceu 18 vezes no ano de 1858.
A vidente
é Bernardete Soubirous, de 14 anos. Sua família era muito pobre. Esta jovem
sofria de asma e tinha tendência à tuberculose. Foi uma moça quase sempre
doente.
História
da Aparição.
1ª
Aparição - 11 de fevereiro de 1858. Quinta Feira, um dia como
outros. Era inverno; às 11 horas da manhã quando Bernadete observou que tinha
acabado a lenha. Seu pai estava ainda deitado. Não tinha trabalho. Economizava
as forças para outro dia. O tempo não era convidativo para sair de casa.
Chuviscava e havia nevoeiro. Logo apanhou sua capa, chamou sua irmã Antonieta
Peyret (companheira de Bernardette) e convidou Joana Abadie, uma moça robusta e
forte, para acompanhá-las.
A mãe
proibiu: "Bernadete, não".
Ela
pensava no frio que fazia e que poderia trazer conseqüências à asma de sua
filha. Mas ela insistiu carinhosamente, dizendo-lhe que teria cuidado para não
se molhar e que iria com o capuz branco e o chale. A mãe concordou.
Saem às
três meninas no afã de cumprirem a tarefa, passa pela pradaria do Paraíso, a
ponte do canal que movimenta o moinho Savy, entram na pradaria do senhor La
Fitte e chegam na ponta de areia do rio Gave. À esquerda levanta-se uma rocha
íngreme com uma gruta na base. É a chamada gruta Massabieille. Embora seja
chamada de gruta, na verdade ela é constituída de uma acentuada concavidade na
rocha. A água do canal que movimenta os moinhos banha-lhe o lado esquerdo e
segue em direção ao Gave.
Joana
passa para o outro lado do canal com o pequeno feixe de lenha na cabeça.
Antonieta faz o mesmo, levando a lenha na mão. Como já do outro lado as duas se
manifestaram dizendo que a água do canal estava muito gelada, Bernadette
permaneceu ali, sem saber o que fazer, com receios de pisar na água fria, por
causa da asma, lembrando-se das recomendações de sua mãe.
Enquanto
as duas corriam pela praia do Gave a procura de lenha, ela depois de procurar
sem êxito, um lugar melhor para atravessar, sentou-se na margem do canal, em
frente à gruta, tirou uma das meias e preparava-se para tirar a meia do outro
pé, quando de repente, ouviu um barulho, "como se fosse um sopro de
vento". Não vê nada.
Olhou
para trás e observou que as folhas das árvores não se moviam.
Apareceu
uma "luz suave" que iluminou profusamente todo aquele lugar sombrio e
no meio dela, surge uma SENHORA maravilhosa, aparentando a idade de 16 a 18
anos, estava de pé, vestida de branco; o véu que cobria a cabeça descia até os
pés; em redor da cintura tinha uma estreita faixa azul; no braço direito levava
um terço; mantinha as mãos juntas e, nos pés, viam-se duas rosas douradas.
Abre os
braços num gesto de acolhimento, como quem convida a aproximar-se. Ela fica
espantada. É como se tivesse medo, "não para fugir explica melhor, mas
pela emoção do inusitado e adorável encontro". Esfregou os olhos diversas
vezes, para inteirar-se que não era um sonho e que realmente estava diante de
uma visão encantadora, que lhe sorria afetuosamente.
Então
conta, Bernadette: "Coloquei a mão no bolso e encontrei o terço. Queria fazer o
Sinal da Cruz, mas não pude levar a mão até a cabeça. A mão caiu-me. O espanto
apossou-se de mim mais fortemente, a minha mão tremia.
A visão
fez o Sinal da Cruz. Então tentei a segunda vez. E então pude. Logo que fiz o
Sinal da Cruz, a grande comoção que sentia desapareceu. Pus-me de joelhos e
rezei o terço na presença dessa linda Senhora. A Visão fazia passar as contas
do Seu Terço com os dedos, mas não mexia os lábios. Quando acabei o terço, ELA
fez um sinal para aproximar-me. Mas não ousei. Então “desapareceu de repente”.
Depois do
extraordinário acontecimento, Bernadete sentiu uma imensa felicidade que
envolveu completamente a sua alma de uma deliciosa satisfação que lhe tirava
todas as forças, para qualquer iniciativa.
Atravessou
o canal sem dificuldades, às águas estavam ligeiramente "aquecidas".
Sentou-se numa das grandes pedras que se encontravam na entrada da gruta e
permaneceu silenciosa e pensativa.
Voltam
suas companheiras com uma boa provisão de lenha e começam a dançar e pular na
entrada da gruta, para comemorar o êxito da missão.
Não
gostando de vê-las assim, para distraí-las pergunta: "Não viram
nada"?
- "E
tu, que é que viste"?
Ela
compreende o mistério que acabava de acontecer e sente que terá que guardar
este segredo, e por isso muda de assunto:
-
"Sois umas enganadoras. Vocês disseram que a água do canal estava fria,
achei-a agradável, estava morna".
Antonieta
e Joana não a levaram a sério, porque quando atravessaram o canal, a água
estava tão gelada, que do outro lado tiveram que esfregar os pés, fazendo
massagem para aquecê-los.
Bernadette
sentindo necessidade de falar, de contar aquela maravilhosa experiência, em
duas palavras narra tudo a Antonieta. Mas a irmã não acredita e pensa que
Bernadette está querendo incutir-lhe medo. Pega a lenha e também acelera o
passo para casa.
Mas o
caso dá para pensar, porque o acontecido é por demais singular.
