domingo, 23 de setembro de 2012


NOSSA SENHORA DA TERNURA

   Nossa Senhora da Ternura ou Nossa Senhora do Doce beijo – trata-se de um ícone da escola cretense do século XVII, de autor desconhecido e de popularidade especial nos Bálcãs, nas regiões gregas e ítalo-bizantinas. Na figura, ficam evidentes as expressões de carícias no rosto da mãe e filho. Chama à atenção a disposição das mãos: a do Menino Jesus está apoiada num confiante abandono sobre a mão direita da Mãe, enquanto com sua mão esquerda Ela o segura e ao mesmo tempo parece acariciá-lo.

   O Filho não é um bebê. Tem um rosto sábio, veste de adulto. De acordo com historiadores, o rosto iluminado e a túnica dourada indicam que o sábio é verdadeiramente o Verbo de Deus, cheio de majestade e esplendor.

   Do rosto da criança emana uma luz que cai no lado direito do ícone, tocando delicadamente o nariz da Virgem e iluminando o rosto do filho. Luz que dá profundidade à intimidade entre mãe e filho, revelada no abraço carregado de ternura.

   No entendimento do padre Ricardo Hoepers, o rosto colado do Menino Jesus à mãe, transmite o sentimento de acolhida.

   Esse ícone foi particularmente apreciado e reverenciado na Rússia, como protetora do país, “que elegia os patriarcas e diante da qual se desenrolavam todos os momentos importantes de sua história, como a coroação e o casamento dos Czares”, comenta Jean-Ives Leloup, em seu livro “O ícone, uma escola do olhar” (2006). Mais tarde o Papa João XXII proclamou-a “símbolo e padroeira da unidade das igrejas”.

   Leloup diz que o ícone expressa três qualidades essenciais por intermédio das quais Deus vem ao mundo: ternura, misericórdia e compaixão.

   Há uma proximidade harmoniosa entre mãe e filho. Os olhares são graves, olham ao longe e para o interior. Trata-se de uma leitura da proximidade do humano e do divino, de “rosto colado”: em todo ato de ternura, de misericórdia e compaixão, Deus está presente. Com uma mão o Filho representa a própria Trindade, comunidade de amor que gera vida e com a outra mão sela uma aliança e uma amizade plena com o gênero humano, através do sinal mais usado para transmitirmos nosso afeto: o encontro das mãos. “Unidade da divindade com a humanidade”, entende Leloup.

   Para a irmã Maria Donadel, em seu livro “Ícones da Mãe de Deus” (1997), afirma que: “A contemplação desse ícone nos conduz a uma experiência espiritual profunda. Leva-nos a seguir um movimento que parte dos olhos da Virgem em direção as suas mãos. Passa das mãos de Maria para a criança e da criança novamente para os olhos de Maria”.

   Para ela contemplar o ícone é deixar-se levar pelas suas revelações: olhos que contemplam espaços infinitos do coração; a beleza das mãos que não ensina, não explica e nem pede, simplesmente oferece seu filho como Salvador do mundo a todos sem exclusão; o Filho que não é bebê, mas fonte de sabedoria, principio e fim da criação; a boca está próxima da Mãe oferecendo seu sopro divino;

   Que grandiosas inspirações levam a contemplar este ícone como um perfeito sinal da inclusão que se deu com a Encarnação do Verbo que se fez carne e habitou entre nós.

  Quando nos encontramos com pessoas com deficiência fazemos a mesma experiência que o ícone nos traz: presença real de Deus que foi revelada aos pequeninos e escondida aos que se dizem entendidos...

   Leloup aprofunda ainda mais sua contemplação: “Sendo a misericórdia, para os antigos iconógrafos, o lugar privilegiado da Revelação, alguns puderam traduzir palavra misericordioso por ‘matricial’, significando assim que ser misericordioso é ter entranhas de mãe, uma ‘matriz’, para acolher a outra em sua profundeza, permitir-lhe existir e vir à luz. Outro aspecto mais sutil desse ícone é desvelar do que podemos chamar de compaixão (‘compartir [compadecer-se], significando ‘patir avec’ [sofrer com], ‘estar com o outro em seu sofrimento’). O que nos é dado a ver não é nem uma ‘emoção’, nem uma passividade, nem uma revolta diante do inaceitável, mas um ‘sentimento’, uma aceitação, a não dualidade do que a vida pode impor de doloroso. Atrás do ícone da virgem da Ternura de Vladimir estão representados os símbolos da paixão. Esse pressentimento do real como trágico não é triste. É a afirmação de que, se o ‘Amor não é amado’ não ficará menos terno e misericordioso por esse motivo. Se interiorizarmos este ícone da Mãe da Ternura descobriremos que o belo semblante sereno da mulher, a força e a maturidade da Criança não são nada além de manifestações de uma inocência invencível e transcendente: a inocência de Deus na memória complicada do homem”;

   Portanto, neste ícone há toda inspiração necessária para realizar um projeto de inclusão, sob a proteção de Nossa Senhora da Ternura que assim será invocada por todas as pessoas com deficiências como sua padroeira: que Nossa Senhora, a Mãe da Ternura, o único ser que “abraça Aquele que todo o Universo não pode conter” (Santo Efrém), desperte em nossos corações sentimentos de bondade e ternura para com todas as pessoas com deficiência! Amém.

NOSSA SENHORA DA TERNURA, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

Referencia: Domus Dei - Jornal informativo da Paróquia São Francisco de Paula p.6-8 - Nov/Dez 2007.

Um comentário:

  1. Quem não precisa de ternura, carinho e amor na vida? Nossa Senhora da Ternura é esta graça que Deus nos faz colocando para o povo cristão a ternura de seu Filho querido sob os cuidados de uma mulher que é santa, bela, humilde, fiel dócil ao Espírito Santo e que tem muito a nos ensinar! É maravilhoso saber que temos uma advogada tão poderosa junto a Deus!

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