“Se alguém pedir tua túnica, dá também o teu manto…” (Mat
5,40).
Desde a Antiguidade, o manto representa uma espécie
de “extensão” de seu possuidor, um recurso visível e simbólico para se
mostrar o alcance dos poderes daquele determinado personagem.
Quando uma pessoa perseguida recorria, em seu desespero, a alguém poderoso em
busca de proteção, era costume que o protetor lhe revestisse publicamente com o
seu próprio manto. Em determinados casos, o manto com as insígnias chegava
mesmo a ser “emprestado” àquele que outrora era perseguido, o que lhe dava
salvo-conduto por todo o Reino. Em outras palavras, ser revestido pelo
manto de alguém poderoso significa nada menos que ser adotado, receber as
dignidades de Seu Nome.
Por isso, ao invocarmos a intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus, Nossa Senhora,
pedimos que ela nos cubra com seu manto, ou seja, nos envolva em seu poder
materno, nos adote e nos dê a dignidade de seu nome poderoso, levando-nos a
Jesus, como Elias ao lançar o manto em Eliseu, simbolizando o chamado dele ao
seu seguimento (I Reis 19,19-20): "Elias, partindo dali, encontrou
Eliseu, filho de Safat, lavrando com doze juntas de bois diante dele; ele mesmo
conduzia a duodécima junta. Elias aproximou-se e jogou o seu manto
sobre ele. 20. Eliseu, deixando imediatamente os
seus bois, correu atrás de Elias, e disse: Deixa-me ir beijar meu pai e minha
mãe, depois te seguirei. Vai, disse-lhe Elias, mas volta, porque sabes o que te
fiz." Elias lançou seu manto, símbolo de suas responsabilidades
como servo de Deus, sobre os ombros de Eliseu (leia Nm 20,28). O
simbolismo é muito óbvio. Eliseu recebeu, então, um chamado sagrado.
O manto de Elias significava devoção, comprometimento e dedicação. Quando Elias
lançou sobre os ombros do jovem o manto da consagração, isso foi para Eliseu o
sinal de que Deus o havia chamado para seguir os passos de Elias.
Do mesmo modo, o manto de Nossa Senhora é invocado sobre
nós, pedimos que Ela nos jogue seu manto, nos coloque sobre ele, para sentirmos
também a graça do Espírito de Deus que a envolveu e a fez Bendita entre todas
as mulheres ( Luc 1,42), Graça Plena ( Luc 1,28).
Essa intercessão de Maria é possível, pois após a morte todos os Santos estão
diante de Deus (Luc 16,22; 20,38; 23,42; Fil 1,23; II Cor 5,1; Apo 7,15; 14,4)
e podem interceder por nós, como mediadores secundários que somos ( I Jo 5,16;
Tg 5,16; I Tim 2,1; Fil 1,19; II Cor 1,11), pois no céu oram, louvam e servem a
Deus sem cessar (Apo 6,9ss; 7,4ss;14,1ss; Luc 16, 19ss;II Mac 4,30;15,12-14).
Eles intercedem apoiando-se em Cristo, que vive para interceder e é
o Único Mediador de nossa Salvação ( I Tim 2,5; Heb 7,25; 8,6) e é o corpo
místico da Igreja do qual todos fazem parte (I Cor 12,12.20) ,vivos e mortos
(Rom 14,8;II Cor 5,9; Luc 20,38; I Tes 5,10) , pois a morte não nos separa do
Senhor (Rom 8,38-39), ao contrário, nos une ( II Cor 5,6-8; I Tes 5,10; Fil
1,23).
Diz Isaías 6: “As franjas do manto de Deus enchiam
todo o templo”. Nessa passagem, o manto é a figura simbólica para a
Glória de Deus. Assim, ao invocarmos que Maria nos coloque sob seu manto,
simbolicamente pedimos que ela nos ponha sobre a proteção de sua intercessão.
Imploramos ser revestidos do manto de Nossa Senhora, para
assim como Eliseu, sentir o chamado de imitá-la, de segui-la no amor e
dedicação a Jesus e de como Ela um dia ser elevado no amor ao céu, pois a
escritura diz que "como os olhos das escravas estão fitos nas
mãos de sua senhora, assim os nossos olhos, no Senhor, até de nós ter
piedade. " (Sl 122,2).