Antonieta
apesar de ter prometido, em casa, na primeira oportunidade, "bate com a
língua nos dentes" e conta tudo à sua mãe. Luiza fica assustada "e
quer saber toda história e muito direitinho", por isso convoca a filha.
Entre o susto e o medo, ela quase nada falou. Sua mãe a repreende por tal
comportamento e o pai, que ainda estava deitado, acrescenta que não quer os
olhares dos outros caçoando de ninguém da família.
À noite,
na hora das orações, chorou muito, estava bastante comovida com tudo o que lhe
havia acontecido. Sua mãe faz-lhe outras perguntas, mas ela nada respondeu.
Entretanto,
no dia seguinte ela sente-se atraída a voltar à gruta. A mãe não lhe deixa e
imperiosamente ordena: "Para o trabalho". Ela obedece.
Na tarde
de sábado, dia 13, decide ir confessar-se. Conta tudo ao padre Pomian, que
silenciosamente ouviu o depoimento. Depois lhe perguntou, se podia contar ao
Abade Peyramale. Ela consentiu.
2ª
Aparição - 14 de fevereiro. No domingo dia 14, depois da Missa, as suas
colegas resolvem ir a sua casa, pedir consentimento para que ela voltasse à
Massabieille pois, desejavam ver também o que ela tinha visto. A mãe não
permitiu. Todavia depois de muita insistência das meninas, mandou que
conversassem com o pai, que estava tratando dos cavalos de João Maria Cazenave.
Com muito
jeito conseguiram autorização para se ausentarem somente por um tempo de 15
minutos. E como tinham receios de ser alguma aparição maldosa, decidiram levar
um frasco com água benta. Dividíram-se em dois grupos e foram para a gruta.
Ela
chegando primeiro com o seu grupo, ajoelhou-se e começou a rezar o terço,
enquanto as suas companheiras ficaram de pé ao seu lado.
Na
segunda dezena sua face mudou. Seus olhos brilharam fortemente e ela falou para
as colegas: "Hei-la! O terço está no braço... ELA olha para nos".
As
companheiras não viram nada. Rapidamente Bernadette apanha o frasco com água
benta que estava nas mãos de Maria Hillo e asperge com vigor na direção do
vulto, ao mesmo tempo em que o esconjurava: "Se vem da parte de Deus, fique
se não, pode ir embora".
Afirmou
posteriormente: "Quanto mais eu a regava, mais Ela sorria e gastei todo o
frasco".
A seguir
entrou em êxtase. Empalidece, não ouve mais o que as outras dizem.
As amigas
assustadas observam as suas reações.
Suas
companheiras acabaram por ficar preocupadas e por isso chamaram Nicolau, o
moleiro do moinho de Savy, para retirá-la dali. Mas não foi fácil, porque
parecia que ela tinha uma barra de ferro amarrada ao corpo, porque o seu peso
aumentou consideravelmente; com muito esforço transportou-a nos braços pelo
caminho, enquanto ela mantinha um sorriso nos lábios e os olhos fixos num ponto
do Céu.
As
meninas foram para as suas casas e as notícias chegaram até Lourdes.
Segunda-feira
dia 15, foi um dia terrível porque além de sofrer críticas, suas colegas
caçoaram dela.
Mas houve
pessoas que se interessaram pelo caso da gruta como Madame de Millet. Decidida
a conhecer a verdade, Madame de Millet conquistou Luiza, mãe de Bernadette,
dando-lhe trabalho e convenceu-a deixar sua filha voltar à gruta, em sua
companhia.
3ª
Aparição - 18 de fevereiro de 1858. Às 5
horas da manhã de quinta-feira dia 18,
Madame de Millet em companhia de Antonieta Peyret encontraram-se com
Bernadette, que ainda estava dormindo. Depois participaram da primeira Missa e
desceram para a gruta. Antonieta levou consigo caneta e tinteiro do pai, e
também papel, para a Visão escrever o seu nome.
Mal
começaram a rezar o terço, a vidente murmurou: "ELA aí está"!
Terminado
o terço, Antonieta entrega-lhe a caneta e o papel. Inocentemente Maria Bernarda
leva aqueles instrumentos em direção à Aparição e lhe faz a solicitação
combinada:
-
"Quer ter a bondade de escrever o seu nome"? A Aparição aproximou-se
dela, passando por uma fenda no nicho e da conversa de ambas, nunca se soube
nada.
Mais
tarde ela contou que, sorrindo, a Aparição lhe disse "que não era preciso
escrever" e pediu-lhe que voltasse ali: "Quer ter a amabilidade
de vir aqui durante 15 dias"?
Foi a
primeira vez que ouviu a maravilhosa voz da DAMA, e consentiu imediatamente em
voltar à gruta para encontrá-la.
Foi nesta
mesma ocasião que a Visão lhe falou:
-
"Não prometo tornar-te feliz neste mundo, mas no outro".
No
caminho de volta, pensativa Madame de Millet interrogou : "E se fosse a
Santíssima Virgem Maria"?
As
noticias espalharam-se. São formuladas as mais diversas hipóteses sobre o que
vai acontecer durante a quinzena de Aparições. A expectativa é coletiva.
4ª
Aparição - 19 de Fevereiro. - A vidente ouviu um tumulto de vozes
selvagens que parecia saírem da terra e que foram estourar como uma grande
explosão, sobre o rio Gave. As vozes mostravam muita revolta e raiva (eram
demônios). Um deles gritou mais forte: "Bernardette, salva-te! Vai embora
daqui! Vai embora daqui!" A jovem, assustada, pediu ajuda à Aparição. A
Virgem MARIA logo se virou para aquela direção, fazendo um semblante ameaçador
e tudo cessou imediatamente.
