HISTÓRICO
Não existem dados corretos acerca do
principio do culto à imagem milagrosa da Mãe da misericórdia. O que se sabe é
que a partir da metade do século XVI a imagem era conhecida como milagrosa,
como narra o padre carmelita Hilarião de são Gregório, no livro Imagem
Milagrosa da Mãe da Misericórdia.
O lugar do culto está ligado às muralhas que
cercam Vilna, capital da Lituânia, que foram construídas no começo do século
XVI. Em cima de uma das portas que davam acesso à cidade, chamada Porta Aguda,
foi colocada uma imagem de Nossa senhora. No final do século XVI, levando em
conta os estragos da imagem pelas chuvas e pela neve, os frades carmelitas
construíram uma capela por cima da porta e próximo do seu convento. Esse fato
colaborou ainda mais para que o culto à Mãe da Misericórdia crescesse. Toda
noite o povo se reunia para cantar a Ladainha de Nossa senhora.
A imagem é pintada em tabuas de carvalho. A
cabeça é inclinada para a direita, as mãos são cruzadas no peito. A túnica é
verde-azul. O fundo da imagem é marrom. Sobre a cabeça há uma coroa com 12
estrelas e 42 raios. Na base existe a lua crescente.
A capela foi incendiada em 1715. Houve
muitos danos, mas a imagem não sofreu nenhum. Aquilo que o Santuário de Nossa
Senhora Aparecida é para os brasileiros o Santuário da Mãe da Misericórdia é
para os lituanos.
O crescente culto à imagem incomodou muito o
governo de Moscou, que dominava a Polônia e a Lituânia naquele tempo. Em 1844
ele fechou o convento dos frades carmelitas e planejou tirá-la da capela das
muralhas da cidade.
Crê-se que o título da Mãe da Misericórdia foi dado pela primeira vez a Maria por Santo
Odão (+942), abade de Cluny. Com este título se celebra a Virgem Maria tanto
porque nos gerou Jesus Cristo, visível Misericórdia do invisível Pai
Misericordioso, como também porque é mãe espiritual dos fieis, cheia de graça e
misericórdia: “A Virgem Santíssima foi chamada Mãe de Misericórdia, diz São
Lourenço de Brindisi, isto é, Mãe misericordiosíssima, Mãe terníssima,
amantíssima”. Pois a Mãe de Jesus, elevada ao céu, apresenta as necessidades
dos fieis ao Filho, a quem rogou pelos esposos de Caná, quando vivia na Terra
(Jo 2, 1-11).
É um dos maiores títulos de Maria. A
Misericórdia é uma virtude que se acha na vontade espiritual e, segundo São
Tomás de Aquino, é própria dos seres fortes e bons, capazes realmente de
prestar socorro. Por isso se encontra, sobretudo, em Deus e, como diz a oração
do Missal,
é uma das maiores manifestações de Seu poder e de sua Bondade.
Santo Agostinho diz que é mais glorioso par
Deus, tirar o bem do mal do que “criar alguma coisa do nada”; é maior converter
um pecador lhe dando a vida da graça, do que criar todo o universo físico, o
céu e a Terra.
Como Mãe da Divina Misericórdia, Maria nos
lembra que Deus é Bondade e Amor e que sua Misericórdia é a difusão de sua
Bondade. Ela nos faz compreender que Deus, por pura Misericórdia, nos dá muitas
vezes além do necessário, além dos nossos méritos, como, por exemplo, a graça
da comunhão que não é merecida. Maria nos faz perceber que a misericórdia se
une à justiça nas penas dessa vida – que são como um remédio para nos curar,
nos corrigir e nos trazer de volta para o bem. Maria exerce a misericórdia para
com aqueles que sofrem em seus corpos para curar a alma, e em seguida os
consola nas aflições e os fortifica em meio às dificuldades que têm para
superar.
Na Encíclica Dives In Misericordia,
Maria destina-nos os dons da salvação; “Maria é, pois, aquela que, de modo
particular e excepcional – como ninguém mais -, experimentou a misericórdia e,
também de modo excepcional, tornou possível com o sacrifício do coração a sua
participação na revelação da misericórdia divina. Este seu sacrifício está
intimamente ligado à cruz do seu Filho, aos pés da qual ela haveria de
encontrar-se no Calvário. Tal sacrifício de Maria é uma singular participação
na revelação da misericórdia, isto é, da fidelidade absoluta de Deus ao próprio
amor, à Aliança que ele quis desde toda a eternidade e que no tempo realizou
com o homem, com o seu povo e com a humanidade. É a participação na revelação
que se realizou definitivamente mediante a cruz. Ninguém jamais experimentou
como a Mãe do crucificado, o mistério da Cruz, o impressionante encontro da
transcendente justiça divina com o amor, o ‘ósculo’ dado pela misericórdia à
justiça. Ninguém como Maria acolheu tão profundamente no seu coração tal
mistério, no qual se verifica a dimensão verdadeiramente divina da Redenção,
que se realizou no Calvário mediante a morte do seu Filho, acompanhada com o
sacrifício do seu coração de mãe, com o seu Fiat definitivo.
Maria, portanto, é aquela que conhece mais
profundamente o mistério da misericórdia divina. Conhece o seu preço e sabe o
quanto é elevado. Neste sentido chamamos-lhe Mãe da misericórdia, Nossa Senhora
da Misericórdia, ou Mãe da Divina Misericórdia. Em cada um destes títulos há um
profundo significado teológico, porque exprimem a particular preparação da sua
alma e de toda a sua pessoa, para torná-la capaz de descobrir, primeiro,
através dos complexos acontecimentos de Israel e, depois, daqueles que dizem
respeito a cada um dos homens e à humanidade inteira, a misericórdia da qual
todos se tornam participantes, segundo o eterno desígnio da Santíssima
Trindade, “de geração em geração”.
Estes títulos que atribuímos a Mãe de Deus
falam dela, sobretudo como Mãe do Crucificado e do Ressuscitado, daquela que,
tendo experimentado a misericórdia de um modo excepcional, “merece” igualmente
tal misericórdia durante toda a sua vida terrena e, de modo particular, aos pés
da cruz de seu Filho. Tais títulos dizem-nos também que ela, pela participação
escondida e, ao mesmo tempo, incomparável na missão messiânica de seu Filho,
foi chamada de modo especial para tornar próximo dos homens o amor que o Filho tinha
vindo revelar: amor que encontrar a sua mais concreta manifestação para com os
que sofrem os pobres, os que estão privados de liberdade, os cegos, os
oprimidos e os pecadores, conforme Cristo explicou referindo-se à profecia de
Isaias, ao falar na sinagoga de Nazaré e, depois, ao responder à pergunta dos
enviados de João Batista.
Precisamente deste amor misericordioso, que
se manifesta, sobretudo em contato com o mau moral e físico, participava de
modo singular e excepcional o coração daquela que foi a Mãe do Crucificado e do
Ressuscitado. Nela e por meio dela o mesmo amor não cessa de revelar-se na
história da Igreja e da humanidade. Esta revelação é particularmente frutuosa,
porque se funda, tratando-se da Mãe de Deus, no singular tanto do seu coração
materno, na sua sensibilidade particular, na sua especial capacidade para
atingir todos aqueles que aceitam mais facilmente o amor misericordioso da
parte de sua Mãe, (DM. 9).
Referência: Devocionário à Mãe da Divina
Misericórdia – p. 11 a 21 - Pe. Antonio Aguiar – Editora Canção Nova.
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