segunda-feira, 27 de julho de 2015

CULTO A MARIA COMO MÃE DA IGREJA


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA «SIGNUM MAGNUM» DE SUA SANTIDADE
PAPA PAULO VI  CONSAGRADA AO CULTO
DA VIRGEM MARIA,
MÃE DA IGREJA
E MODELO DE TODAS AS VIRTUDES

INTRODUÇÃO

    O «sinal grandioso» que o Apóstolo S. João viu no Céu: «uma Mulher revestida com o sol» (cfr. Apoc 12,1), não sem fundamento o interpreta a Sagrada Liturgia como referindo-se à Santíssima Virgem Maria, Mãe de todos os homens pela graça de Cristo Redentor.
Está ainda viva, Veneráveis Irmãos, no nosso ânimo a recordação da grande emoção sentida ao proclamar a augusta Mãe de Deus como Mãe espiritual da Igreja e portanto de todos os fiéis e sagrados Pastores, a coroar a terceira sessão do Concílio Ecuménico Vaticano II, após ter solenemente promulgado a Constituição Dogmática «Lumen Gentium». Grande foi também a exultação, quer de muitíssimos Padres conciliares, quer dos fiéis presentes ao sagrado rito na Basílica de S. Pedro e de todo o povo cristão espalhado pelo mundo. Espontânea tornou então à mente de muitos a recordação do primeiro grandioso triunfo alcançado pela humilde «Serva do Senhor» (cfr. Lc 1,38) quando os Padres do Oriente e do Ocidente, reunidos no Concílio Ecuménico em Éfeso, no ano de 431, saudaram Maria como «Theotokos»: Mãe de Deus. A exaltação dos Padres associou-se com jubiloso ímpeto de fé a população cristã da ilustre cidade, que os acompanhou com archotes às suas residências. Oh! com que maternal complacência, naquela hora gloriosa para a história da Igreja, a Virgem Maria terá observado Pastores e fiéis, reconhecendo, nos hinos de louvor que se elevavam em honra principalmente do Filho e depois em sua honra, o eco do cântico profético que Ela própria, por impulso do Espírito Santo, tinha elevado ao Altíssimo: «enaltece a minha alma ao Senhor ... porque olhou para a humilde condição da sua Serva. De facto, desde agora me hão-de chamar ditosa todas as gerações, porque me fez grandes coisas o Omnipotente» (Lc1,46,48-49).
Aproveitando a ocasião das cerimónias religiosas que têm lugar nestes dias em Fátima (Portugal) em honra da Virgem Mãe de Deus, onde Ela é venerada por numerosas multidões de fiéis, pelo seu coração «maternal e compassivo», desejamos mais uma vez chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável nexo tão amplamente ilustrado na Constituição Dogmática «Lumen Gentium», existente entre a maternidade espiritual de Maria e os deveres dos homens remidos para com Ela, como Mãe da Igreja.
   Uma vez admitido, com efeito, perante os numerosos testemunhos oferecidos pelos textos sagrados e dos Santos Padres, e recordados na mencionada Constituição, que Maria, «Mãe de Deus Redentor» (cfr. Lumen Gentium, 53) foi a Ele unida por «vínculo estreito e indissolúvel» (ibid.) e que teve uma especialíssima «função ... no Mistério do Verbo Incarnado e do Corpo Místico» (L.G. 54), quer dizer na «economia da salvação» (L.G. 55), parece evidente que a Virgem, não só «por ser a Mãe Santíssima de Deus, e como tal haver interferido nos mistérios de Cristo» (L.G. 66), mas também por ser «Mãe da Igreja», é pela mesma Igreja venerada «com culto especial» (cfr. L.G. 66), particularmente litúrgico (cfr.L.G. 67).
   Nem é de temer que a reforma litúrgica, se efectuada segundo a fórmula: «a lei da fé deve estabelecer a lei da oração» possa vir em detrimento do culto «de todo singular» (cfr. L.G.66) devido a Maria Virgem pelas suas prerrogativas, entre as quais ressalta a dignidade de Mãe de Deus. E nem mesmo se deve temer que o incremento do culto, tanto litúrgico como privado, a Ela dedicado, possa ofuscar ou diminuir o «culto de adoração, que é prestado ao Verbo Encarnado e do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo» (L.G. 66).
   Portanto, sem querer aqui, veneráveis Irmãos, apresentar no seu conjunto a doutrina tradicional respeitante à função da Mãe de Deus no plano da salvação e às Suas relações com a Igreja, julgamos fazer algo de grande utilidade para as almas dos fiéis, se nos detivermos a considerar duas verdades muito importantes para a remodelação da vida cristã.

O CULTO DEVIDO A MARIA COMO MÃE DA IGREJA

Maria Santíssima, Mãe espiritual perfeita da Igreja

   1. A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja não apenas por ser Mãe de Jesus Cristo e Sua muito íntima colaboradora na «nova economia, quando o Filho de Deus assume d'Ela a natureza humana, para libertar o homem do pecado» mediante os mistérios da Sua carne (L.G. 55), mas também porque «refulge em toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtude» (cfr. L.G. 65 também o n. 63). Como, na verdade, cada mãe humana não pode limitar a sua missão à geração de um novo homem mas deve alargá-la à nutrição e à educação, assim se comporta também a bem-aventurada Virgem Maria. Depois de ter participado no sacrifício redentor do Filho, e de maneira tão íntima que lhe fez merecer ser por Ele proclamada Mãe não só do discípulo João, mas — seja consentido afirmá-lo do gênero humano, por aquele de algum modo representado, Ela continua agora no céu a cumprir a missão que teve na terra de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina em cada alma dos homens remidos. Esta é uma consoladora verdade, que por ser livre beneplácito de Deus sapientíssimo faz parte integrante do mistério da salvação humana; por isso ela deve ser considerada como de fé por todos os cristãos

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