5ª
Aparição - 20 de fevereiro - A
Virgem MARIA ensinou como fazer bem o sinal da Cruz. A partir deste momento,
muitas testemunhas disseram que Bernardette fazia sempre o sinal da
Cruz de modo digno, respeitoso e cheio de fé!
Nossa
Senhora ensinou pacientemente, palavra por palavra, uma oração só para
Bernadette, que ela devia repetir todos os dias.
6ª
Aparição - 21 de fevereiro – A
vidente escreve: “A Senhora desviou durante um instante de mim o seu olhar, que
alongou por cima da minha cabeça. Quando voltou a fixá-lo em mim, perguntei-lhe
o que é que a entristecia e Ela respondeu-me:
A Virgem
MARIA disse: "Reza pelos pecadores pelo mundo tão revolto."
Depois da
Aparição do domingo, dia 21, o comissário Jacomet, levou-a para um minucioso
interrogatório no qual se certificou da simplicidade e da sinceridade da menina
e ficou sabendo de outros detalhes da Aparição, apesar de intencionalmente
querer confundi-la e forçá-la a não voltar à gruta.
Ela
contou assim:
- "A
DAMA usava um vestido branco, apertado na cintura por uma fita Azul, um véu
branco na cabeça que descia até a altura do busto. 0 vestido era longo e cobria
os pés, deixando aparecer só as extremidades, com uma rosa amarela em cada pé,
da mesma cor da corrente do terço que trazia na mão direita. Olhava com
suavidade e tinha os olhos completamente azuis".
O
interrogatório terminou quando populares conseguiram colocar o pai Francisco
Soubirous na sala do Comissário para proteger a filha.
7ª
Aparição - 23 de fevereiro.
A
Vidente, caminhando de joelhos e beijando o chão, vai do lugar onde se
encontrava até à gruta. Nossa Senhora comunica-lhe um segredo que a ninguém
podia revelar.
8ª
Aparição - 24 de fevereiro.
Na
quarta-feira, dia 24, a quantidade de pessoas era maior e já ofereceu certa
dificuldade para ela chegar ao seu local na entrada da gruta. Havia cerca de
300 pessoas ávidas de presenciarem algum fato novo. Algumas eram curiosas, mas
a maior parte estava postada respeitosamente, em contrita oração, na certeza de
que estavam na presença da Mãe de Deus.
Terminada
a reza do terço, Bernadete avançou dois passos, arrastando-se de joelhos e
prostrando-se com a face na terra beija-a atendendo ao pedido da Aparição, num
gesto de penitência. O povo não entendeu. Mas depois ela explicou que a
Aparição tinha falado uma palavra nova. A Santíssima Virgem disse estas palavras:
“Reza a Deus pelos pecadores!
Penitência! Penitência! Penitência!
Beija a terra em penitência pela conversão dos pecadores!"
9ª Aparição
- 25 de fevereiro
No dia
seguinte, a movimentação ao redor de Massabieille começou cedo. Desde as duas
horas da manhã as pessoas procuravam localizarem-se nos melhoras lugares.
No
momento em que Maria Bernarda chegou, havia mais de 350 pessoas.
Como de
costume, rezou o terço em êxtase, depois entregou a Eléonore Pérard, que estava
a seu lado, a vela acesa que sempre levou nos seus encontros com a Aparição,
dando-lhe também seu capuz. A seguir, sobe de joelhos a pequena declividade até
o fundo da gruta. De trecho em trecho faz uma parada e beija o chão. Bem em
baixo do nicho, onde se encontrava a Visão, pára e conversam.
A Senhora
disse-me:“Vai beber a fonte e lavar-te nela”
A seguir
arrasta-se de joelhos até o rio Gave. Lá, qualquer coisa a detém e ela volta,
agora de pé, para o interior da gruta. Abaixa-se e arranha o chão com as mãos e
depois cava como se quisesse fazer um buraco. O orifício encheu-se de lama que
ela recolhe e passa no rosto, tentou três vezes pegar água, na quarta vez
conseguiu.
A Senhora
também me disse:“Come daquela erva que ali
está!”
E comi
ervas de folhas cheias de amebinos que cresceram no fundo da gruta.
Terminada
a Aparição, volta com o rosto todo lambuzado de barro, causando de certa forma,
consternação ao público. A todos
que lhe perguntava explicou: "A DAMA me mandoueu beber água na fonte
e lavar-me nela. Não vendo água, fui ao Gave. Mas ELA fez-me sinal com o dedo
para ir debaixo da rocha. Depois de cavar, encontrei um pouco de água como se
fosse lama, tão pouca que apenas pude tomar alguma na cova da mão. Três vezes a
joguei fora, de tal modo estava suja. Na quarta vez pude. Depois recolhi e comi
um pouco de ervas. ELA
pediu-me que fizesse isto pelos pecadores".
À tarde,
algumas pessoas voltaram à gruta e entre elas Elèonore Pérard. Observaram o
buraco que Bernadete cavou, estava uma poça de água lamacenta. No meio dela
Eléonore espetou um pau. Apercebeu o ruído da água que corria. Algumas pessoas
tentam bebê-la: a água jorra com mais força e vai ficando mais clara, à medida
que cavam para recolhê-la.
Começam
então a compreender a mensagem:
"uma
fonte de água que lavará a alma suja dos pecadores, dos que se arrependem de
seus desacertos, daqueles que têm fé em Deus, produzindo o milagre da conversão
e da cura dos males".
A notícia
espalhou-se. Todos querem beber da água da fonte que brotou no terreno árido do
fundo da gruta. Outros a recolhem e levam para seus parentes necessitados.
Muitos comentários surgiram e as noticias de curas ouve-se por todas as partes.
