PAPA LEÃO XIII - CARTA ENCÍCLICA SUPERIORE ANNO DE SUA SANTIDADE PAPA LEÃO XIII A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS DO ORBE CATÓLICO, EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA
Veneráveis Irmãos, Saúde e Bênção Apostólica.
Correspondência ao convite do ano
passado
1. O ano passado, como todos
sabem, com uma Encíclica Nossa dispusemos que durante todo o mês de Outubro, em
toda parte do orbe católico, se honrasse por meio do santo Rosário a grande Mãe
de Deus, para obter dela um eficaz socorro nas angústias de que a Igreja estava
oprimida. Com isso secundamos uma inspiração Nossa, e seguimos o exemplo dos
Nossos Predecessores, os quais, nos tempos mais difíceis para a Igreja, tiveram
o costume de, com aumentado ardor de piedade, recorrer à Virgem augusta, e de
com fervorosa prece invocar-lhe o auxílio.
2. A solicitude e o consenso em
secundar a Nossa vontade foram tais por toda parte, que se tornou evidente o
quanto é intenso no povo cristão o espírito da religião e da piedade, e o
quanto é viva a confiança de todos no celeste auxílio de Maria Santíssima. Este
fervor em professar a própria piedade e a própria fé trouxe, certamente, um
grande conforto ao Nosso coração, oprimido por tantas preocupações graves e por
tantos males; antes, deu-nos força para suportar, se Deus assim quiser, males
ainda piores. De feito, enquanto o espírito de oração se derramar sobre a casa de
David e sobre os habitantes de Jerusalém, nutrimos segura esperança de que, um
dia, Deus se nos mostrará aplacado, e de que, movido a compaixão pela sorte da
sua Igreja, atenderá às orações elevadas pelos fiéis por meio daquela que Ele
quis administradora das graças celestes.
Cumpre preservar na oração
3. Portanto, visto ainda
subsistirem as causas que, como já dissemos, nos impeliram, o ano passado, a
estimular a piedade dos fiéis, julgamos nosso dever, Veneráveis Irmãos, exortar
de novo, este ano, o povo cristão a perseverar na devoção do santo Rosário,
para merecer a eficaz proteção da grande Mãe de Deus. Com efeito, se são tão
obstinados os propósitos dos inimigos do cristianismo, necessário se torna que
não menor seja a constância dos seus defensores; tanto mais quanto o auxilio
celeste e os benefícios de Deus frequentemente são fruto da nossa perseverança.
E aqui torna-se oportuno evocar o exemplo daquela ilustre heroína em quem era
figurada a Virgem Maria: Judite, que conteve a impaciência dos judeus, os
quais, na sua estultícia, queriam a seu arbítrio fixar a Deus o tempo para
socorrer a cidade. Assim também deve ter-se presente o exemplo dos Apóstolos,
que esperaram o prometido dom supremo do Espírito Santo unidos em perseverante
e unânime oração, com Maria Mãe de Jesus.
Motivos para recorrer a Maria
4. Efetivamente, agora também se
trata de um negócio bastante árduo e importante: isto é, de abater o poder do
antigo e astutíssimo inimigo, arrogante na sua força; de reivindicar a
liberdade para a Igreja e para o seu Chefe; de conservar e defender os
fundamentos sobre os quais deve apoiar-se a segurança e o bem-estar da
sociedade. Grande deve, por isto, ser, nestes tempos tão lacrimosos para a
Igreja, a solicitude de manter com piedosa diligência o santo costume do
Rosário; sobretudo porque esta oração é composta de modo a evocar
sucessivamente todos os mistérios da nossa salvação, e portanto particularmente
adequada para fomentar a piedade.
5. Depois, pelo que se refere à
Itália, há, neste momento, uma particular, uma extrema necessidade de implorar
o eficacíssimo socorro da Virgem, dado que não só está iminente, mas já
sobreveio uma inesperada calamidade. Queremos aludir à peste asiática que,
transpondo, por vontade de Deus os confins que a natureza parecia haver-lhe
fixado, invadiu os portos mais frequentados da costa francesa e, dali, as zonas
limítrofes da Itália.
