sábado, 12 de outubro de 2013

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA


Uma reflexão contextual sobre o aspecto social e religioso da época em que a imagem de Maria foi pescada. 

        Dois aspectos me estimulam a refletir sobre esta devoção.
      Toda a Mariologia: o estudo sobre Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, sobre o conteúdo bíblico e a visão da historia contidos no Magnificat são importantes.
    Porém o que mais me chama a atenção: uma Virgem negra, num período em que a escravidão no Brasil vigorava, e muito nas fazendas de café da região. O fato: claro pode ser explicado pelo tempo que a imagem ficou no rio, etc; mas não se pensou em pinta-la para ser uma Virgem branca: o negro ficou, afirmando que o que marcava a escravidão não era a cor, mas sim outros fatores: se podia colocar uma imagem negra num altar, podia-se olhar o escravo negro de outro modo. O escravo era o dominado na África, era o indefeso que não tinha valor de pessoa, pois era vendido e mantido como não livre; mesmo sendo batizado continuava escravo, explorado.
      Verdade que havia outras dominações e opressões: a da mulher, a do pobre sem direito a votar; a do não proprietário, etc. Tais dominações começaram a ser sacudidas com a aquisição de direitos, progressivamente.
  Então esta devoção começou a afirmar a possibilidade de valorizar alguém independentemente de sua cor. Imaginar a mãe de Jesus como uma negra, era afirmar implicitamente que o próprio Jesus podia ser um negro: filho de Deus encarnado num marginalizado, e filho de alguém que poderia ser escrava.
   Outro aspecto, que está presente também em tantas outras manifestações de Maria: Lurdes, Fátima, Guadalupe, etc: ela se manifesta a pessoas pobres, simples. Não sei se os pescadores que a encontraram no rio Paraíba eram pessoas de fé e de prática religiosa. Cristãos, sim eles eram. Mas a imagem encontrada por eles, que “apareceu” a eles, foi logo respeitada, venerada e divulgada. Aqui também aparece o proprietário que não a quer reverenciar, e que acaba humilhado: os pobres serão elevados e os orgulhosos serão humilhados. Não se trata de vingança, trata-se de fé, disposição a crer, ou desafio à fé.         Porque será esta predileção para os pobres e simples? Preconceito de Deus e de Maria? Os ricos não tem vez? Todos terão vez, mas certamente há corações menos sobrecarregados e mais livres para acolher.
       Como em outras manifestações de Maria, esta também suscita uma espiritualidade, uma oração constante.
    Claro, há a procura de favores, de milagres; mas o grande milagre, como em outros lugares, não é um fato extraordinário, e sim o fato de que as pessoas, mesmo não “obtendo o que pedem” aumentam sua fé e sua análise de que a situação deve ser um projeto do Pai. Em Lurdes diz-se que o grande milagre não é as curas que, sim, acontecem, mas a tranquilidade das pessoas que saem de lá, mesmo sem ter obtido um milagre especial. Maria leva as pessoas ao Pai.
       E como podemos ver, aqui no Brasil, entre outras devoções a Maria, como da Salette, de Nazaré, da Penha, etc. que também movem multidões, esta marca o país inteiro.
Dá-nos a benção, ó Virgem Mãe, Maria!



Fonte: Por Pe. Ilario Mazzarolo – Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion
Imagem da internet.

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