Neste
mesmo dia é interrogada pelo Procurador Imperial, senhor Dutour, que a exemplo
de Jacomet, tentou por todos os meios dissuadi-la a não voltar à gruta, dizendo
que aquilo era ilusão . Tudo em vão, permaneceu tranqüila ao lado de sua mãe e
até achou momentos para rir, quando o senhor Dutour mostrando-se nervoso, com a
caneta na mão não achava o buraco do tinteiro.
Em face
do interrogatório, Bernadette responsavelmente antes de tomar qualquer
iniciativa foi ouvir a opinião de seus parentes sobre a proibição imposta pelo
senhor Dutour de voltar à Massabieille. Sua tia Bernarda falou:
-
"Eu no seu lugar ia"!
Sem dizer
uma palavra, apanhou seu capuz e seguiu para a gruta. Lá encontravam-se mais de
600 pessoas. Foi rezado o terço e feito alguns exercícios de penitência, mas
"Aquerò" como ela chamava a Aparição, não veio.
10ª
Aparição - 27 de fevereiro. Nesta visita, a Virgem Imaculada tornou a mandar beijar o chão em
penitência pelos pecadores.
11ª
Aparição - 28 de
Fevereiro. A Senhora
sorriu e não respondeu quando a Vidente lhe perguntou o nome.
Mais de
1.150 pessoas presenciaram diversas práticas de penitência e a reza do terço em
êxtase. É como dizia:
- "É
por penitência, por mim primeiro, pelos outros depois".
12ª
Aparição - 1º de março. Na Aparição manda a Bernadette rezar o terço
pelas suas contas e não pelas duma companheira, Paulina Sans, que lhe tinha
pedido para usar as suas.
No dia
seguinte, segunda-feira, 1º de março, a multidão foi calculada em 1.500
criaturas e viam-se pessoas de todas as classes. Para a curiosidade geral,
desponta entre elas a batina preta do Padre Dêsirat. Ele não é de Lourdes e não
sabe da proibição imposta ao clero pelo Abade Peyramale. Sua presença causa
sensação e em poucos momentos vê-se na primeira fila, com sua miopia compensada
por óculos de grossas lentes, numa posição bem próxima da vidente. A descrição
que ele faz dos fatos diz tudo:
"O
sorriso ultrapassa toda a expressão humana. O artista mais hábil, o ator mais
consumado, nunca poderá reproduzir-lhe o encanto e a graça! Impossível
imaginar. 0 que mais me tocou foi a alegria e a tristeza que se lhe desenhavam
no rosto. Quando um destes fenômenos sucedia ao outro, era com a rapidez do
relâmpago. No entanto nada de brusco: uma transição admirável.
Eu
tinha observado a criança quando ela chegou e se dirigia à gruta. Tinha-a
observado com escrupuloso cuidado. Que diferença entre o que ela era e o que eu
vi no momento da Aparição! Respeito, silêncio, recolhimento por toda a parte.
Ó, como era bom estar lá! “Eu julgava-me no vestíbulo do Paraíso”.
Foi
também neste mesmo dia, quando ocorreu a 12ª Aparição em que aconteceu o
primeiro dos sete milagres escolhidos pelo Bispo e considerado realmente como
"Obra de Deus".
"Catarina
Latapié, proveniente de uma queda de um carvalho, na qual subira para tirar
bolotas para os porcos, teve o braço deslocado e dois dedos da mão direita
dobrados e paralisados. 0 fato aconteceu em outubro de 1856 e o médico só
conseguiu consertar o seu braço, mas os dedos não tiveram jeito. E isto a
impedia de fazer o seu trabalho, não a deixava tricotar e nem fiar, estava
sendo a sua ruína.
Apesar de
encontrar-se grávida de 9 meses, saiu a pé de sua casa na noite do dia 28 de
fevereiro, para Lourdes, distante 7 quilômetros, levando os seus dois filhos
mais novos.
Assiste a Aparição do dia 1º de março e faz
fervorosas preces a Deus por intercessão de Nossa Senhora, pedindo a sua cura.
Terminada a aparição, sobe até o fundo da gruta e mergulha a mão na fonte que
tinha formado cujas águas deslizavam mansamente formando um pequeno regato que
corria para o Gave. Um
estremecimento acompanhado de uma grande suavidade invadiu todo o seu ser. Ela
sentiu de repente, voltar à flexibilidade aos seus dedos. Vibrou de alegria e
chorou de satisfação. Emocionada iniciou os seus agradecimentos pela graça
alcançada, quando súbitamente sente uma violenta dor nas entranhas, como
prenúncio do próximo nascimento de mais um filho. Num gesto ligeiro e contrito,
ajoelha-se e com as mãos postas suplica:
-
"Virgem Santa, Vós que acabais de me curar, deixai-me chegar em
casa"!
Levantou-se,
pegou nas mãos de seus filhos e seguiu para sua casa em Loubajac. “Assim que
chegou, mal teve tempo de chamar à parteira, deu à luz um sadio garoto que
recebeu o nome de João Batista e que mais tarde tornou-se sacerdote”.
13ª
Aparição - 2 de março eram mais de 1.650 pessoas em Massabieille. Com
maior dificuldade Bernadete chegou ao "seu local". Na Aparição a
Senhora disse:
-
"Vai dizer aos sacerdotes que tragam o povo aqui em procissão e Me
construam uma Capela".
Por essa
razão, mais tarde em companhia das tias Bernarda e Basília , foram encontrar-se
com o Abade Peyramale, para levar-lhe a notícia.