Assim, ficamos com os olhos fitos nas mão de Nossa Senhora em oração e no
Senhor esperando sua misericórdia.
O manto da Virgem para nós é fonte de proteção e milagres,
como o manto de Elias, após sua subida ao céu, o foi para Eliseu, que tomando-o
pela invocação do nome de Elias realizava milagres, assim como nós que
invocando o nome venerável da Virgem, a Plena de Graça, vemos Deus realizar
prodígios em nossa vida (II Reis 2, 8.11-15):
8. Elias tomou o seu manto, dobrou-o e
feriu com ele as águas, que se separaram para as duas bandas, de modo que
atravessaram ambos a pé enxuto.
11. Continuando o seu caminho,
entretidos a conversar, eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo
os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num turbilhão.
12. Vendo isso, Eliseu
exclamou: Meu pai, meu pai! Carro e cavalaria de Israel! E não o viu
mais. Tomando então as suas vestes, rasgou-as em duas partes.
13. Apanhou o manto que Elias deixara
cair, e voltando até o Jordão, parou à beira do rio.
14. Tomou o manto que Elias deixara
cair, feriu com ele as águas, dizendo: Onde está o Senhor, o Deus de Elias?
Onde está ele? Tendo ferido as águas, estas separaram-se para um e
outro lado, e Eliseu passou.
15. Os filhos dos profetas que estavam em Jericó,
vendo o que acontecera defronte deles, disseram: O Espírito de Elias repousa em
Eliseu. Foram-lhe ao encontro, prostraram-se por terra diante dele..."
Vemos nesse texto como Eliseu venerava Elias chamando-o de
Pai carro e cavalaria de Israel, invocando a Deus por meio de Elias
realiza prodígios e como os filhos dos profetas reconhecem nele o espírito de
Elias e o veneram prostrando-se, tudo isso encontramos no nosso culto à Santa
Mãe de Deus, a Virgem Maria.
Nós a veneramos como Eliseu venerou Elias, invocamos a Deus
por sua intercessão vendo suas graças em nossas vidas e buscamos levar sua
presença materna, seu espírito, a todos que precisam e como os filhos dos
profetas, nos prostramos aos pés de Maria, pois nela reconhecemos o Templo
perfeito de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
Existe uma diferença em adorar (culto prestado a Deus,
Senhor de tudo, como em Jo 4,24; 9,38) e venerar ( respeito e honra prestado
aos Profetas, Santos e Anjos, como vemos em I Sam 25,23; I Re 18,7; Num 22,31).
Os milagres do manto de Jesus: Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze
anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do manto. (São Mateus 9,
20).
Dizia ela consigo: Se tocar, ainda que seja na orla do seu
manto, estarei curada. (São Marcos 5, 28) aproximou-se dele por detrás e
tocou-lhe a orla do manto; e no mesmo instante lhe parou o fluxo de sangue. (São
Lucas 8, 44).
Se pensarmos como o manto de Jesus era fonte de milagres poderíamos
imaginar como Maria não seria fonte de graças inesgotáveis?
Se um simples toque com fé no manto de Jesus realizava prodígios, imagine o que
não faz uma simples Ave Maria, um toque, no coração da Mãe de Deus? Se o manto
de Jesus era sagrado apenas por tocá-lo durante certo tempo, como não seria
Sagrada e digna de veneração àquela que envolveu o corpo de Jesus por nove
meses e o carregou e amamentou por um bom tempo?
Como não seria fonte de milagres aquela que o envolveu como um manto, que foi
de onde Ele, o Verbo Divino, tirou seu próprio corpo e sangue?
Segundo tradições antigas o manto de Jesus pode ter sido um
presente de sua Mãe. E teria sido cuidadosamente tecido no aconchego de sua
casa a mais preciosa veste de seu Filho Divino.
Esse mesmo manto foi reconhecido como precioso até mesmo
pelos algozes do Senhor, que, admitindo a arte das mãos pelas quais fora
tecido, simplesmente não o ousaram rasgar: "Depois de o haverem
crucificado, dividiram suas vestes entre si, tirando a sorte. Cumpriu-se
assim a profecia do profeta: Repartiram entre si minhas vestes e sobre meu
manto lançaram a sorte (Sl 21,19). "(São Mateus 27, 35).
