Deus Uno e Trino exigiu uma grande fé de Maria Imaculada, no
decorrer de sua vida. Teremos pensado bastante naquilo que Deus pediu à humilde
mocinha judia que todas as gerações chamaram e chamarão de bem aventurada?
Apareceu-lhe um Anjo e lhe disse que Ela, uma virgem, conceberia, permanecendo
virgem, e que se tornaria mãe, conservando sua preciosa virgindade; que ela não
conheceria homem, mas seria “encoberta pela sombra do Espírito Santo”. E
continuou dizendo à humilde moça, de pais muito pobres, que o Filho a que daria
à luz “seria Grande e seria chamado Filho do Altíssimo”. Haverá no mundo outra
sucessão de tão altas improbabilidade e semelhantes impossibilidades? Então,
como se lesse a exclamação que aflorasse aos lábios humanos: “Impossível”‘, o
mesmo Anjo continuou dizendo: “Na verdade, nada é impossível a Deus”‘.
Maria acreditou, entregou-se e silenciou. Após a anunciação,
a primeira palavra que ouviu sobre este assunto viria a testemunhar que, à sua
condição de “Elousa”, Virgem cheia de ternura, fora acrescentada a de
“Theótokos”, a Mãe de Deus: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o
fruto do teu ventre! Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?”
(Lc 1,42).
Mãe de Deus! Pela segunda vez, Maria ouvia esta expressão
revelada de forma extraordinária. Ela expressava a um tempo sua vocação, o
sentido de toda a sua vida e o mistério insondável que a cercava. Nove meses
separavam Maria do encontro face a face com o Filho. No seu interior, entretanto,
o Encontro há muito se dera. É este Encontro o sustentáculo permanente no
suceder de luz e sombra que prova a fé da Mãe de Deus. Ao encontro glorioso com
Isabel e a exultação do Magnificat, seguem-se as portas fechadas na Cidade de
Davi. A fé mais uma vez provada e vitoriosa de Maria é recompensada por Deus
com a visita dos Reis Sábios, a adoração dos anjos e pastores e, sobretudo, o
Filho que acaricia, contempla, amamenta, beija, acalenta. A prova surpreende-a
e a José mais uma vez: Herodes busca o menino: é preciso fugir. Maria e José
temem em sua humanidade. O coração, porém, está firme: “Nada é impossível a
Deus”.
À medida que o Menino crescia, o Mistério ora revelava-se
ora ocultava-se diante do olhar atento da Mãe, entre os risos e brincadeiras
mais corriqueiras do Filho do Altíssimo. Sentia-se “um prolongamento d’Ele,
(via-se) delineada nos traços do seu rosto” e meditava no mistério insondável
de serem seus aquela carne e aquele sangue (RM,20). Nos Seus afagos de criança,
nos olhares de admiração de Filho para Mãe, reconhecia-se, como toda mãe,
indelevelmente “delineada no âmago de sua alma”, como Ele, há muito estava na
dela.
O Mistério aprofunda-se na “segunda anunciação”: “Eis que
este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para
muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições – e uma
espada transpassará a tua alma” (Lc 2,34). E novamente esconde-se na aflição e
reencontro: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de
meu Pai?” (Lc 2,49). A Mãe não entende, apenas acolhe e guarda estas coisas em
seu coração.
Maria acolhe e ama Jesus, o Filho de Deus, pois o Pai não a
chamou para “simplesmente exercer as sublimes funções de mãe de Jesus segundo a
carne, mas para ser aquela mulher que, representando o povo de Israel e toda a
humanidade, acolhesse o grande dom de Deus, a misteriosa auto comunicação de
Deus ao mundo na pessoa de Jesus; e para que, mediante esta acolhida, criasse
em torno de Jesus um ambiente educativo, de amadurecimento humano, de profundas
experiências religiosas. E assim foi feito. Nela, Israel aceitou amorosamente e
com fé inquebrantável o dom de Deus e esperou sua manifestação”. “Bem-aventurado
o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram!” (Lc 11,27). Maria não
ouviu esta exaltação da mulher que, profundamente tocada por Jesus, a abençoava
e exaltava. Somente depois, ela acompanharia Jesus em sua atividade messiânica.
Diz García Paredes: “Dir-se-ia que as palavras daquela mulher desconhecida
fizeram com que Maria saísse de seu esconderijo. Através delas, passou
rapidamente pela mente da multidão, pelo menos por um instante, o Evangelho da
infância de Jesus (…) no qual Maria está presente como a mãe que concebe Jesus
em seu seio, lhe dá a luz e o amamenta maternalmente: a mãe a que se refere
aquela mulher do povo”. A este grito, porém, em um novo momento de revelação do
Mistério, Jesus responde: “Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de
Deus e a guardam” (Lc 2, 28), como o faria desta vez em presença de Maria, que
aguardava uma ocasião para falar com ele: “Quem é minha mãe e quem são meus
irmãos?” E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: “Eis aqui
minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos
céus, esse é meu irmão e minha irmã e minha mãe” (Mt 12,48ss). Terá esta
afirmativa de Jesus despertado no coração de Maria as palavras que desde os
Seus 12 anos ela guardava em seu coração: “Devo cuidar das coisas de meu Pai?”
Nunca se poderá dizer com certeza. O fato é, que estes três momentos apontam em
uma mesma direção: o Reino de Deus que dá “uma dimensão nova e um novo sentido”
a tudo aquilo que é humano; e, por conseguinte, a todos os laços humanos”
(RM,20). A maternidade, vista na dimensão do Reino de Deus e na irradiação da
paternidade do próprio Deus, adquire uma nova dimensão. Maria compreende e
assume esta nova dimensão em sua vida, na qual Deus se auto revela de maneira
contínua e de forma cada vez mais transparente. Pela fé na Palavra que ela
provara de modo crucial na Anunciação, Maria se torna Mãe e irmã de Jesus.
Mergulha, assim, naquele “misterioso vínculo espiritual que se estabelece entre
Ele e aqueles que ouvem a Palavra, tomando-a uma realidade em suas vidas”.
Ao acolher estas palavras de Jesus, Maria, a “discípula” por
excelência, assume mais uma característica da missão de seu Filho, que lhe
prepara o coração para assumir a maternidade da Igreja e n’Ela e com Ela mais
uma vez acolhê-la, amá-la e gerá-la no coração de seus irmãos e filhos. Mais
uma vez o mistério se revela. Uma vez mais, Maria diz “sim”, mesmo sem
compreender todas as consequências, em amor inabalável Àquele que lhe pede
ainda um passo adiante.
FONTE: COMUNIDADE
SHALOM
(1) ALV AREZ DE MIRANDA, Pe. Femando Maria, S.L De Maria
Nunca Basta. Ed. Loyola, S. Paulo, 1988, p.23.
(2) PAREDES, José C. R. Garcia, A Verdadeira História de
Maria. Ed. Ave Maria, S. Paulo, 1988, p.29.
(3) João Paulo lI. Redemptoris Ma
ter. Ed. Paulinas, 1988.
(4) Ibid, idem.
(5) Ibid, p. 32.
(6)e (7) Ibid, p. 30.
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