O Senhor
Abade era um homem severo, de caráter íntegro e muito exigente na observância
do direito e da ordem. Já tinha ouvido os comentários sobre Bernadette e as
Aparições na gruta, assim como as notícias de curas e os comentários maldosos
do jornal local. Não se decidira sobre os fatos, mesmo porque não dispunha de
elementos que lhe oferecesse condições de optar. Intimamente aceitava com
simpatia a possibilidade de a Aparição ser verídica, em face dos muitos
comentários favoráveis. Mas na sua posição, não podia considerar comentários e
nem indícios, era preciso haver alguma coisa sólida, que se mostrasse de modo
concreto, para que pudesse apreciar os acontecimentos. E apesar de possuir um
coração bondoso e paternal, o momento exigia que procedesse com cautela, até
com rudeza, se fosse necessário, para deixar aparecer à verdade transparente.
-
"És tu que vais à gruta"?
-
"Sim, Senhor Abade".
- "E
dizes que vês a Santíssima Virgem"?
-
"Eu não disse que era a Santíssima Virgem".
-
"Então quem é essa Senhora"?
-
"Eu não sei".
-
"Ah, tu não sabes! Mentirosa! E no entanto, esses que fazes correr atrás
de ti dizem e o jornal imprime, que tu pretendes ver a Santíssima Virgem. Então
o que é que tu vês"?
-
"Qualquer coisa que parece uma Senhora".
-
"Ora essa! Uma Senhora! Uma procissão"!
Aborrecido
olha para as duas tias que a acompanha e lembra-se que elas conceberam antes de
se casarem, e desabafa:
-
"Que desgraça ter uma família destas que faz a desordem na cidade!
Desapareçam daqui imediatamente"!
As três
saíram o mais depressa que puderam e imaginem o tamanho do "apuro"...
Disse Bernadete:
-
"Não me apanham mais a vir à casa do Senhor Abade"!
Mas, logo
que caminharam alguns passos, lembrou-se que não tinha transmitido toda a
mensagem ao Senhor Abade. Esquecera-se de falar na "Capela". Quis
voltar, mas as tias protestaram:
-
"Não contes comigo! Tu põe-nos doentes"!
Depois de
muito procurar, conseguiu que Dominiquette Cazenave a acompanhasse. Marcaram
uma entrevista para as 19 horas. Estavam lá além do Abade Peyramale os Padres
Péne, Serres e Pomian (o confessor dela). Transmite a segunda parte do recado:
-
"Vai dizer aos sacerdotes para construírem aqui uma Capela".
-
"Uma Capela? Como para a procissão? Estás certa disso"?
-"Sim,
senhor Abade, estou certa".
-
"Ainda não sabes como ela se chama"?
-
"Não, Senhor Abade".
-
"Pois bem, é preciso perguntar-lhe".
Depois de
responder mais algumas perguntas dos outros padres, despediu-se, e com sua
acompanhante voltou para casa.
No dia
seguinte mais de 3.000 pessoas a aguardavam na gruta. A multidão rezava ansiosa
desde muito cedo. Mas a Visão não apareceu. E como nos dias 22 e 26 de
fevereiro, regressou perturbada.
Todavia,
neste mesmo dia, mais à tarde, voltou à gruta e desta vez encontrou-se com a
Visão.
Ao
regressar à cidade, foi conversar com Peyramale:
-
"Senhor Abade, a Senhora sempre quer a Capela".
-
"Perguntaste-lhe o nome"?
_
"Sim, mas ela apenas sorriu".
-
"Troça valentemente de ti". - Faz uma pausa e depois diz: -
"Pois bem, se ela quer a Capela que diga o seu nome e faça florir a
roseira da gruta. E então nós mandaremos construir uma Capela e não será muito
pequena, será muito grande".
14ª
aparição - 3 de março. A Senhora
não aparece à hora habitual, mas sim ao entardecer e deu explicação. “Não me viste esta manhã
porque havia pessoas que desejavam examinar o que fazias enquanto eu estava
presente. Mas elas eram indignas. Tinham passado a noite na gruta,
profanando-a.”
15ª
Aparição - 4 de março. No
segundo mistério do primeiro terço, Bernadette começa a ver Nossa Senhora.
Acabou esse terço e rezou outros dois, refletindo ora alegria, ora tristeza.
Durante esta quinzena, Nossa Senhora comunicou à menina três segredos e uma
oração com esta ordem: “Proíbo-te de dizer isto, seja a quem for.”
Era
aguardado com grande expectativa porque era o último da quinzena de aparições.
A polícia pediu reforço policial de d'Argelès e de Saint Pé, cidades vizinhas
de Lourdes, para ajudar na manutenção da ordem, no sentido de evitar qualquer
excesso. A estimativa era para mais de 8.000 pessoas ao redor da gruta. Para que
Bernadette pudesse chegar ao local, fizeram uma passarela de madeira, que lhe
facilitou o acesso. Ela veio acompanhada de sua prima Joana Véderè, que tinha
30 anos de idade e ficaram juntas perante a Aparição.
Ajoelharam
e começaram a rezar o terço. Quando iniciavam a terceira Ave Maria da segunda
dezena, entrou em êxtase.
A
multidão com o olhar acompanhava tudo e apreciava a beleza do Sinal da Cruz que
ela fazia.
O
comissário Jacomet tirou o seu caderninho de Notas e escreveu "34"
sorrisos e "24" saudações em direção a gruta.
Terminada
a Aparição, apagou a vela e, indiferente a presença de toda aquela gente, tomou
o caminho de sua casa.
Muitos
ficaram desapontados e perplexos, porque esperavam algum milagre ou alguma
revelação. Não aconteceu nada, visualmente. No ar ficaram muitas perguntas e
uma grande expectativa: será que terminaram as Aparições?
