Como templo da Santíssima Trindade, Maria, em sua humanidade
puríssima, experimentou, como mulher, os efeitos do mistério eterno da unidade
trinitária em seu seio, em sua alma, em todo o seu ser.
São Luís de Montfort afirma que “Maria é o Santuário, o
repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente
presente que em qualquer outro lugar do universo”. Como tabernáculo vivo da
Trindade, segundo a Liturgia Oriental, suas entranhas foram feitas maiores do
que o céu, porque nelas coube o próprio Deus, e com Ele o céu inteiro.
Guardadas as proporções, foi esta a grande experiência
espiritual de Elisabeth da Trindade, que exclama: “Fixai-me em vós imóvel e
tranqüila, como se minha alma estivesse já na eternidade. Fazei de minha alma
vosso céu, vossa morada preferida”. Se Elisabeth da Trindade fez esta oração,
qual não seria a oração de Nossa Senhora? Seria este o segredo, a alegria
expressa no Magnificat?
Nossa Senhora foi criada para ser a morada preferida de Deus
e pôde unir-se como ninguém à dinâmica de amor das três pessoas da Trindade,
que, também nela, na terra como no céu, viveram e vivem sua dinâmica de dar-se
e receber um ao outro absoluta e totalmente, sendo perfeitamente um só Deus. Maria
foi e é, assim, templo da Unidade mais perfeita do qual jorra a fonte de toda
unidade: a Santíssima Trindade, as três pessoas distintas na perfeita
unicidade: um só Deus.
Maria contempla em si e diante de si o dinamismo da perfeita
unidade. Que efeitos terá gerado esta vivência única em Nossa Senhora? A
perfeita união com Deus; a unidade consigo mesma; e a promoção da unidade no
coração do homem e na humanidade inteira.
Dom Adélio comentou rapidamente que deveríamos ver Nossa
Senhora não somente como alvo de uma devoção ou um degrau para chegar a Jesus,
mas como alguém efetivamente atuante na nossa Salvação.
Dom Aloísio explica como Maria foi e é efetivamente atuante
no Antigo e Novo Testamento e na Igreja nascente. Ela é efetivamente atuante
ainda hoje. E hoje, mais do que nunca, ela é promotora da unidade e da paz, na
Igreja de seu Filho e na humanidade inteira.
Católicos, Ortodoxos, e mesmo Muçulmanos, reconhecem Maria,
veneram-na e a honram, quer como a Mãe de Deus, quer como, no caso dos
Muçulmanos, a única criatura além do seu Filho que não foi educada por Satanás.
Em Maria, a “religio”, a religação, o relacionamento entre o céu e a terra,
completa-se de modo perfeito. Ela é o “lugar teológico” por excelência da
religião.
No pontificado de João Paulo II, como ele mesmo não se cansa
de declarar, “a Mãe da Salvação” tem atuado de forma maravilhosa na acepção
mesma do termo. Queira Deus que nós tenhamos a mesma fé e a mesma intimidade
com Maria que tem o nosso Papa!
Infelizmente, de um modo geral, não temos intimidade
espiritual com Maria. Ou ela é um “Modelo Moral” cujas virtudes devemos imitar,
ou é alguém de quem somos devotos, a quem oferecemos rosários e novenas para
que consiga de Deus as coisas para nós. Nosso coração, no entanto, deve inclinar-se
para ela “pelo amor e a oração” (ECCSh), “pois o verdadeiro devoto não ama a
Maria porque ela lhe faz ou espera dela algum bem, mas porque ela é amável”
(São Luís Montfort).
Nossa Senhora está viva de corpo e alma no céu. Podemos e
devemos alimentar nosso amor, trato de amizade e intimidade com ela. Ela levou,
como Jesus ressuscitado, nossa humanidade para o céu. Como disse D. Aloísio, a
Rainha do céu está muito acima, infinitamente acima, de todos os anjos e
santos, à direita do Pai, na humanidade de Jesus e na sua própria humanidade. A
Mãe de todos os homens está no céu em sua humanidade gloriosa como mulher. É
como mulher que ela faz a mediação da unidade e a promove.
Jesus disse: o meu Pai até agora está trabalhando, e eu
também estou trabalhando (Jo 5,17). Pelo Espírito Santo, que o Pai enviou, a
Igreja trabalha e sofre, continuando a Obra de Cristo. Pelo Espírito Santo,
Maria trabalha e sofre até agora, como sempre Virgem e Mãe de Deus, e como Mãe
da Igreja e Mãe de Deus.
Seu maior trabalho, unido ao Espírito Santo e impulsionada
por Ele, cuja atividade de amor ela contempla e abriga em si: que os homens se
amem uns aos outros, que sejam um como o Filho e o Pai são um: na dinâmica
troca gratuita e total de amor, sem impedimentos e barreiras. São Luís de
Montfort afirma que “a mais forte inclinação de Maria é unir-nos ao seu Divino
Filho”.
Maria trabalha pela
unidade como Virgem e Mãe de Deus
Como Virgem (antes,
durante e depois do nascimento de Jesus), Maria é unificada em si mesma e é
toda de Deus. Seu coração não se divide com nenhuma criatura e, de coração
indiviso, une-se inteiramente a Deus, de corpo e alma. Como Virgem e Mãe de
Deus sua união a Ele leva a permanecer em contínua oração e adoração da
Trindade, em si, e na Trindade mesma que contempla. A Virgem e Mãe de Deus
viveu perfeitamente o “Assim na terra como no céu”. Como Virgem e Mãe de Deus
está na Trindade inteiramente e a Trindade inteiramente nela, sem divisões.
Maria Virgem e Mãe de Deus promove em nós, com sua mediação
eficaz, sendo nossa humanidade no céu: 1- a unidade com Deus, por ser
inteiramente dele; 2- a unidade consigo própria, pois esta acontece somente
naquele para quem Deus é tudo e que, portanto, é todo de Deus; 3- a unidade com
o irmão, pois todos os homens se tornam filhos de quem é casto. Quem é virgem,
quem é casto, é também pobre de si e rico de Deus. Quem é pobre de si não tem
medo de amar o outro, para ele o outro não é ameaça. Não põe barreiras ao amor
de Deus, nem do irmão. Porque é todo de Deus e nada tem de si mesmo, é também
todo do irmão. Em sua virgindade e castidade Maria é toda nossa.
Maria promove a
unidade como Esposa e Mãe de Deus
A esponsalidade de Maria com o Pai (pela paternidade), com o
Filho (pelo desponsório espiritual) e com o Espírito Santo (pela geração de
Jesus) a faz, como vimos, íntima e para sempre, espiritual e humanamente, unida
a cada pessoa da Trindade. Maria não se une a estas pessoas pelo que fazem
nela, mas pelo que São nela. Nela Deus é Pai; nela Deus é Filho; nela Deus é
Esposo; nela Deus é Uno e Trino.
Sem Maria, Deus não seria Pai, nem Filho, nem Esposo. No
Antigo Testamento Deus agiu como Pai e algumas poucas vezes foi reconhecido
como tal. Deus revelou-se em Israel, que o traía e adulterava. Deus prometeu o
Messias. Mas somente em Maria e com Maria, Deus foi, pela união íntima com sua
criatura, Pai, Filho e Esposo. Por outro lado, sem Jesus, nem Maria nem nós
seríamos filhos no Filho, e chamados à união esponsal mística com Deus, Uno e
Trino.
Maria, Esposa e Mãe de Deus, possibilitou assim a unidade da
humanidade com cada pessoa da Santíssima Trindade. E hoje, no céu, com sua
mediação, promove a unidade da humanidade e de cada homem com Deus.
Maria ministra a
unidade como Mãe de Deus e Mãe da Igreja
A maternidade está intrinsecamente ligada à vida e à
alegria. No entanto, está também intrinsecamente ligada à dor e à morte para si
mesmo. Maria tornou-se Mãe da Igreja no auge da dor, e, portanto, no cume do
amor, pois a cruz foi o auge de sua renúncia a Jesus e a si mesma.
A Jesus, ela deu a luz sem dor, mas à Igreja ela deu a luz
no ápice da dor. A maternidade de Jesus foi fruto da ação do Espírito Santo em
suas entranhas humanas, e, no entanto, Ele veio à luz sem dor e sem o
rompimento natural do parto; a maternidade da Igreja foi fruto da ação do
Espírito Santo nas entranhas do seu Espírito e, no entanto, a Igreja veio à luz
em meio a maior das dores.
Maria gestou a Igreja junto com Jesus, pois nunca haverá a
menor sombra de separação entre eles, seja em pensamento, sentimento, vontade
ou história. Maria sempre foi profundamente unida a Jesus e gestou com seu
Filho, Fundador e Cabeça da Igreja, cada discípulo, sendo presença de Mãe.
Talvez não compreendesse totalmente que a maternação da Igreja supusesse a dor
da morte de Jesus, que a consola entregando-a ao mais querido dos discípulos. Maria
ministrou a unidade e a paz na Igreja pelo sofrimento do amor, pela renúncia do
sacrifício. Jesus foi o preço desta maternidade.
Hoje, Maria promove a unidade na Igreja, a unidade entre os
irmãos, seus filhos, pelo nosso amor e sacrifício unidos àquele seu lancinante
sacrifício de renúncia e oferta do próprio Filho. Foi ela a primeira a
completar na própria carne o que faltou ao sofrimento de Cristo em favor da sua
Igreja.
Não é possível haver unidade entre nós sem grande sacrifício
de sim unido ao sacrifício de Jesus e de Maria. O sacrifício de sim separado de
Jesus e de Maria é estéril. Mas, unido ao sacrifício deles dois e à virgindade,
esponsalidade e maternidade de Maria, é fecundo, promotor da unidade e da paz.
Mergulha-nos abismos do silêncio de Deus, da obediência que tanto Jesus como
Maria (como nós) aprenderam pelo sofrimento (cf. Hb 5). Mergulha-nos na unidade
de quem se esquece de si mesmo para perder-se em Deus, fonte de todo bem, de
toda unidade, de toda paz.
Maria promove a
unidade como mulher
Não há como separar a maternidade da mulher, nem a mulher da
maternidade. Na nossa caminhada para a intimidade e a amizade com Maria,
devemos ter em conta que ela é mulher e que, como mulher, está ressuscitada no
céu com seu corpo glorioso, mas feminino, no seu modo de ser, de pensar e de
agir. Maria agiu, age e agirá sempre, no céu e na terra, segundo a mente e os
sentimentos de Cristo, mas como mulher, em sua “gratuidade irradiante de mãe,
na sua reciprocidade e antecipação de esposa, na sua acolhida fecunda de
virgem”, como diz Bruno Fort. É, portanto, também como mulher que ela promove a
unidade.
Foi como mulher que Maria reagiu ao anúncio da gravidez de
Isabel indo ajudá-la imediatamente. Podemos imaginá-la feliz por vivenciar a
maternidade da prima e por poder servi-la como fazem as mulheres de Deus, como
fazem as mães em sua “gratuidade irradiante”.
Foi sua “lógica de mulher” que se manifestou em Caná, não só
ao notar que faltava vinho, mas especialmente no modo como agiu com relação a
Jesus e aos serventes. Maria foi aí “antecipação e reciprocidade”, como a
esposa descrita por Bruno Fort.
Foi como mulher e Mãe de Deus que Maria foi formada pelo seu
Filho no reencontro no templo e à porta da casa de Pedro. No primeiro caso, Ele
lhe obedeceu e respeitou sua afeição de mãe, voltando para casa. No segundo,
ela o compreendeu, em “acolhida profunda” de virgem…
Foi sua personalidade feminina e, portanto, materna que a
fez ficar de pé diante da cruz, não somente pela extraordinária graça de
fidelidade e fortaleza, mas pelo esforço em ficar o mais próximo possível, o
mais visível possível ao Filho, a quem consolava e cuja agonia acompanhava. Foi
ainda como mulher que ela abrigou-se na casa de João que, sendo discípulo amado
de Jesus, era certamente também dela. Jesus sabia bem que o que faz uma mulher
sentir-se segura é o amor e não a força. Foi a mulher e Mãe que manteve os
discípulos unidos e reunidos à esposa do Paráclito. Ela era a mulher do
Ressuscitado, a mãe do Filho de Deus, “um pedaço dele”. Foi a mulher, Mãe de
Deus, que foi assunta ao céu e colocada acima de todos, abaixo somente da
Trindade. É como mulher e Mãe que ela, a intercessora onipotente, trabalha até
agora para promover a unidade.
Eis por que é tão grande nossa responsabilidade com relação
à mulher e à mãe. Dirijo-me aos homens e às mulheres. Nós – homens e mulheres –
perdemos a noção do papel da mulher com relação a Deus e à humanidade. A causa
é que nos colocamos diante de nós mesmos e dos nossos anseios, e não diante de
Deus e dos seus planos para nós, como homens, como mulheres, como famílias,
sejam famílias religiosas ou institucionais.
Um dos principais papéis da mulher, em qualquer época da
história, é, sem dúvida, ser disponível a Maria para a instauração da unidade e
da paz através da sua maternidade e feminilidade. Onde a mulher não cumpre este
papel, a instauração do Reino de Deus não se cumpre plenamente.
Maria “trabalha ainda hoje” pelo amor e poder de Deus que a
escolheu e lhe deu uma missão que durará até a segunda vinda de Jesus. Ela,
como a Esposa de Deus, no Espírito Santo, trabalha em nós, pela intimidade,
amor e amizade conosco, e através de nós, que queremos responder positivamente
a esta amizade.
Por Maria Emmir Oquendo Nogueira
Fonte: Comunidade
Shalom
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