*Nessa dor de Maria se realiza a consumação de todas as
violências abomináveis contra Jesus, as quais Nossa Senhora experimentou em sua
alma, sem poder aliviar ou evitar todo esse sofrimento no caminho do calvário e
na pregação da cruz, tão pouco não pode evitar em si mesma tais sofrimento.
Mais o sepultamento parece ser uma das dores mais terrível, pois esta, Maria já
não sofre em comunhão com Jesus, pois neste momento Ele está morto, ela sofre
sozinha, na solidão e no desconsolo de uma perda que, aos olhos humanos parece
uma perda definitiva para a morte. Todavia sabemos que Maria, assim como os
discípulos deve ter ouvido de Jesus a cerca da ressurreição, mas mesmo sabendo
dessa realidade possível, isso não evitava o sofrimento que ela suportou com
valentia e fé. Mesmo a Cruz de Nosso Senhor, nos dias de hoje, ser para nós
cristãos um consolo, um caminho de fé,
para Maria, naquele momento, ao invés de ser um lenitivo para ela, era a causa
de Sua dor. Deus deu a Maria, Sua filha diletíssima, tudo o que havia de
melhor!
No entanto, em determinadas etapas de sua vida, Deus permitiu a Ela
receber sofrimentos. Como ocorreu na Paixão, quando passou por um tremendo
tormento. Sofreu muito mais do que se fosse Ela própria crucificada, pois a dor
que sentiria na sua crucifixão não seria nada perto do que Ela sentiu vendo o
seu próprio Filho sendo torturado até a crucificação.
**A piedade católica celebra as dores de Nossa Senhora com
os mais diversos nomes: Nossa Senhora das Dores (também chamada Nossa Senhora
da Piedade, Nossa Senhora da Soledade, Nossa Senhora das Angústias, Nossa
Senhora das Lágrimas, Nossa Senhora das Sete Dores, Nossa Senhora do Calvário,
Nossa Senhora do Monte Calvário ou ainda Nossa Senhora do Pranto, e invocada em
latim como Beata Maria Virgo Perdolens, ou Mater Dolorosa), sendo sob essa
designação particularmente cultuada em Portugal.
E por que sete dores? De muitas formas sofreu Maria
Santíssima durante a sua vida terrena, porém sete delas são especialmente
objeto da devoção dos fiéis. São episódios tirados dos Santos Evangelhos e que
formam o caminho de dores da Filha amorosa de Deus Pai, sofrendo em sua alma
padecimentos semelhantes aos da Paixão de seu Divino Filho.
O culto à Mater Dolorosa iniciou-se em 1221, no Mosteiro de
Schönau, na Germânia. Em 1239, a sua veneração no dia 15 de Setembro teve
início em Florença, na Itália, pela Ordem dos Servos de Maria (Ordem Servita).
Deve o seu nome às Sete Dores da Virgem Maria:
1-A profecia de Simeão sobre Jesus (Lucas, 2, 34-35)
2-A fuga da Sagrada Família para o Egito (Mateus, 2, 13-21);
3-O desaparecimento do Menino Jesus durante três dias
(Lucas, 2, 41-51);
4-O encontro de Maria e Jesus a caminho do Calvário (Lucas,
23, 27-31);
5-Maria observando o sofrimento e morte de Jesus na Cruz -
Stabat Mater (João, 19, 25-27);
6-Maria recebe o corpo do filho tirado da Cruz (Mateus, 27,
55-61);
7-Maria observa o corpo do filho a ser depositado no Santo
Sepulcro (Lucas, 23, 55-56).
***Nossa Senhora das Dores surge representada sendo ferida
por sete espadas no seu coração imaculado (algumas vezes uma só espada), dado
ter sido trespassada por uma espada de dor, quando da Paixão e Morte de seu
Filho, unindo-se ao seu sacrifício enquanto redentor e sendo por isso chamada
pelos teólogos de Corredentora do Gênero Humano. É também seu símbolo o Rosário
das Lágrimas (ou Terço das Lágrimas), com 49 contas brancas divididas em sete
partes de sete contas cada. Aparece também frequentemente representada com uma
expressão dolorida diante da Cruz, contemplando o filho morto (donde nasceu o
hino medieval Stabat Mater), ou então segurando Jesus morto nos braços, após o
seu descimento da Cruz (dando assim origem à temática das Pietà).
Nossa Senhora foi concebida sem pecado original, portanto
seria lógico que Ela não sofresse. Tanto é assim que Adão e Eva, antes do
pecado original, não sofriam. Então como explicar as dores de Maria? Depois de
muitas discussões teológicas, os teólogos chegaram à conclusão de que Ela não
foi concebida em função da graça da Criação, mas em função da graça da
Redenção, por isso foi possível a Ela sofrer.
Sabendo que Ela seria Mãe de um Deus-Homem que iria sofrer
na Cruz, no momento que Ela respondeu ao Anjo Gabriel: “Faça-se em mim segundo
a vossa palavra!” Ela estava se dispondo a sofrer toda a Paixão que o Filho
sofreria. Nesse momento Ela assumiu as dores do próprio Filho.
Quando o profeta Simeão declarou que Ela teria seu coração
atravessado por uma espada de dor, quando houve necessidade de fugir para o
Egito – com todos os incômodos da viagem; e no momento em que Ela se deparou
com a perda do Menino Jesus Ela sofre verdadeiramente uma enormidade.
Mais ainda,
ela sofre na vida pública de Nosso Senhor, com todas as calúnias, com todas as
discussões com os fariseus e com todos os ódios que Ela percebia que ia se
levantando contra o seu Filho. Como Mãe, ela sabia e intuía perfeitamente o
momento da Paixão. E Ela sofreu a Paixão inteira de Nosso Senhor de uma forma
mística. De que forma isso se deu? Nós não sabemos, porque não tivemos esta
experiência. Qualquer ideia que façamos do sofrimento de Nossa Senhora na
Paixão ficará muito aquém da realidade. Um sofrimento que em nada se assemelha
ao nosso, Piedade – Catedral de Salamanca. Julgue, pois foi algo muito elevado,
sublime e sobrenatural, portanto de altíssimo grau. Como já foi dito, Maria é
Corredentora do gênero humano. Assim como na origem da nossa decadência está um
homem e uma mulher, na origem da nossa Salvação está um Homem-Deus e uma
Mulher. Deus quis unir os sofrimentos d’Ela aos de Nosso Senhor para que esta
Redenção se tornasse, simbolicamente, mais harmônica e mais completa. De
maneira que temos na festa da Exaltação da Cruz e na memória da Virgem Dolorosa
a união do sofrimento divino de Nosso Senhor com os sofrimentos indizíveis de
Maria.
Então, qual a amplitude da compreensão mística de Nossa
Senhora diante dos padecimentos de Seu Divino Filho? Só para dar um exemplo,
quando Ela ouve aquele misterioso clamor:
- Senhor, Senhor! Por que me abandonastes?
*Reflexão feita por Maria Marta.
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