Maria
Bernarda foi encontrar-se, com o Senhor Abade e dar-lhe notícias do
"encontro".
-
"Que te disse a Senhora"?
-
"Perguntei-lhe o nome... Ela sorriu. Pedi-lhe para fazer florir a roseira,
ela sorriu outra vez. Mas ainda quer a Capela".
-
"Tu tem dinheiro para fazer essa Capela"?
-
"Não, Senhor Abade".
-
"Eu também não. Diz à Senhora que lhe dê".
Peyramale
estava desconsolado por não ter obtido nenhuma informação segura, sobre a
Aparição. Ela também, mas sem poder fazer nada, voltou triste para casa.
No dia 18
de março é submetida a um severo interrogatório e declara:
-
"Não penso ter curado quem quer que seja e de resto não fiz nada para
isso. Não sei se voltarei à gruta".
Mas
independentemente das aparições continuarem ou não, a afluência era cada vez
maior. Diariamente muitas pessoas iam lá para rezar, para recolher água da
fonte ou para bebê-la. Todos acreditavam que quem esteve lá foi a Santíssima
Virgem. As velas multiplicavam-se no dia 18 eram 10; no dia 19 havia 21 velas;
já no dia 23, colocaram no nicho das aparições, uma imagem de gesso da Virgem
Maria, doada por um senhor, Felix Maransin
Do dia 4
de março quando ocorreu a última aparição, ou seja a 15ª, até o dia 25 do mesmo
mês, Bernadete procurava levar uma vida normal, ao lado de seus familiares no
"cachot". Mas foi impossível, porque era solicitada para
interrogatórios, por visitantes que faziam filas intermináveis à porta de sua casa,
querendo conversar, abraçá-la e pedir-lhe que tocasse com as mãos em objetos
que levavam. Eram pessoas que buscavam graças e outras que vinham contar
milagres alcançados pela bondade e o carinho intercessor de Nossa Senhora.
Não tinha
mais sossego. Às vezes quase perdia a paciência:
-
"Tragam-me todos ao mesmo tempo".
De outras
vezes, cansada, precisando de repouso. Queria isolar-se: "Fechem a porta à
chave"!
E jamais
aceitou e não deixou que nenhum de seus familiares aceitassem gratificações em
dinheiro ou presentes, por qualquer razão que fosse: "Isso me queima! Por
favor, não façam isso"!
Quando lhe
perguntavam se a Dama voltaria, simplesmente dizia que não sabia. Só podia
afirmar que ELA queria sempre uma Capela e que os sacerdotes fossem em
procissão à gruta.
16ª
Aparição - 25 de março. Na manhã da festa da Anunciação a
Revelação: “Eu
sou a Imaculada Conceição”.
No
despertar daquele dia 25 de Março de 1858, Bernadette sentiu-se novamente
'pressionada' para ir à gruta. Era uma força estranha que nascia em seu
interior, que não sabia explicar. Mas era muito cedo e seus pais lhe
aconselharam esperar o dia clarear. Às 5 horas da manhã já se pôs a caminho.
Depois de rezar o terço em êxtase, levantou-se e caminhou em direção à Aparição
e conversaram: “Mademoiselle, quer ter a bondade de me dizer quem és se faz o
favor”?
“Aqueró”
sorriu, não respondeu.
Ela
insiste na solicitação, a segunda e a terceira vez, obtendo como respostas um
sorriso carinhoso e modesto da Visão.
Mas
Bernadette tinha a necessidade de saber o nome DELA, precisava levar esta
notícia ao Senhor Abade, porque caso contrário, ele não construiria a Capela.
Por isso, com mais amor e decisão insistiu uma quarta vez suplicando que ELA
dissesse o seu nome.
Desta
vez a Aparição não sorriu mais, ficou séria.
As mãos
que estavam unidas afastaram-se estendendo sobre a terra e depois novamente
juntas à altura do peito, levantou os olhos ao Céu em sinal de profunda humildade
e obediência a Deus e disse: “EU SOU A IMACULADA CONCEIÇÃO”. Dito isto, desapareceu.
Bernadette
retornou a si e para não se esquecer das palavras, repetiu-as várias vezes em
seguida, tropeçando nas letras que mal sabia pronunciar. Fugiu das perguntas de
todos e correu para a casa do Senhor Abade Peyramale. Lá chegando, antes mesmo
de cumprimentá-lo gritou: ' Que soy era Immaculada Councepciou' (no seu dialeto
patois de Lourdes) 'Eu sou a Imaculada Conceição'.
O Abade
ficou perplexo. Não sabia se sorria ou ocultava o seu júbilo, procurando num
último esforço, certificar-se do óbvio:
-
'Pequena orgulhosa, tu és a Imaculada Conceição'!
- 'Não,
não, não eu'.
Peyramale
sente que está diante de uma grande revelação: 'A Virgem é concebida sem
pecado'.
Apesar
de ter sido decretado em 8 de dezembro de 1854 , o Dogma da Imaculada Conceição
de Maria não era aceito por todos os católicos, principalmente por alguns
teólogos que defendiam a universalidade da redenção e do Pecado Original. Isto
é, atribuíam a Nossa Senhora o mesmo privilégio que teve João Batista, de ter a
santificação antes do nascimento. Mas não aceitavam a imunidade do Pecado, isto
é, não aceitavam que Maria Santíssima fosse preservada do Pecado Original,
mesmo considerando a sua condição especial de Mãe do Redentor.
Por este
motivo o Abade explodia intimamente de satisfação e se preocupava em saber da
realidade. Pela santíssima vontade de Deus, a partir daquele momento Nossa
Senhora deixava realçar com todo brilho, a sua grandeza notável e ilimitada,
porque ELA própria confirmava que teve uma Conceição Imaculada. Por isso
Peyramale se debatia:
- 'Uma
Senhora não pode usar esse nome! Tu enganaste sabes o que isso quer dizer'?
Maria
Bernarda diz que não, abanando a cabeça.
-
'Então como podes dizê-lo, se não compreendes o que é'?
-
'Repeti todo o caminho'.
No
silêncio que se seguiu, Peyramale ficou pensativo com um suave sorriso nos
lábios. Bernadete interrompe o silêncio e diz:
- 'ELA
sempre quer a Capela'... O Abade
no íntimo deve ter respondido que não só uma Capela, mas uma monumental
Basílica. A partir daquele momento a DAMA estava dispensada de fazer qualquer
milagre, de fazer florir a roseira selvagem da gruta. Era ELA, a Mãe de Deus, a
Nossa Querida Mãe que veio visitar-nos com o objetivo de revelar-nos um grande
mistério divino e pedir
penitência ao mundo, para que
todos rezassem pela conversão dos pecadores e tivessem uma conduta responsável e digna. Peyramale estava
emocionado. Tentava esconder sua alegria e por isso, para salvar as aparências,
falou com ela: 'Vai para casa, falaremos outro dia'.
Os dias
passaram e o clero com muita alegria e vibração comemorou a revelação do grande
mistério.
Dia 6
de abril Bernadette, sentiu-se novamente 'pressionada' para voltar à gruta.
Aquela força estranha e agradável a impulsionava para Massabieille. Como já
havia passado das 15 horas, foi encontrar-se com o Padre Pomian no
confessionário. Algumas pessoas que a observava se incumbiram de espalhar os
boatos. A cidade ficou na expectativa de algum acontecimento.
17ª
Aparição - 7 de abril. Nossa
Senhora nada disse, mas verificou-se nesta aparição o chamado milagre da vela.
A vela benta, que Bernadette segurava, escorregou-lhe pela mão atingindo-lhe os
dedos.
- Meu Deus, ela queima-se! - gritam várias pessoas.
- Deixem-na estar! Ordena o Dr. Dozous.
Bernadette não se queimou.
No dia seguinte, quarta-feira da Páscoa, antes do sol nascer já se encontrava
na gruta, acompanhada inicialmente por uma centena de pessoas que logo aumentou
para 1.000, quando iniciou a reza do terço.
Nas primeiras AVES MARIA da primeira dezena, entrou em êxtase. 0 Doutor Dozous,
que vinha estudando o seu caso, surge no meio da multidão pedindo passagem,
pois queria estar ao lado dela, para presenciar suas reações fisionômicas. E abrindo
passagem entre o povo que contritamente rezava dizia:
- 'Não venho como inimigo, mas em nome da ciência. Corri e não posso me expor
às correntes de ar. Só eu posso verificar o fato religioso que aqui se dá,
deixem-me prosseguir este estudo'.
Neste dia, ela utilizava uma grande vela que se apoiava no chão. Foi fornecida
por uma pessoa que tinha alcançado uma graça. Com sua mão tentava proteger a
chama da vela, da corrente de ar. Mas no transe em que se encontrava, não
posicionou corretamente a mão esquerda em forma de concha sobre o pavio aceso,
de modo que a chama da vela passava por entre os seus dedos.
- 'Mas ela queima-se' - gritaram da multidão.
- 'Deixe estar' - pediu Dozous.
Ele não acreditava naquilo que seus olhos viam, os sorrisos de Bernadete, os
Sinais da Cruz, feitos com tanta graça, sua fisionomia séria em vários momentos
compartilhando duma tristeza da Visão e a chama da vela que passava por entre
seus dedos, sem queimá-los, sem provocar dores.
Terminado o êxtase, examinou as mãos da vidente e não encontrou o menor sinal
de queimadura. Para testar a sua sensibilidade, acendeu a vela e sem que ela
percebesse, aproximou a chama de sua mão. Ela gritou e protestou: 'Está
querendo me queimar'? Dozous, homem de atitudes extremas, viu crescer
repentinamente em seu coração uma fé gigantesca. Da mesma forma que seu caráter
explosivo o levava muitas vezes a defender suas convicções abertamente e com
decisão, espalhou a novidade com disposição, convencido que estava diante do
sobrenatural na gruta de Massabieille.
No 'Café Francês' que era o ponto de convergência para os 'bate-papos' também
para os 'mexericos', Dozous proclamou com segurança e fartos argumentos, a
existência do extraordinário em Lourdes. Em dado momento, ele assim
expressou-se: 'É um fato sobrenatural para mim, ver Bernadete ajoelhada
diante da gruta, em êxtase, segurando uma vela acesa e cobrindo a chama com a
mão esquerda, sem que pareça sentir a mínima impressão do contato com o fogo.
Examinei-a. Não encontrei nem o mais ligeiro sinal de queimadura'.
Mas continuava a existir também os descrentes, aqueles que não aceitavam os
fatos e caçoavam dos freqüentadores da gruta. Eles atuaram sobre os
administradores pedindo providências contra 'aquilo' que chamavam de
'palhaçada'. O Prefeito resolveu proibir o acesso a gruta. Mandou retirar todos
os objetos religiosos que tinham sido colocados lá.
Os pais e amigos de Bernadete, para evitar complicações, a enviaram para Cauterets,
a titulo de tratar de sua asma. Contudo a sua ausência em nada influiu no
fervor das almas piedosas, que se manifestavam claramente e todos os dias. Eram
organizadas procissões, cânticos e orações com a maior participação possível.
