Uma reflexão contextual sobre o aspecto social e religioso da época em que a imagem de Maria foi pescada.
Dois aspectos me estimulam a refletir
sobre esta devoção.
Toda
a Mariologia: o estudo sobre Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, sobre o conteúdo
bíblico e a visão da historia contidos no Magnificat são importantes.
Porém
o que mais me chama a atenção: uma Virgem negra, num período em que a
escravidão no Brasil vigorava, e muito nas fazendas de café da região. O fato:
claro pode ser explicado pelo tempo que a imagem ficou no rio, etc; mas não se
pensou em pinta-la para ser uma Virgem branca: o negro ficou, afirmando que o
que marcava a escravidão não era a cor, mas sim outros fatores: se podia colocar
uma imagem negra num altar, podia-se olhar o escravo negro de outro modo. O
escravo era o dominado na África, era o indefeso que não tinha valor de pessoa,
pois era vendido e mantido como não livre; mesmo sendo batizado continuava
escravo, explorado.
Verdade que havia outras dominações e
opressões: a da mulher, a do pobre sem direito a votar; a do não proprietário,
etc. Tais dominações começaram a ser sacudidas com a aquisição de direitos,
progressivamente.
Então
esta devoção começou a afirmar a possibilidade de valorizar alguém
independentemente de sua cor. Imaginar a mãe de Jesus como uma negra, era
afirmar implicitamente que o próprio Jesus podia ser um negro: filho de Deus
encarnado num marginalizado, e filho de alguém que poderia ser escrava.
Outro
aspecto, que está presente também em tantas outras manifestações de Maria:
Lurdes, Fátima, Guadalupe, etc: ela se manifesta a pessoas pobres, simples. Não
sei se os pescadores que a encontraram no rio Paraíba eram pessoas de fé e de
prática religiosa. Cristãos, sim eles eram. Mas a imagem encontrada por eles,
que “apareceu” a eles, foi logo respeitada, venerada e divulgada. Aqui também
aparece o proprietário que não a quer reverenciar, e que acaba humilhado: os
pobres serão elevados e os orgulhosos serão humilhados. Não se trata de
vingança, trata-se de fé, disposição a crer, ou desafio à fé. Porque será esta
predileção para os pobres e simples? Preconceito de Deus e de Maria? Os ricos
não tem vez? Todos terão vez, mas certamente há corações menos sobrecarregados
e mais livres para acolher.
Como
em outras manifestações de Maria, esta também suscita uma espiritualidade, uma
oração constante.
Claro,
há a procura de favores, de milagres; mas o grande milagre, como em outros
lugares, não é um fato extraordinário, e sim o fato de que as pessoas, mesmo
não “obtendo o que pedem” aumentam sua fé e sua análise de que a situação deve
ser um projeto do Pai. Em Lurdes diz-se que o grande milagre não é as curas
que, sim, acontecem, mas a tranquilidade das pessoas que saem de lá, mesmo sem
ter obtido um milagre especial. Maria
leva as pessoas ao Pai.
E
como podemos ver, aqui no Brasil, entre outras devoções a Maria, como da
Salette, de Nazaré, da Penha, etc. que também movem multidões, esta marca o país
inteiro.
Dá-nos
a benção, ó Virgem Mãe, Maria!
Fonte: Por
Pe. Ilario Mazzarolo – Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion.
Imagem da internet.
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