"23. Depois de os soldados
crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma
para cada soldado. A túnica, porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha
costura.
24. Disseram, pois, uns aos outros:
Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver de quem será. Assim se
cumpria a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte
sobre a minha túnica (Sl 21,19). Isso fizeram os soldados." ( São João
19,23-24).
Indivisível mesmo na hora da Paixão, ele também prefigura a Unidade da Igreja
(Jo 17,20-21; Ef 4,4-6) – como também dos Remidos.
A Unidade tecida pelas poderosas mãos de Maria não pode ser rompida nem mesmo
por aqueles sob as trevas dos maiores tormentos.
A Comunidade tecida pelas mãos da Mãe do Senhor é
reconhecida como preciosa até mesmo pelos infiéis.
Sob o manto de Jesus temos toda a salvação e graça, Ele nos
dá a paz, como lemos em: Aproximaram-se de Jesus e viram o possesso
assentado, coberto com seu manto e calmo, ele que tinha sido
possuído pela Legião. E o pânico apoderou-se deles. (São Marcos 5, 15). Por
isso, ao pedirmos que Maria nos leve a Ele, buscamos ser revestidos desse manto
sagrado tecido por ela de duas maneiras:
1- de acordo com a tradição, Maria fez o manto e o deu a seu Filho.
2- Maria foi o próprio manto do Senhor enquanto este esteve em seu seio por
nove meses.
A Mãe, ao revestir os Remidos com o seu manto, reproduz de
forma carinhosa aquilo que o próprio Espírito de Deus havia feito com ela
mesma: ela nos cobre com Sua Sombra.
Nossa Mãe, a nos cobrir com Seu Manto, designa-nos com o Seu
Nome. Ela, que é reconhecida pela Igreja de Seu Filho como Rainha dos Céus
e da Terra (Apo 12,1) – os mesmos domínios onde, conforme Isaías 6, a glória de
Deus resplandecem – nos dá Seu salvo-conduto para exercermos com poder e
autoridade o Testemunho dos Remidos, transitando livremente por esse mundo,
literalmente revestidos pelas santas e poderosas insígnias da Mãe de Deus.
Assim, os Remidos vivem sob a proteção pública de Sua Mãe,
gozando livremente daquilo que a Ela mesma pertence: a dignidade e o poder
concedidos por Deus.
Ela nos cobre com o manto da justiça que vem de Deus e intercede por nossos
pecados, nossa nudez, para que nos aproximemos de seu Filho, como lemos na
escritura: “Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus, e
coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno” (Baruc 5, 2).
“Passando junto de ti, verifiquei que já havia chegado o
teu tempo, o tempo dos amores. Estendi sobre ti o pano do meu manto,
cobri tua nudez; depois fiz contigo uma aliança ligando-me a ti pelo
juramento - oráculo do Senhor Javé - e tu me pertenceste” (Ezequiel 16, 8).
Jesus nosso amado Senhor Ressuscitado e Glorioso é descrito nas
escrituras coberto por um manto sinal de sua vitória: “Está
vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus” (Apocalipse
19, 13). “Ele traz escrito no manto e na coxa: Rei dos reis e Senhor
dos senhores!” (Apocalipse 19, 16).
Que o Rei dos reis escute nossos clamores e pedidos e que a
intercessão de sua Mãe sempre nos ajude. Amém.
Oração do Manto de Maria, dos pais para os filhos
(Essa oração da Idade Média procura três elementos de proteção para ajudar o
jovem a crescer: O calor do amor, o guiar os passos e o encontro com a verdade.
Naquela época as pessoas tinham um relacionamento natural com os mundos
superiores e a prece era o meio mais eficaz para expressar essa fé e
confiança.)
Ó manto de Maria
proteja meu filho de todo mal
Ó manto de Maria
envie o calor do meu coração para meu filho
Ó manto de Maria
Guie os passos do meu filho na senda da verdade
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A imagem de Nossa Senhora foi tirada da internet e a produção em Power Point foi feita por Maria Marta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário