domingo, 9 de dezembro de 2012

A VIRGEM MARIA À ESCUTA DO VERBO




   Maria é o “arquétipo” da Igreja, porque é originalmente as duas coisas ao mesmo tempo: lugar de habitação real e corporal do Verbo até a intimidade de uma única carne de mãe e filho, isto porém a partir da condição espiritual de serva, com toda sua pessoa corporal e psíquica, que não admite nenhuma lei própria a não ser a conformidade com a vontade de Deus. Porque ela é Virgem, isto é, ouvinte exclusiva da Palavra, ela se torna mãe, lugar de encarnação do Verbo. Seu “Seio” não é bem-aventurado senão porque ela “ouviu e observou” a palavra de Deus (Lc 11, 27-28). Toda contemplação deve sempre tomar Maria como modelo, para se precaver contra o duplo perigo: considerar a Palavra como algo somente exterior, em vez de considerá-la como mistério mais profundo no centro de nós mesmo, como aquele no qual vivemos nos movemos, e existimos (At 17, 28); e considerar a Palavra como uma palavra tão interior que a confundimos por fim com nosso próprio ser, com uma sabedoria disponível à nossa vontade, tendo-nos sido naturalmente dada em partilha, de uma vez para sempre...
   O ser que escuta, absolutamente falando, é a Virgem que concebe o Verbo e O gera como seu filho e como o Filho do Pai. Entretanto, ainda que mãe, ela permanece serva; o Pai, só Ele é o Senhor, com o Filho que é a vida de Maria e modela esta vida. Maria é função do fruto do seu ventre. Mesmo após tê-lo gerado, carrega-O em si; ela não precisa olhar seu coração que está cheio d’Ele, para encontrá-lo. Entretanto não se descuida de olhar constantemente o menino que cresce a seu lado, o jovem, o homem, cujos sentimentos e atos parecem-lhe sem cessar imprevistos e surpreendentes, a ponto de cada vez mais não compreender o que Ele tem no pensamento quando Ele a deixa no Templo sem avisá-la, ou não a recebe quando vem visitá-Lo, ou esconde seu poder na vida pública e sacrifica sua vida, e quando por fim Ele lhe escapa, dando-lhe, ainda ao pé da cruz, um filho estranho, João, em seu lugar. Ela escuta, com todas as forças de seu corpo, o Verbo que ressoa de modo sempre mais divino e aparentemente sempre mais estranho, O Verbo cujas dimensões quase a esmagam e ao qual, no entanto ela deu de antemão e radicalmente o seu “sim” para tudo. Ela se deixa conduzir “para onde não deseja”, tão pouco a Palavra que ela segue representa sua própria sabedoria. Mas se identifica com essa direção, tão profundamente está “semeada” no seu coração (Tg 1, 21) a Palavra que ela ama.

Referência: Urs Von Balthasar - La Prière Contemplative, Decclés de Brouwer, 1959, p. 25-26 e 27-28.

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