6. Devemos, pois, buscar refúgio
em Maria, naquela a quem com razão a .Igreja chama Virgem salutífera,
auxiliadora, libertadora; para que ela queira trazer-nos benevolamente o
socorro invocado mediante a mais agradável das orações, e afastar de nós o
impuro contágio.
Disposições e indulgências para a recitação do Rosário
7. Por tal motivo, aproximando-se
o mês de Outubro, em que o orbe católico celebra a festa de Nossa Senhora do
Rosário, deliberamos renovar este ano todas as prescrições do ano passado.
8. Portanto, decretamos e
ordenamos que, a partir de primeiro de Outubro até 2 de Novembro seguinte, em
todas as igrejas paroquiais e nos oratórios públicos dedicados à Mãe de Deus,
ou mesmo nos outros, a juízo do Ordinário, sejam diariamente recitadas ao menos
cinco dezenas do Rosário, com as ladainhas. E, se o Rosário se recitar pela
manhã, celebre-se ao mesmo tempo a santa Missa; se, em vez disso, se recitar de
tarde, exponha-se o SS. Sacramento à adoração dos fiéis, e portanto dê-se aos
presentes a bênção. Além disso, é nosso desejo que, onde a isso se não opuserem
as leis civis, para incremento da piedade pública as Confrarias do santo
Rosário saiam pelas ruas em procissão solene.
9. Depois, a fim de que os
celestes tesouros da Igreja fiquem à disposição da piedade cristã, renovamos as
simples Indulgências já concedidas o ano passado. Isto é, a todos os fiéis que,
nos dias estabelecidos, participarem da pública recitação do Rosário e orarem
segundo a Nossa intenção, como também àqueles que, por legítimo impedimento, o
recitarem em particular, concedemos, para cada vez, a Indulgência de sete anos
e de sete quarentenas.
Além disto, concedemos a
Indulgência plenária aos que, em dito período, confessados e comungados,
recitarem, ao menos por dez dias, o Rosário do modo supra indicado, na igreja
ou, por justo motivo, em casa. Em terceiro lugar, concedemos também esse
pleníssimo perdão das culpas e remissão das penas a todos os que, no dia da
festa do Rosário, ou na oitava, com a alma purificada participarem do divino
Banquete, orando, em alguma igreja, a Deus e a sua Mãe Santíssima, segundo a
Nossa intenção.
10. Querendo, enfim, atender àqueles
que vivem no campo e que, durante o mês de Outubro, estão particularmente
empenhados no trabalho dos campos, consentimos que, a juízo dos Ordinários,
eles adiem para os meses seguintes, de Novembro e Dezembro, as piedosas
práticas supra estabelecidas, e que possam igualmente lucrar as Indulgências
anexas ao mês de Outubro.
As esperanças do Papa
11. Não duvidamos, Veneráveis
Irmãos, de que os Nossos cuidados não estejam em via de ser coroados de frutos
abundantes e opimos, mormente se Deus, com o dom das suas graças, fizer crescer
o que Nós plantamos e vós regastes. Por outro lado, estamos certo de que o povo
cristão prestará ouvido à autoridade Apostólica com o mesmo fervor de fé e de
piedade de que deu esplêndido testemunho no ano passado.
Assim, fazemos votos para que a
celeste Padroeira, invocada mediante a oração do Rosário, nos seja propícia e
nos obtenha que, eliminadas as divergências de opiniões, e estendida a religião
de Cristo a todas as partes da terra, a Igreja alcance a suspirada tranqüilidade.
Como penhor deste benefício, de todo coração concedemos a Bênção Apostólica a
vós, ao vosso clero e ao povo confiado ao vosso ministério.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, a
30 de Agosto de 1884, sétimo ano do Nosso Pontificado. LEÃO PP. XIII
Fonte: Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_30081884_superiore-anno_po.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário