Inúmeros são os milagres registrados pela História,
operados por intercessão de Nossa Senhora, através de alguma de suas imagens:
enfermos curados, pecadores convertidos, necessitados socorridos. Entretanto,
uma imagem da Virgem Santíssima que tenha dirigido a palavra a três santos...
não é habitual. Esse prodígio entretanto ocorreu com a imagem da Padroeira de
Lima, que falou com Santa Rosa de Lima, São João Macias e São Martim de Porres!
Entramos na igreja do Rosário, que fica próxima da bela e
ampla Praça de Armas, em Lima, no Peru. Em silêncio, caminhamos da porta para
o altar mor, passando ao lado de vários altares e imagens de santos da Ordem
dominicana. Do lado esquerdo aparece uma imagem de Nossa Senhora – belíssima.
Em determinado momento, meu acompanhante diz:
– “Ouça, se ocorrer um terremoto
fique perto desta imagem”.
Surpreso, olho para ele. Já
presenciei terremotos e sei que, no momento do tremor da terra, todos sentem
uma inclinação natural de correr para onde não haja nada que possa cair sobre
a cabeça. Vendo minha desconfiança, ele narra o que aconteceu com São João Macias.
– "Ele estava rezando neste
local quando começou um terremoto. São João Macias levantou-se, e, como
qualquer mortal, correu para o claustro do convento. Nisto ouviu que a imagem
lhe dizia: ‘Frei João, Frei João, aonde vais?’ Ele teve ânimo para
deter-se e responder: ‘Senhora, estou fugindo como os outros do rigor de
vosso Santíssimo Filho’. Então Nossa Senhora respondeu-lhe: ‘Volta e
fica tranqüilo, que aqui estou eu’. Depois disso o Santo sempre afirmava
que não tinha melhor refúgio para os terremotos do que a capela da Virgem do
Rosário. De fato, sempre que ocorre um terremoto na cidade, pede-se aos fiéis
presentes nessa igreja que não saiam, e até hoje nunca se lamentou qualquer
desgraça".
– “Convenceu-me!, respondi-lhe. Em
caso de terremoto aqui ficarei, bem ao lado da Virgem”.
No início de seu culto, milagre espetacular
A imagem de Nossa Senhora do
Rosário, de tamanho natural, tem uma história que se confunde com a da cidade
de Lima. Quando fundada, em 1535, a capital peruana recebeu a imagem como
presente do Imperador Carlos V.
Quando os espanhóis foram
conquistar a cidade de Cuzco, capital do Império Inca encontraram um
formidável exército de indígenas barrando a entrada. A desproporção era
tremenda: os espanhóis contavam apenas 600 homens, enquanto os índios somavam
dezenas de milhares. Quando estes foram atacar os espanhóis, apareceu Nossa
Senhora do Rosário com uma vara na mão, com a qual ameaçava os pagãos,
impedindo-os de ferir os católicos. Ante esta visão, os indígenas não só
fugiram, mas pediram a paz e muitos solicitaram o batismo.
Foram tantos os milagres realizados
pela imagem que numerosas confrarias foram fundadas para propagar sua
devoção. A primeira foi de silvícolas, em 1554. Seguiram-se uma de nobres
chamada "dos espanhóis", em 1562, e outra denominada de "pardos",
em 1564. As senhoras doavam suas jóias à imagem, que chegou a ser uma das
mais ricas da cidade. Muitos nobres deixavam em seus testamentos indicações
para lhe serem ofertados seus bens. O altar, o andor, os tocheiros, tudo era
de prata. De tal maneira afluíam as doações que, por ocasião da procissão de
1643, a imagem levava dois milhões de pérolas e jóias diversas! E tudo isso
era feito com o bom gosto e a categoria que caracterizam os usos e costumes
da nação peruana.
Em 1922, por ocasião do ato da
coroação canônica da imagem, foram distribuídos seis mil rosários de prata e
nácar aos presentes à solenidade!
Nossa Senhora do Rosário e seus devotos santos...
Todavia, as melhores jóias de
Nossa Senhora não são as materiais, mas aquelas almas santas que brilharam
por suas virtudes e devoção a Ela.
Uma das maiores devotas dessa
imagem foi à grande Santa Rosa de Lima. Consta na Bula de sua canonização que
Nossa Senhora do Rosário conversou com ela. Quando a santa contava pouca
idade, perguntou à imagem se deveria ser chamada Isabel (seu nome de batismo)
ou Rosa (denominação usada por sua mãe e nome com o qual Santo Toríbio de
Mogrovejo a tinha crismado). Nossa Senhora respondeu-lhe que se chamasse Rosa
de Santa Maria.
Outro milagre se deu num domingo
de Ramos. Quando ela foi rezar diante da imagem, notou que Nossa Senhora a
olhava com especial benevolência. E que, em determinado momento, voltou-se
para o Menino Jesus em seus braços. Este disse então à Santa: "Rosa
de meu coração, Eu te quero por esposa". Santa Rosa caiu desmaiada.
No piso da igreja onde o prodígio aconteceu, encontra-se hoje uma placa
comemorativa do fato. Além disso, quando Santa Rosa faleceu, seu corpo foi
levado para a igreja do Rosário. Ao entrar ali o corpo da Santa, a face de
Nossa Senhora resplandeceu de modo brilhante, maravilha testemunhada por
todos os presentes.
São João Macías estava certo dia
orando diante da imagem quando de repente entrou em êxtase, ficando suspenso
no ar. Um noviço dominicano, Frei Antonio Espino, presenciou o prodígio e
saiu correndo para comunicar a todos do convento. Contudo, São João
interceptou-o na porta, proibindo-o de narrar o que vira até sua morte.
De São Martim de Porres conta-se
que não só conversava com a imagem, mas que, em certa ocasião, esta ordenou a
um anjo que tocasse o sino do convento, função exercida por São Martim, que
se encontrava ausente.
Milagres para todo tipo de devotos
No dia 19 de novembro de 1614, um
devoto, Afonso Pérez de Guzmán, foi rezar diante da imagem. Ele era um
soldado espanhol que tinha sido ferido pelos índios araucanos no Chile,
durante uma batalha. Coxo, só podia andar de muletas. Quando implorava ajuda
a Nossa Senhora do Rosário, sentiu que as forças lhe faltavam e desmaiou. Ao
acordar, estava totalmente curado. O osso estava no seu lugar e desaparecera
o buraco – tão grande que nele se podia introduzir a mão – aberto pelo
ferimento.
Na parede da capela da milagrosa
imagem via-se outrora um tambor pendurado. Estranho e inusitado objeto,
representava ele um contraste com as numerosas jóias doadas pela nobreza de
Lima. Qual a origem desse tambor? No ano de 1615, enfrentaram-se nas águas do
Pacífico a esquadra espanhola e a de um pirata holandês. Em meio à luta, um
capitão espanhol de nome Albendín, estando ferido e vendo seu barco afundar,
invocou a proteção da Virgem do Rosário, tendo pulado na água. Para não
morrer afogado, agarrou-se a um tambor – objeto que dificilmente se manteria
boiando. Mas, contra toda a expectativa, as ondas lançaram o capitão na
praia, com o seu tambor salvador. E, em agradecimento, o militar deixou-o
pendurado na parede da capela, onde permanece por mais de 200 anos.
Segura Protetora nos terremotos ... espirituais
Esses são alguns dos milagres materiais
operados pela prodigiosa imagem. Os espirituais, no entanto – tão mais
importantes, como por exemplo as conversões –, fruto das graças recebidas
diante dela, são também muito numerosos. Por isso, há sempre devotos rezando
aos pés da milagrosa Padroeira de Lima.
Lentamente e com muito pesar, tive
que me afastar da imagem. Quanta história, quanta bondade, quantos milagres
realizaram-se naquele local! E refletia então: se por ocasião de um terremoto
físico é seguro estar perto dEla, quanto mais necessário não será sua
intercessão nestes dias de contínuos terremotos espirituais?
Para o coração materno a distância
não existe. Assim, quando o caro leitor sentir tudo tremer a seu lado e
muitas coisas ameaçarem cair-lhe sobre a cabeça, não deixe de invocar Nossa
Senhora do Rosário. Ela o protegerá!
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