Por outro lado, alguns procuravam dotar a gruta de certo conforto, colocando na
fonte de água uma bacia com três torneiras, para facilitar a utilização.
Pedreiros, carpinteiros e funileiros trabalhavam gratuitamente e com
desprendimento, melhorando o acesso, colocando uma tábua furada para receber as
velas, empregando os seus esforços com o objetivo de tornar a gruta um recanto
aprazível de devoção mariana.
As autoridades vendo que não conseguiam nem acabar e nem diminuir a freqüência
das visitas à gruta, decidem fechá-la. No dia 15 de junho o Prefeito mandou
fazer uma barreira constituída por uma paliçada de madeira, que isolava a área
da gruta.
O povo, no dia 17, destruiu a paliçada. As barreiras são reconstruídas no dia
18 e são demolidas pelo povo na noite do dia 27. Tornam a serem reconstruídas
no dia 28 de junho, para novamente serem demolidas na noite do dia 4 de julho.
No dia 8 de Julho a Igreja intervém oficialmente, pela primeira vez, pedindo
tranqüilidade ao povo e respeito às autoridades.
No dia 10 foram levantadas as barricadas novamente. Bernadete mantinha-se
distante eindiferente a toda esta movimentação. Nas oportunidades que surgiam,
recomendava obediência e desaconselhava que arrebentassem a paliçada na gruta.
18ª
Aparição - 16 de julho. Como é festa de Nossa
Senhora do Carmo, a Vidente assiste à missa e comunga na igreja.
Ao
entardecer sente que Deus a chama para a gruta, como
das vezes anteriores, e lá chegou por um caminho que ninguém suspeitou. Foi em
companhia de sua tia Lucilia, camuflada com um capuz emprestado; mas não pode aproximar-se devido à sebe, e aos soldados que, por
malvada ordem do governo, cercam o recinto.
Junto à
cerca de tábuas que isolava a gruta, encontrava-se um grupo de pessoas, que de
joelhos e silenciosamente rezavam. Ela ajoelhou e acendeu sua vela. Duas
congregadas marianas que a reconheceram, juntaram-se a ela e à sua tia, em
silêncio. Apenas começara o terço, as suas mãos afastaram-se comovidas, numa
saudação de alegria e surpresa. Nossa Senhora estava lá. A sua face iluminou-se
e suas feições adquiriram uma indescritível formosura.
A menina
contempla a Senhora, de além do rio e da sebe.
Terminada
a reza do terço, pelo seu rosto podia-se ver estampada a felicidade que brotava
de seu íntimo, a alegria de mais uma vez ter-se encontrado com a MÃE de DEUS.
Ela não comentou nada. No caminho de regresso, apenas disse: “Não via
o rio, nem as tábuas - explicará ela mais tarde. Parecia-me que entre mim e a
Senhora, não havia mais distância que das outras vezes. Só via a ELA. Nunca a
vi tão bela”
Foi o
último adeus da Senhora até ao céu.
Aconteceu
como se fosse uma visita de despedida, Nossa Senhora sempre bondosa, cheia de
carinho e atenção, desceu à terra mais esta vez, para o derradeiro adeus à sua
amiga.
Qual é a mensagem que
se desprende das 18 aparições de Lourdes?
“O
elemento principal - responde Laurentin, grande teólogo da Virgem - é a
manifestação de Maria na
sua Imaculada Conceição... O resto é
em função deste primeiro elemento e pode também resumir-se numa palavra: “em
contraste com a Virgem sem mancha, o pecado...” Mas, inimiga do pecado, Ela é também amiga dos pecadores,
não enquanto estão ligados às suas faltas ou se gloriam delas, mas enquanto se
vêem esmagados pelos sofrimentos físicos e morais, conseqüência do pecado.
Reduzida à sua expressão mais simples, poderíamos sintetizar desta forma
a mensagem de Lourdes: A Virgem sem pecado, que vem socorrer os pecadores.
E para isso propõe três meios: “A Fonte
De Águas Vivas, Oração, e Penitência!”
Lurdes nos dias de
hoje...
Desde
1858 até hoje, contínuas multidões se têm reunido na basílica de Nossa Senhora
de Lourdes, às vezes presididas por papas ou seus legados, e muito mais
freqüentemente por bispos e cardeais.
Os
milagres de curas são estudados com todo o rigor e só reconhecidos quando de
todo certos. Mais numerosas são as curas de almas, embora mais difíceis de
contar.
Como vimos Nossa Senhora pediu a Bernadette que se dirigisse aos sacerdotes e
lhes dissesse que levantassem uma capela no lugar das aparições.
- “Uma capela!”, comentou um sacerdote a quem foi comunicado o pedido.
“Tens tu dinheiro para erguê-la?”
- “Não tenho”, disse com muita naturalidade a Vidente.
-
"Pois nós também não. Diz a essa Senhora que to dê".
Maria Imaculada deu muito mais que dinheiro. Abriu-se o céu,
choveram e continuam a chover ainda agora os seus tesouros. “O dedo de Deus”
está em Lourdes há mais de cem anos.
Quanto ao
caráter sobrenatural das Aparições, indicamos alguns pensamentos que deveriam
ser cotejados com os fatos decorridos:
Bernadette estava de perfeita boa fé ao relatar as manifestações recebidas, e,
sendo a menos nervosa das meninas, não foi vítima de exaltação entusiasta. O
caráter sobrenatural deduz-se da atitude que prudentemente assumiu a hierarquia
da Igreja: o pároco, o bispo e tantos outros prelados e mesmo os vários Papas.
E
tenha-se presente que o estudo dos pretensos milagres se faz em Lourdes por uma
comissão médica que trabalha com máxima seriedade.
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